José Luís Montero
Não tenho a culpa. Não sei se a culpa existe; não sei se o culpado tem culpa. No entanto, Catalunha está órfã. Não fui, nem sei quem foi que fez desaparecer os pais ou se eles, alguma vez, existiram. Não tenho memória histórica do seu nascimento, mas, pode ser que nascera num berço escondido ou num palheiro indeterminado tal como Jesus, O Cristo. Desde menino que oiço que a História se repete. Não sei se se repete, sei, no entanto, que os políticos, os que comandam o presente, repetem com frequência e vaidade a asneira; e quanto mais forte é a asneira, mais votos parece que cativam.
Mas, a asneira protagonizada pelo governo autónomo catalão duvido que aporte votos e presenças amplas no Parlamento autonómico. O comportamento de Puigemond e afins, não foi uma asneira; foi, é o maior dos carrosséis da Feira dos Disparates. O cavalo galopante do carrossel, não é um cavalo; é a asneira mascarada de cavalo. Contemplei o espetáculo que alguém mais que estranho, estranhíssimo deseja que seja dantesco e não enjoei; enojei-me.
Onde está a culpa? Onde está o culpado?… Eu não fui, nem sei onde mora. Talvez tenha um nome simples; comum e se chame: Desejo de Poder. Existe um historiador célebre; considerado como um nome fundamental na historiografia hispânica. Reconhecido pela Universidade de Barcelona em 1994; nomeado Doutor Honoris Causa em 1999 pela Universidade de Lérida e galardoado com a Cruz de São Jordi, também, em 1999 que se chama: John H. Elliot que declarou de forma simples e concisa: “desde os anos de Pujol falseia-se a História na escola.” E foi permitido e tolerado não só pelo ex-Presidente Autónomo, foi visto e fecharam os olhos e ficaram mudos todos os Governos de Espanha. Muitas das vezes que o PSOE ou o PP governaram precisaram do apoio parlamentar do Partido de Pujol. Os Governos espanhóis fecharam os olhos e permitiram que o engano e a ignorância tivessem lugar cativo nas carteiras escolares. Onde está a culpa? A culpa mora na Rua do Desejo de Poder s/n… É vizinha da Ambição. É prima de carne e osso da Mentira.
E hoje temos o exército universitário a manifestar-se pelas ruas gritando, juvenilmente, “Madrid me come” ou alguma alarvidade como Madrid nos invade…Somos uma Nação! Sim, nasceram na Rua Direita Caminho da Ignorância. São a nação da ignorância fomentada e projetada. Sinto pena. Uma terra que deu Salvador Dalí ou Juan Gotysolo, hoje, para se fazer notar no mundo mostra Pep Guardiola. Pena e dor. Dor e pena. Catalunha não está órfã; o problema é que deixou de parir. Não criou. Passou os quarenta anos da chamada Transição espanhola exibindo a gravata de Europa como portador único em Espanha e -agora- quando apareceram os descamisados da formação, trocaram a vaidade da gravata única pela pá que levanta muros; cria xenofobias; separa Homens; enterra ideias e civilização.
A culpa, também, é do Governo Espanhol e sinto pena e dor; e dor e pena. Como pode um Governo “ignorar” uma situação de engano no campo da educação?… Se Puidgemond é preso pela sua responsabilidade secessionista, pelo menos, todos os ministros de Educação de todos governos de Espanha desde a Transição deviriam acompanha-lo na viagem ao presídio. Mas, sinto pena e dor e vice-versa porque nenhum dos governantes criou Cervantes; criaram Suárez, Calvo Sotelo, Gonzalez, Aznar, Zapatero e Rajoy; criaram o Poder como centro onanista. Criaram adictos à manjedoura da burra.
Existiu uma canção de grande êxito nos primórdios da Transição espanhola que se chamava “Libertad sin Ira”. Dizia-se que era uma canção projetada para fomentar uma transição doce e apócrifa. Agora, quando vejo aqueles anos, penso que essa canção não logrou o objetivo porque a que venceu chama-se: “La España Nuestra Será Ignorante.”
Foto: pesquisa Google
01nov17
Gostei muito de ler este texto que, para além de analisar racionalmente a situação que se vive aqui ao lado, extravasa esse âmbito. Ou seja, vai mais além e visa a sede de poder do ser humano no geral. A ideia eufórica de progressão das sociedades traz sempre colada a si a regressão, daí a ideia-feita “a historia repete-se” e muito maquinalmente rematamos com “o homem nada aprende”.
E sem uma história nova, não há progresso.
Como sempre pragmático, assertivo e intelectualmente honesto. Ainda há jornalismo sério – obrigada.