Mário Rocha
Nos dias 8, 9 e 10 de Junho no Parque da Cidade do Porto ocorreu o festival de música Nos Primavera Sound. Estive presente nos três dias e destaco um concerto: o de Richard David James ou, artisticamente, Aphex Twin.
Foi um concerto de duas horas de música planeada e imprevisível. Controlando genialmente o som nas suas variadas vertentes, houve momentos, passagens assustadoras, cómicas e consequentemente atenuantes, perturbantes e, sobretudo, intensas e violentas. Foram 120 minutos de completa criação musical onde Aphex conseguiu provocar uma experiencia única nos espectadores incluindo eu.
O prodígio de AT fez com que se tornasse numa entidade capaz de obter domínio sobre quem o via e ouvia. Digo isto porque através da sua distinta habilidade mental e técnica conseguiu alterar a perceção do momento – auditiva e visual – de quem assistia. Como? Acelerando, abrandando e confundindo. Remetendo para o início desta rubrica, ele, desta forma, assume uma posição imprevisível e, portanto, única e sobretudo livre.

É de total importância realçar o fato de ter sido um concerto de música eletrónica para disfrutar – apreciar – analisar – pensar. Não foi um concerto, como em princípio as pessoas assim o esperavam, para dançar (se bem que houve partes de extremo e afincado ritmo). Isto vem a propósito do “normal” pensamento que toda ou quase toda a música eletrónica carece de melodias trabalhadas, da existência de um conjunto de instrumentos que enriqueçam a própria música e, assim, que somente tenha ritmo mais ou menos acelerado através de batidas pulsantes. Não. Foi um concerto extremamente completo do ponto de vista musical e ficou na cabeça de todos que a música eletrónica não é só bass.
Além disto, ressalvo a componente visual do espetáculo. Todos os robots, strobes e lasers fizeram com que toda aquela música espacial e planetária atingisse uma dimensão sinestésica e cinética conquistando algumas interjeições por parte dos espectadores. Ainda, podendo achar que o concerto de AT estava a ser delirante e nada físico, o artista projecionou algumas das figuras públicas portuguesas do momento de forma profanada obtendo, também, um carater cómico e aliviante.
Por tudo isto, foi mais que um concerto de música e luz. Foi, absolutamente, uma obra de arte que consegui presenciar tendo como professor, ou melhor, educador Richard David James – Aphex Twin.
Foto: Pesquisa Google
01jul17