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A OLARIA OVARENSE AO LONGO DOS TEMPOS

(REGISTO)

Depois da cordoaria e da tanoaria, “Olaria 3.7” foi a exposição que deu sequência a esta mostra temática relacionada com as artes e ofícios tradicionais do concelho de Ovar que esteve patente até ao fim do ano na Escola de Artes e Ofícios, despertando memórias desta atividade, que a Divisão da Cultura, Desporto e Juventude da Câmara Municipal de Ovar se propõe preservar, como, “uma herança de séculos da arte tradicional de moldar o barro”. Uma exposição que deu a conhecer as técnicas e os instrumentos usados neste ofício, que, “além do seu cariz económico, representou, sobretudo, uma forma de vida”.

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José Lopes

(Texto e fotos)

Inaugurada a 20 de abril, a exposição sobre a olaria, foi mais uma oportunidade, proporcionada pelas fontes documentais que a tornaram possível, para se conhecer elementos históricos e arqueológicos deste património, cuja produção artesanal desta arte ancestral em Ovar, chegaria até finais dos anos 80, sobrevivendo apenas alguns artesãos de cerâmica com técnicas de produção mais contemporânea.

Entre as várias dinâmicas oferecidas pela gestão municipal da Escola de Artes e Ofícios, um edifício resgatado das ruinas em que funcionou uma antiga fábrica de papel movida pelas águas do rio Cáster, ali ao lado da Fonte Júlio Dinis, no lugar do Casal. A exemplo das mostras sobre as anteriores temáticas, os visitantes encontram muita informação disponível, incluindo em vídeo, como resultado da profunda recolha de arquivos e colaboração de museus e diferentes entidades e instituições ou mesmo de particulares.

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Este projeto da Câmara Municipal de Ovar, que pelo longo período em que se mantem cada uma das exposições temáticas ao longo de cada ano (iniciado em 2014), deveria merecer mais atenção na articulação com as escolas para visitas de estudo. No caso da olaria, o desafio foi identificar locais no concelho de Ovar associados à extração de argilas, como os “barreiros” que deram mesmo origem à relação com a toponímica. Assim foi designado local do Barreiro, no lugar de Cabanões – São João de Ovar, em Esmoriz, e no lugar do Cadaval, em Válega. Já como nome próprio de lugar, o Barreiro está identificado em Maceda e São Vicente de Pereira Jusã.

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No entanto as extrações de argila no concelho de Ovar e utilizadas nas olarias locais, eram de “barro pobre”, uma argila mais arenosa, como se podia observar e comparar nesta exposição, que exigia ser misturada com o chamado “barro de liga”. Um barro que era proveniente de Vagos, que tinha maior “plasticidade e maleabilidade”. Matéria-prima que á época era transportada pela ria, “em barcos mercantéis até ao Cais da Ribeira e Carregal, e daí conduzido em carros de bois para as oficinas”. Jazidos que se esgotariam em Ovar no caso do “barro pobre”, passando a ser adquirido em Águeda, “com a particularidade de apresentar melhor qualidade que o proveniente da região de Ovar”, mas também se esgotaria o “barro de liga” de Vagos, passando a vir de Bustos e Esgueira.

Nesta viagem ao longo do tempo pela olaria ovarense, foi possível observar exemplares de “formas oláricas” que evoluíam segundo as necessidades das comunidades, como as tipologias: bilhas, cântaros, cantil, púcaros, jarros, tigelas, alguidares, panelos de pingue, púcaros para resina, vasos, taças, pratos, canecas, potes, mealheiros, etc. A algumas destas peças de loiça para uso utilitário, juntaram-se outras designadas por “materiais de construção”, com uma detalhada área da exposição Olaria 3.7 dedicada à produção de cerâmica de construção também no concelho de Ovar, como foi a característica produção da Telha da Regedoura, que existiu em Válega. À “telha de canudo” ou Telha da Regedoura veio a juntar-se a produção de telha “marselhesa”, mas as fábricas de cerâmica de construção industriais, “foram substituindo os métodos de produção manuais por métodos mais mecanizados”, capazes de grande capacidade de produção que foram deixando a típica olaria artesanal retida em algumas das memórias reunidas em mais esta mostra sobre artes e ofícios tradicionais de Ovar.

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Para melhor se compreender a importância que chegou a ter a olaria ovarense, por exemplo no “mercado da invicta”, mereceram ainda destaque nos textos disponíveis as pesquisas, de que, “a partir do século XVIII são inúmeros os fornecimentos cerâmicos provenientes de Ovar que dão entrada na barra do Douro”, como louça que “veyo do Var”, que resultaram em gastos para a Câmara do Porto para a sua aquisição, “por exemplo em 1749, doze mil e novecentos reis e, em 1751, foram liquidados oitocentos reis em uns carretos de louça, estando incluídas as despesas de transporte de barco”. Fragmentos da história que se estendem igualmente à relação com a Ria de Aveiro e aos contributos da arqueologia no estudo da olaria ovarense que em síntese esta exposição trouxe à memória.

01jan18

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