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Ovar: Memórias da Tanoaria num ciclo de exposições sobre artes e ofícios

O projeto cultural do Município de Ovar que se propõe contribuir para preservar registos e memórias de artes e ofícios, de trabalhos artesanais das gentes do concelho, que passa pelo ciclo de exposições temáticas, que se vão sucedendo com intervalos superiores a um ano na Escola de Artes e Ofícios. Depois da mostra sobre a cordoaria que o Etc e Tal jornal deu a conhecer, a tanoaria foi a segunda arte representada através da exposição “Tanoaria 2.7” que em abril completa um ano aberta ao público.

Ambas estas duas primeiras artes e ofícios (cordoaria e tanoaria), que fazem parte de um conjunto de sete que integram o projeto, têm a particularidade de representar setores económicos com predominância em freguesias do norte de Ovar, entre Arada, Maceda, Cortegaça e Esmoriz, cuja industrialização no caso da cordoaria, ditou o fim de técnicas tradicionais, enquanto na tanoaria, ainda que praticamente reduzida a núcleos museológicos em Esmoriz, a exemplo da “Farramenta”, uma tanoaria fundada em 1912, ou da “Ramalho” fundada em 1952, as técnicas de fabrico ancestrais estão ainda presentes, como se pode observar na exposição “Tanoaria 2.7”, com organização, conceção, conservação e restauro dos serviços da Divisão de Cultura da Câmara Municipal de Ovar.

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Dividida pelas diferentes fases do fabrico da tanoaria, a mostra, ilustrada com fotografias da autoria de João Cunha (in, A Arte da Tanoaria, Ovar, 2002), começa por uma breve abordagem sobre a “atanomia do vasilhame” com a designação de cada elemento que o compõe, da aduela ao javre, do meão ao xintel.

Mas ainda antes dos visitantes avançarem para as fases seguintes, do serrar, engradar e secar, com as ripas por medidas colocadas ao ar livre em características torres de formato hexagonal ou quadrangular. Está transcrita uma curiosa história sobre o matemático e astrónomo Johannes Kepler que, “durante o seu casamento abandonou a festa para ir estudar a operação de cálculo que um vinicultor estava a realizar nas pipas que continham o vinho destinado à boda.

A forma das pipas não era cilíndrica e o vinicultor usava uma vara inserida diagonalmente para calcular o seu volume”. Estudos que resultariam na obra de Kepler “Nova Stereometria Daliorum Vinariorum” (Novo Método de Medição de Barris de Vinho), que foi publicada em 1615.

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O visitante familiarizado com a história de Kepler, depara-se então com uma tabela de medidas do tonel (1000 litros) à meia pipa (225 litros), ou do quarto de pipa (125 litros) ao oitavo (64 litros). Medidas de pipas ali expostas, bem como as diferentes fases da sua construção, com apoio de imagens de vídeo em que se pode ver cada uma das várias fases que integram esta exposição.

Depois de mostrar as operações de serrar, engradar e secar as ripas que resultam de tipos de madeira que podem ser observados, como o Carvalho, considerada das melhores madeiras para envelhecimento de vinhos, sobretudo generosos e aguardentes. Enquanto as de Castanho são indicadas para o envelhecimento e transporte de vinhos. Já as de Eucalipto são usadas para vasilhame de menores dimensões e as de Acácia da Austrália também são destinadas ao transporte de vinho de consumo.

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Em cada setor das fases de produção dos vasilhames de tanoaria, estão igualmente expostas, não só cada uma das peças ou partes que constituem o pipo ou vasilhame e respetivos nomes porque são identificadas, como os mais variados tipos de ferramentas artesanais para cada operação, como nomes, que vão desde, as raspilhas e supilhas, à bigorna, chaço, enchó de arrunhar, serra de rodear ou marreta de bastir e moço ou grampo, entre tantos outros nomes de acessórios usados por sucessivas gerações de operários tanoeiros.

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De operação em operação, pormenorizadamente apresentada nesta “Tanoaria 2.7” na Escola de Artes em Ovar, destaca-se ainda a fase “levantar ou armar” em que o pipo ganha forma, com o apoio de uma peça de pedra de granito, circular, designada por “Praça”. Uma fase em que o fogo é utilizado para “afogachar ou deitar ao fogacho”, bem como “agalhar”, “vergar” ou “abafar”.

A exposição termina com imagens de uma época em que o Rio Douro era o cenário natural para o transportes e escoamento do Vinho do Porto para o mercado nacional e internacional em pipas da “Tanoaria de Ovar para o mundo”.

Texto e fotos: José Lopes (*)

(*) Correspondente “Etc e Tal Jornal” em Ovar – Aveiro

01mar17

 

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3 Comments

  1. claudio sotero caio

    Nao podendo viajar a OVAR pediria notícias de MANOEL INACIO (IGNACIO) DE ANDRADE meu AVÕ IMIGRANTE PELOS ANOS 1850 POIS MEU PAI NASCEU EM 18 90 . SEU PAI EMIGROU PARA PERNAMBUCO BRASIL, TERRA DE ENGENHOS DE AÇUÇAR.

  2. CCLAUDIO SOTERO CAIO

    ESTOU HÁ ALGUM TEMPO A BUSCAR NOTICIAS SOBRE MEUS AVÓS TANOEIROS QUE CHEGARAM A PERNAMBUCO PROVAVELMENTE NA ÚLTIMA METADE DO SÉCULO XIX. MEU AVÔ ERA MANUEL INÁCIO DE ANDRADE , MAS MINHA AVÓ REGISTROU NO BATISMO MEU TIO MAIS VELHO E MEU PAI COM OS NOMES DOS SANTOS, SENDO QUE SOMENTE O MEU TIO MAIS MOÇO, O TERCEIRO, FICOU COM O NOME DE MEU AVÔ, MANUEL INÁCIO DE ANDRADE. TODOS OS 3 APRENDERAM A ARTE DE TANOEIROS E ERA O MEU PAI O MAIS CONHECIDO TANOEIRO DA ZONA DA MATA DE PERNAMBUCO. BUSCO EM VÃO ATÉ AGORA ENCONTRAR O NOME DO PAI DO MEU AVÔ QUE PROVAVELMENTE CHEGARAM ENTRE OS 39 TANOEIROS DE OVAR QUE CHEGARAM A PERNAMBUCO NO FIM DO SÉCULO XIX. MEU PAI NASCEU EM 1890. GOSTARIA DE TER ALGUMA PISTA SUA SOBRE OS ANDRADE TANOEIROS DE OVAR DO FIM DO SÉCULO XIX.
    OBRIBADO

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