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Terra Mãe, minha Terra ouvinte

Bruno Ivo Ribeiro

(texto e foto)

Só quando sobra o silêncio, é que resta o tempo para nós. Só quando sobra o silêncio, é que nos podemos ouvir. Só sem ruído, é que ouvimos o som do silêncio. Tão só porque simplesmente, nesse eterno simples som em silêncio, podemos ouvir a subtil e calma voz, deste silêncio que trazemos sempre dentro de nós

 

Enchem-se os céus de sonhos e lágrimas, e chora sobre a cidade.

De cinzas e de tudo, fica pesado o ar que gela e tolhe os ossos, e desaba o mundo dentro de mim.

Chove dentro em meu peito, e chora fora o céu sobre os que se cruzam, os que se amam e os que sorriem ou fingem rir.

Chove e cada vez com mais força. Chove o céu como se chicoteasse a terra a cada gota que toca nela, sem tempo para suspiros e sem espaços onde se aconchegar.

Chove na cidade dentro de mim, tenho o peito inflamado e a alma destemperada. Sinto uma verdadeira complacência para com o céu lá fora, que vejo e amo a partir do meu coração. Chove, pinga, retumba e cai. Cai como se não houvesse depois, molha perpetuando o antes, e choro neste eterno agora que não passa e no qual sempre existo.

Esmorecem e fenecem as gotas neutras, límpidas e frias que me enxaguam a alma e me limpam o sentimento.

Provavelmente não há depois, e o antes jaz sempre. Resta-me o agora, e esta chuva que dentro e fora me rebenta de emoções, inunda de paixões, e gela de sofrimentos.

Tenho o sol comigo, e por detrás das nuvens que choram ele sempre lá estará, e basta-lhe sempre um só raio de sol para saber em terra firme que o tenho comigo, dentro de mim e eternamente a meu lado e ao passo do meu sentir.

O céu sorri agora, o meu peito aquece-se agora, e agora, Eu Sou Feliz.

Colho malmequeres, e semeio as rosas brancas e bravas do meu sentir. Limpo as ervas daninhas e sigo em frente.

Por cada malmequer um sorriso, e em cada rosa, mil esperanças minhas coloco.

Abeiro-me ao jardim do meu âmago, e sorrio. O Sol inunda a superfície, e acalma de dentro para fora.

A chuva sessou, e a terra secou. As flores seguem enlaçadas no meu peito, e o coração recompõem-se, não como quem se constrói, mas como quem se ama, aos poucos, aos pouquinhos do seu tempo devido.

FOTO TERRA MÃE- BRUNO-TROVOADA LITERÁRIA

De tempo em tempo assim se vive sem tempo, e assim se habita o agora, eternamente morto do passado, enquanto se anseia por futuros imaginados.

A vida cumpre-se sem ideais nem porquês. A Vida vive-se sem tempos ou esperanças, sem corridas ou descansos, sem tempos nem contratempos. A Vida É o que é, vive-se como se vive, e ama-se como se pode.

Só a morte dita a medida do amor que trazemos entre as rosas e os malmequeres que trazemos ao peito, porque só ela define com suma perfeição, o que amamos ou o que ficou por amar.

A morte virá, para todos chegará. Notícias novas? Só as de ontem como no jornal, já que tudo o que é noticiado já passou, e as previsões só vêm no horóscopo, ali mais para o fim das páginas…

E assim, entre chuva e sol vamos cuidando do nosso jardim… do nosso jardim interior, da nossa essência, de quem somos ou tentamos ser ou nem sequer somos capazes de ser.

Retumba uma gota nas pedras da calçada, e o céu cobre-se de algodões cinzentos, tão macios quanto sinceros…começa de novo o céu a chorar, mas dentro de mim reina uma primavera a desabrochar, um verão a despontar, e um sol de abrasar. Chora fora, mas dentro sorrio.

Chove na madrugada depois do almoço, e de novo se tentam abrigar os transeuntes descalços ou por calçar, pois não sabem quem são, logo desconhecem por que caminhos seguem vadios e grosseiros. Calço as galochas, um pouco custosas de calçar, já que cuidar do nosso jardim dá calos, mas também sorrisos e forças renova. Meto as galochas ao bolso esquerdo, ciente de quem sou, desconhecendo o além e o horizonte, e rumo ao Nada e ao Todo. Por fim ajoelho-me entre as vides e comungo com os quatro, tornando-me assim o quinto à mesa dos elementos.

Sou tão Nada no Todo. Prostrado cuido dos meus malmequeres, choro sorrindo ao beijar as minhas rosas, e aperto-as com amor e redobrado tato dentro e contra o meu peito, dentro porque de lá nunca saem, e contra porque de lá nunca deviam ter saído.

Escrevo novos versos, e na prosa traço o agora em que sorrio…consciente do que não sei, emotivo quanto ao que sei…e tudo o resto é memória, traços de história e sonhos de futuros…Não me interessam os depois, e quero esquecer os antes…porque o meu passado do futuro, é Agora!

01fev18

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