Júlio Cardoso. Ator, encenador, criador, um homem multifacetado. Com setenta e nove anos, recentemente comemorados, o Senhor da Seiva Trupe, mas também de outras instituições que fundou e ajudou a nascer, não tem papas na língua. Fala com emoção, deixa alertas, faz reparos, aplaude, “mexe-se” pela vida e pelo teatro.
Natural de Ponte da Barca, mas desde a sua juventude a viver no Porto, Júlio Artur Azevedo Barreira Cardoso, de seu nome completo, “viu viver sentindo”, as agruras do final da II Guerra Mundial, ainda hoje se lembra dos seus colegas de pés descalços… com fome.
Os anos 60 foram para ele, e para muitos que viveram esses tempos, uma verdadeira revolução. É nessa altura que se apaixona e, pouco mais tarde, se casa com o Teatro.
Funda, com António Reis e Estrela Novais, a 11 de setembro de 1973, a Seiva Trupe, onde ainda trabalha, e lá conhece aplausos e “bravos” como ator, encenador e criador. O “Cálice de Porto” é o êxito que faz catapultar uma companhia que, como salienta, foi pioneira do teatro independente em Portugal.
Júlio Cardoso tem também com a Seiva Trupe, uma das grandes desilusões da sua vida, desta feita com a lusa Justiça, depois da companhia ter sido despejada do Teatro do Campo Alegre. “Um processo que era para durar meses, arrasta-se ainda pelos tribunais”. E já lá vão quatro anos…
O ator, encenador, criador e fundador da Cooperativa Árvore, no Porto – onde realizamos esta entrevista vídeo-gravada – fala da sua cidade e do seu país, o qual, em seu entender “está bem entregue à Geringonça”, defendendo, contudo, e com unhas e dentes, a tardia “regionalização”.
Júlio Cardoso, na primeira pessoa do singular. Um homem aberto, sabedor, guarda os êxitos do passado para o passado, preferindo falar do que está a fazer ou do que prepara para o futuro. Diz-se um homem simples… “um átomo”. Considera que o Porto tem um dinamismo cultural efémero”; que se “faz muito teatro”, mas “anda tudo a correr”; que a “Invicta” “foi” (“foi”- repete) uma das “plateias mais difíceis da Europa”, e dá um conselho aos jovens que hoje abraçam a arte de representar: “Devem ser seres sempre insatisfeitos. Buscar o mais possível a verdade… que é impossível. E depois definir se o teatro é o seu futuro, ou não.”
Júlio Cardoso, o homem que recebeu inúmeros prémios, entre os quais, a Medalha de Mérito Cultural da Cidade do Porto; Prémio Carreira, Medalha de Mérito Distrital – atribuída pelo, então, Governo Civil do Porto-, Prémio Carreira Fantasporto e Prémio Nacional de Teatro -. Ruy de Carvalho… em discurso direto, a seguir, numa conversa animada, interessante… inteligente!
Texto e entrevista: José Gonçalves
Fotos e vídeo-gravação: Pedro N. Silva
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