Bruno Ivo Ribeiro
Se escreves com força, diminui a carga e aumenta no amor. Investes mais e melhor, e vives mais e melhor. Ter uma letra dura é ter uma pedra no coração. As gomas adoçam os diabetes, mas também os corações. Precisamos mais de emoções, do que de mentalidades e morais.
A escrita é um estado de alma. De várias almas. A escrita são as almas por escrito. São a escritura das e nas almas. Escritura das almas de quem as escreveu que almeja em quem lê.
Escrever é uma pura arte de transcrever. É pôr por escrito o que nunca se pode ou pôde sequer pôr ou se conseguiu antes. E a diferença entre arte e coisa nenhuma…é a diferença entre mar e céu. Ambos estão lá, mas é num que se espelha o outro…
A escrita é portanto, um comportamento bifásico entre o ser e o estar. É um meio-termo indistinto entre o escritor e o autor.
Se quem escreve é quem autoriza o que transcreve, então o autor é só um escritor de uma sublimação maior ainda que a própria escrita, ou mesmo, a sua condição vulnerável, anímica e exuberante.
A exuberância está nos autores e não nos termos.
Essa exuberância que escrevo, é uma exuberância como caso de uma flor. Está ali, está lá, e é exuberante pela sua bela simplicidade que irradia o sol, o mar e todo um mundo que se estende aos teus horizontes.
Se escrever é uma arte, então nunca o fui. Mas talvez o tenha sido, porque todos afinal o somos, nem que seja num recado deixado num papel para a mãe ou para o enamorado cobre o jantar ou a roupa que é preciso pôr a lavar. Afinal escrever está aí, e amar está nos pequenos gestos.
Ninguém gosta de um grande bouquet, se durante os outros dias só levamos estalos, quer eles sejam literais ou metafóricos.
O amor como a escrita está aí, em cada um de vós, e a escrita essa propriamente dita só se distingue da literatura designada, quando o vocábulo se alarga. Se o vocábulo se alarga, a leitura enriquecesse. Mas não tem que ser tortura como parece estar no nome de literatura.
Pelo contrário, a literatura deve ser uma escrita que vai mais além. …ainda mais além que a própria escrita, que sem deixar de o ser, escrita pela arte e forma, é sentimento no alcance pelo reflexo.
Bate em nós. Bate em cada um de nós. Está de facto em nós, em todos nós.
Todos escrevemos hoje, e antes também se faziam prosas e poemas. Os mais poéticos de antes eram os românticos que chegavam do trabalho esgotado, e sem televisão, se sentavam com os filhos à lareira…a conversar. Querem melhor poema que esse?
E chamam-lhes de iletrados, analfabetos e outras coisas tais e tantas. Mas…se calhar esses “analfabetos” tenham mais a ensinar aos que hoje escrevem…vogais e consoantes que não passam disso, a estes novos ditos poetas, escritores e aculturados, desta ocidentalização de mentes, e perda de sentimentos e consciências.
Não procurem mais nos certames os livros que não ocupam as falhas nas prateleiras vazias…preencham essas prateleiras em cada um, em cada lugar, em cada tempo…sempre mais e mais…sempre mais e mais…como quem escreve dor, mas com todo o seu amor. Não só escritor ou escritos…mas talvez, mais como humanos que tal?… deixa mais post-its…
Foto: Pesquisa Google
01mai17