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Chega de blá-blá!

José Gonçalves

O “blá-blá” é o do costume e, pior do que isso, vai tornando-se habitual. Chega-se ao ponto de se estar farto de ouvir falar do mesmo, e nada se fazer de concreto para, de uma vez por todas, e sem interesses político-económico-partidários, se resolver a questão dos incêndios florestais. Aos que promovem esse “blá-blá” costumeiro, que lhes servia de exemplo a intervenção do Senhor Presidente da República, no passado dia 17 de outubro de 2017.

Se incendiar, de forma voluntária e consciente é um crime, negligenciar também o é. Como, também o é, o laxismo de certos responsáveis pela floresta em Portugal, com destaque para certos autarcas.

Quer queiramos quer não, as pessoas deixaram de saber conviver com a floresta. A maior parte dos habitantes dessas recônditas terras são idosos, e os novos que lá chegam não têm uma noção real de como tratar de algo precioso que têm ao seu dispor, mas que devem saber respeitar, lidar… criando, no fundo, um equilíbrio ambiental que não permita o acidente involuntário, o fogo e a desgraça.

E não sabem, porque ninguém lhes explica. Dá muito trabalho! E quem lhes devia explicar? os autarcas, os bombeiros, a Proteção Civil que, numa ação conjunta – inclusive com as escolas – poderiam desenvolver amplas ações de prevenção e de ensino de como tratar dos terrenos (muitos dos quais abandonados, mas sobre os mesmos as autarquias têm referências), de os limpar, de como e quando fazer “queimadas”…

Quantos autarcas, nas últimas eleições locais, destacaram nos seus programas a questão florestal? A importância da floresta no contexto dos seus PDM? E outras questões relacionadas com o tema, hoje pertinente devido às tragédias ocorridas no passado dia 15, assim como em Pedrógão, e que deveriam estar- mas poucas vezes ou nunca estiveram – no centro do debate autárquico, principalmente nas localidades onde as manchas florestais são significativas, pela sua dimensão e pela importância que assumem para o desenvolvimento harmonioso das suas terras?

Deixo, assim, para os técnicos as técnicas de combate e prevenção aos fogos florestais, as quais deviam explicar às populações mais vulneráveis a esses riscos. Deixo para os políticos as medidas a tomar que há décadas não são tomadas e que, mesmo assim, não são, por isso, penalizados nas urnas… de voto.

Deixo para os “inteligente de ocasião”, que ainda não viram uma labareda ao pé de si, as conversas de café que partilham no Facebook, arquivando ideias, soluções e ataques do mais estúpido e canibalesco que há, envergonhando qualquer ser humano minimamente inteligente.

Deixo ainda para os Bombeiros uma palavra de apreço, curvando-me pelo seu altruísta e abnegado trabalho, que não só acontece aquando dos fogos florestais, mas no seu dia-a-dia, e que é desprezado por quem nas alturas dos mortais e mediáticos incêndios lhes bate nas costas e os, hipocritamente, homenageia.

bla-bla

Mete-me nojo os comportamentos de certas pessoas, algumas das quais – impunemente – riem-se a bom rir de tudo o que se passa, quando, estrategicamente, estão por detrás do “gatilho” que faz acionar os fogos. Esse(a)s nunca serão culpado(a)s seja do que for, e se, algum dia lhes apontarem timidamente o dedo, terão processos dez vezes mais complexos que os da “Operação Marquês”, tudo isso para que a culpa morra solteira. Duvidam?

Não duvidem. E não duvidem porque não é só aqui, neste Portugal à beira-mar Mal plantado que tal acontece. A “fama” vem de longe e só agora começa a ganhar tradições e facilitadas raízes entre nós. “Facilitadas” porque a Justiça é lenta, “trabalhosa”, burocrática, inconsequente, arquivista, passiva e, no seu próprio seio, turbulenta e masoquista!

Não vou alongar-me mais. Estou farto de ver/ler dossiês acerca de incêndios e, como tal, não quero contribuir com mais um. Resta-me, uma palavra – como já o fiz aquando da primeira tragédia, a de Pedrógão e arredores – de singela mas sentida homenagem aos familiares e amigos das vítimas mortais destes atos de terrorismo e de negligência que são imperdoáveis.

Eu não sei perdoar e já não vou a tempo de o saber… já tenho idade para ter juízo, assim como juízo deviam ter outras pessoas que o perderam mal se viram com um qualquer poder nas mãos… o poder de, egoisticamente, fazer mal, até mesmo aos seus.

Foto: pesquisa Google

01nov17

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