Menu Fechar

Apelo à solidariedade coletiva

Alguns de nós somos pais, sem saber do amanhã dos nossos filhos. Os nomes são fictícios para não expor os intervenientes, e o meu anonimato deve-se ao simples facto de, dado o meu trabalho, ter de manter a imparcialidade. E pouco ou nada é o que posso fazer para ajudar – a burocracia é um muro de ferro.

“Manuel” chegou à associação há 4 meses atrás. A tristeza vinha-lhe no olhar, no cansaço, no silêncio. Almoça e janta aqui, pode tomar duche todos os dias, lavar algumas peças de roupa (por ordens superiores, somos obrigados a limitar o uso da máquina). Encerramos aos fins-de-semana. Um dia agradeceu-me por poder tomar um duche diário, disse que em casa dos pais só podia tomar um por semana, e com o pai a contabilizar o tempo que demorava. E, assim, pouco a pouco, o “Manuel” foi contando a sua história de vida – real, injusta e dramática.

Filho único, saiu de casa ainda menor de idade. Não aguentava as ofensas e o abuso psicológico que o pai lhe infligia. Saiu pouco depois de lhe ter sido diagnosticada a incurabilidade da doença rara que padece. Durante todo esse tempo não teve Natal com a família, sequer um telefonema de ‘feliz aniversário’. Passaram 20 anos, quando regressou a casa. Reencontrou a “Maria” numa situação que só o destino e o divino pode explicar, e, de saudades, regressou ao norte para estar perto dela. Conseguir trabalho passou a uma luta diária, mas infrutífera. Em casa, sofria com o pai controlador e psicologicamente violento que tem.

Um controlador é incapaz de demonstrações afetivas – o “Manuel”, desde criança, nunca recebeu um abraço, um elogio, um beijo, um gesto de carinho do pai. O controlador vitimiza-se, desculpabiliza-se da sua responsabilidade (a culpa é sempre dos outros), é avarento. O seu discurso para com as pessoas fora do núcleo familiar é o de culpar e ofender o filho – um controlador venderia a alma do filho ao diabo se essa fosse a forma de entrar no céu. E, pela minha experiência profissional, acredito que a mãe é submissa, incapaz de defender o filho, totalmente dependente do controlador, não tem acesso à conta bancária, sequer tem cartão MB ou telefone (fixo ou móvel). Tudo está sob o controlo do marido.

O “Manuel” está a viver na rua, há 4 meses. Não há drogas nem álcool. O que há sim é um projeto de vida: arranjar trabalho e ir viver para junto de “Maria”. Mas, sejamos realistas: ninguém dá trabalho a um sem-abrigo, ninguém! Os 180€ do RSI são insuficientes para alugar um quarto, para ter uma morada, e não, não há apoios.

Assim, apelo à solidariedade das gentes de Santo Tirso e de Vila das Aves, e arredores, para ajudar o “Manuel”. Estendo o apelo à Câmara Municipal e às Juntas de Freguesia, porque da rua que tem o mesmo nome da capela Sto. André, daí não vêm milagres, isto apesar do pai controlador ter posses até para dar um T1 ou um T2 ao filho, para assim este poder recomeçar a sua vida, ao lado da mulher que ama.

Em Guimarães, duas adolescentes conseguiram ajudar um sem-abrigo, dar-lhe casa e trabalho, com a ajuda solidária de todos. Apesar do “Manuel” estar determinado a viver perto de “Maria”, em uma Vila Verde no distrito de Braga, é a vós tirsenses e avenses a quem apelo. Foi aí que ele cresceu, e é aí que vive a família dele, a tal de onde não se pode esperar milagres, sequer vergonha. Unam-se em solidariedade.

Ele precisa de sair da rua. Esta situação foi partilhada com os partidos políticos e com o Presidente da República, mas é tudo moroso, e esta é uma situação de emergência social, que deixa a vida de duas pessoas que se amam suspensas, sem esperança. Peço-vos – deem esperança e futuro a este amor, a estas duas vidas.

Texto: Leitor devidamente identificado

01jun17

 

Partilhe:

1 Comment

  1. Sandra Gomes

    Uma verdadeira tontice – acreditar que a comunidade se iria unir para ajudar duas pessoas que se amam e que não têm como. Se o pai dele tivesse vergonha na cara, mas não tem nenhuma, nunca teve, e finge-se para os tantos que é bom pai, quando nem esse título, de pai, merece. Tivesse eu conhecido este psicologo ter-lhe-is dito do tamanho da tontice. Não acredito na solidariedade da comunidade, ainda menos sendo o tema «amor». É… a luz da esperança já se apagou em mim. Tornei-me céptica em relação à bondade das gentes, céptica em relação a muita coisa, aliás.
    A propósito, eu sou a “Maria”.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado.

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.