José Luís Montero
Beija-mão clerical. O Presidente da República emana afetos. Beijar a mão de padres-curas numa República que em certas coisas ainda está a fugir do nacional-catolicismo, é sustentar um passado-recente vergonhoso. Andam os nacionalistas catalães a falar de República com a boca cheia; eles andam e o clero catalão também. A bênção divina parece que se encontra em todos os caminhos, no entanto, em 1910 quando a arraia-miúda arruou pelas Praças e ruelas não procurava beija-mãos; atacava uma nobreza corrupta e um clero estrangulador e proclamou uma República Laica. A máscara presidencial que enganou a quase todos, caiu; desfez-se. Aparece um novo ano e entramos num Portugal velho. Agora, a Presidência enxerga as necessidades da direita que depois do poço onde situou a sociedade portuguesa, anda na desesperação organizativa e entre Rios e Santanas pretende reverdecer alguma plataforma que se suponha capaz. Não sei se com mais ou menos beija-mãos.
É Inverno e o clamor pela chuva inunda as Almas que criam batatas; alimentam animais e dão cor aos campos e às serras. Mas, durante o Inverno, aparece a melancolia; brota a Poesia da pluma dos poetas tristes e as crianças, depois das festas natalícias quando o vinho novo se abre, o celeiro está cheio e o porco guincha desesperadamente a agarrar-se à vida, reencontram-se com os professores que regressaram para continuar a sua monótona rotina do programa escolar. Educar é uma palavra que anda nas bocas do mundo; formar é uma palavra-conceito que se perdeu algures nas mentes ilustres. E pela monotonia e o tédio não se chega ao ponto alquímico do conhecimento. Educa-se…, mas, educar é uma coisinha que compete ao meio familiar e não ao meio escolar…. O tédio escolar e outras programações podem gerar doutores de micro-sociedades envaidecidas, mas, não procura o Homem integral; não transmite Conhecimento.
O Inverno galopará e quando chegue a Primavera com novos calores, além dos carrinhos motorizados para os turistas, as terras que ainda tenham alimento para o lume dos fogos, viverão novas apocalipses que não serão revelação; não terão purificação; implantarão, novamente, o desespero; a desolação e a pobreza individual e social. Os políticos mais uma vez ultrapassados pelos factos inventarão discursos e algum cairá depois de uma falsa purga. Os números que pretendem esclarecer o que não tem explicação ou se a tem ficará no alto segredo dos deuses, encherão a Comunicação Social que passará o tempo à procura do fósforo maldito como se o fósforo fosse a cabeça assassina. Pobre Natureza; pobre Humanidade.
Entretanto, algum escritor com segundos, minutos e horas de Televisão lançará um livro que descobre que a Couve Portuguesa também se pode cozinhar com alho, pepino e bom azeite na frigideira. A Cultura festejará; as conversas virtuais girarão em torno à boa-nova e o grande problema nacional serão os e-mails intimistas, como ou sem mulheres, do futebol. Aparecerá um micrófono a indagar se uma ou outra senhora foi ao Estádio da Luz com um ou outro senhor ligado ao Benfica ou a qualquer outra coisa. O Correio da Manhã, escandalizado, pendurara no seu bengaleiro mais uma medalha de profunda investigação jornalística e o Sr. Marques terá mais monólogos no Porto Canal. O problema de a bola não entrar na baliza está relacionado com o número de telefone da senhora que foi ao futebol com um senhor e – não se pode esquecer – com o general, doutor, bruxo da Guiné que mostra os pés descalços nas entrevistas.
Aparecerá, então, um novo selfie do Marcelo Rebelo de Sousa na Feira da Ladra ou em qualquer outra feira. O ano estará a fechar a porta. Estaremos mais velhos e mais depenados. O Fado continuará a ser maltratado nas tascas de Lisboa. As campanhas furibundas contra o tabaco provocarão muitas constipações porque só a rua, por enquanto, é espaço para fumadores. E o Amor será um novo produto de exportação. A ironia será, sempre, a única arma que nos resta para sobreviver com um pequeno sorriso e manter o brilho dos olhos.
Cartoon: pesquisa Google
01jan18
Maravilha…