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Museu de Ovar expõe “tesouros” de escultura do seu acervo

A mais recente exposição de escultura inaugurada no Museu de Ovar (10 de fevereiro), com base em obras de arte do seu acervo, que ocupam três salas até 7 de abril, da autoria de um significativo conjunto de escultores, que através de trabalhos que incluem “esbocetos” e originais em gesso ou terracota, foram expostos após várias décadas em que estiveram guardados à espera da oportunidade que finalmente chegou, para, através desta mostra que surpreendeu a generalidade dos presentes na cerimónia de inauguração, chamar atenção do papel que esta Instituição representa indiscutivelmente na cultura e no património artístico que exige mais atenção das entidades competentes.

"Luís de Matos", por Lagoa Henriques
“Luís de Matos”, por Lagoa Henriques

Esta mostra de autênticas memórias, que destaca a profunda relação, então existente entre os autores das obras de escultura e o Museu de Ovar, foi mais um marcante momento vivido no Museu de Ovar ao trazer à luz do dia um autêntico “tesouro”, que deu a conhecer obras de escultores, na sua maioria datadas dos anos 40, 50 e 60, destacando-se nomes de artistas, como: Teixeira Lopes, Leopoldo Almeida, Armando Mesquita, António Duarte, M. Norte, Henrique Moreira, Severo Portela Júnior, Luís Ramos Abreu, Júlio Vaz Júnior, Raúl Xavier, Sousa Caldas, José Fonseca e ainda, João Fragoso, Charters de Almeida, José Rodrigues, José Vieira, Carlos Amado, Alberto Carneiro, Gustavo Bastos, Lagoa Henriques, Isabel Andrade, Carmem dos Santos e o escultor ovarense, natural de Arada, Luís de Matos.

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Luís de Matos, que tem mantido uma relação muito familiar com o Museu de Ovar, como realçou o diretor Manuel Cleto, “teve papel decisivo na preparação da exposição”, referindo-se ao contributo deste escultor ligado ao Museu desde muito jovem, como artista, na identificação de algumas obras do acervo e no “restauro” das que já mostravam sinais do tempo, para serem expostas com a desejada dignidade deste património escultórico, que no caso de alguns trabalhos, há mesmo uma relação “umbilical” com esculturas espalhadas pelo país, a exemplo da Câmara Municipal do Porto ou do Tribunal de Évora, cujos autores deram ao Museu de Ovar o privilégio de preservar tais memórias em gesso ou terracota.

A partilha de tão surpreendente acervo com os presentes na cerimónia de inauguração acabou marcada por apelos emotivos aos autarcas para que olhem com mais atenção para o Museu de Ovar e todo o seu vasto património artístico e cultural. Porque, como referiu Manuel Cleto, “quando há dinheiro para Serralves, e o Museu de Ovar vive a precisar de receitas para evitar riscos que possam por em causa todo o seu acervo… é criminoso”. Já Luís de Matos, afirmou mesmo, que, desde o 25 de Abril porque lutou, “nunca houve administração local que desse atenção a isto, que já existi no Museu de Ovar há mais de 50 anos”, referindo-se ao vasto lote de peças de escultura expostas. Ainda na opinião deste escultor ovarense, “temos peças dos melhores autores do século passado”, algumas das quais mereciam ganhar forma em bronze e ocuparem espaços públicos em vez dos “calhaus”, que disse ser “nossa vocação” e que nada acrescentam à “memória”. Por fim deixou como desafio, a necessidade de se “preservar esta memória que está na exposição”, destacando que “há necessidade de arranjar espaço para expor”.

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“Estou no meio de emoções”, referiu José Fragateiro, presidente da Assembleia de Freguesia da União de Freguesias de Ovar, São João, Arada e São Vicente Pereira, a propósito das intervenções que o antecederam sobre os “poucos apoios”, mas, deixou “esperança” de tais desabafos serem escutados e da causa do Museu de Ovar ser fator de unidades dos vários órgãos autárquicos, apelando por fim à Câmara Municipal de Ovar, ali representada por Alice França, para “olhar para o Museu de Ovar”, que é a “casa da cultura por excelência” afirmou sara Ferreira em nome do executivo da União de Freguesias de Ovar. Sem mandato para promessas, as palavras de Alice França, valorizaram o trabalho realizado e o “inconformismo” das gentes de Ovar, assim como as potencialidades do concelho aos vários níveis, em que, “temos tudo”, e sintetizou com, “temos gente diferente”. Mais comprometido quis ficar o vereador sem pelouro, Vítor Amaral, para quem o Museu de Ovar “é arte viva”, que exige mais atenção, prometendo levar o tema a sessão de Câmara.

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O momento foi ainda animado musicalmente pelo Grupo de Baladas Nostalgia a quem, em nome da direção do Museu, Manuel Cleto entregou um diploma de reconhecimento pela colaboração prestada. Ainda para preservação de memória, ficaram as palavras poéticas de Aurora Gaia sobre um catálogo da “Secção Etnográfica” do Museu de Ovar editado em 1965, que pela voz desta artista, “merece ser reeditado”. Ficou o apelo.

Esculturas com muitas histórias

Ninguém, nem mesmo o presidente da Câmara Municipal de Ovar, Salvador Malheiro, que visitou na véspera a exposição, faziam ideia que as muito limitadas instalações do Museu de Ovar pudessem acolher tal património artístico. A verdade é que nestes últimos anos, a aposta na valorização e divulgação do seu acervo cultural e artístico, já se traduziu em várias exposições temáticas, que trouxeram à luz do dia várias coleções que há décadas são guardadas, catalogadas e preservadas pelas técnicas do Museu (Leonor e Lurdes).

No caso concreto desta exposição de escultura, a esta equipa e reconhecidamente ao entusiasmo e dinâmica de Manuel Cleto, diretor do Museu de Ovar, juntou-se decididamente a colaboração do escultor Luís de Matos, que contribuiu decididamente para desvendar algumas histórias curiosas e duvidas sobre a origem de obras sem referências.

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O resultado de todo este trabalho, duro, mas muito delicado, verdadeiramente merecia um catalogo desta exposição em que encontramos esculturas em bronze, gesso e terracota. Nas salas do 1.º andar dedicadas a peças de menor porte, pode-se contemplar homenagens às gentes de Ovar, como “Marquinhas de Ovar” de Teixeira Lopes ou “Varina” de Luís de Matos em gesso e lioz (1968), escultor que numa das curiosidades desta mostra, veio identificar o seu próprio busto, esculpido em gesso por Lagoa Henriques (1968), que foi seu professor e que em sua opinião, “foi dos maiores pedagogos”, recordando ainda que foi ele, que, “fomentou a ida para a rua desenhar”.

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Nesta viagem pelas obras de tantos mestres escultores, as surpresas vão surgindo, com peças como, a da autoria de José Rodrigues, “Estudo para guardador de sol” (1960) ou “Retrato da minha mãe” em granito (1960) de Alberto Carneiro. Irresistível, pela ternura da figura infantil, é a obra de Sousa Caldas em gesso (anos 30), “Lambareiro”. Entre as várias peças em bronze podem-se ver trabalhos de Armando Mesquita (1950), Júlio Vaz Júnior (1953), Charters de Almeida (anos 60), Gustavo Bastos (anos 60), José Vieira (1963), João Fragoso (anos 70) ou a obra de Leopoldo de Almeida, “Navegador” (1941), Armando Mesquita com o título “José Ribeiro” (1955) e “Padre Cruz” (1944) de Raúl Xavier, um dos artistas mais representado no acervo do Museu de Ovar.

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Desvendada foi também a história da escultura em gesso de Carlos Almada, com o título “Maria A. Pestana” (1960) e que só agora se veio a saber tratar-se na mulher do recentemente falecido pintor José Mouga, que expôs no Museu de Ovar enquanto jovem estudante das Belas Artes, voltando mais de meio século depois a Ovar.

Na sala dos fundadores as esculturas expostas são verdadeiramente imponentes. Ao fundo encontram-se três obras de Henrique Moreira dos anos 40, sendo “A Indústria” e “Arte” peças originais das esculturas em mármore que estão no interior do edifício do Município do Porto. Curiosa é a dúvida que persiste na terceira peça do mesmo género, com o título “Trabalho”, que nem mesmo a neta do autor, que esteve na inauguração da exposição, sabe onde terá sido implantada a escultura.

Ainda de Raúl Xavier, destacam-se as obras, “Lei” e “Justiça” (1941) como “esbocetos” das suas esculturas que estão no Tribunal de Évora, e ainda do mesmo autor, “Pio XII” em gesso (1956). À entrada da sala surge também aos olhos do visitante uma das mais antigas obras em gesso de Severo Portela Júnior (1915), assim como, “Bispo” (anos 50) de M. Norte ou “Cabeça” em pedra lioz (1962) de Carlos Amado.

O escultor ovarense Luís de Matos
O escultor ovarense Luís de Matos

A todas as obras que Luís de Matos reconheceu valor artístico e destacou nesta exposição que reuniu parte do vasto acervo de escultura do Museu de Ovar, uma última curiosidade permitiu que os familiares de Albano Borges, doassem a esta Instituição o busto do empresário da antiga fábrica Rabor, da autoria do escultor M. Rui Carneiro Guia, cujo “esboceto” em gesso também há muitos anos incluía o acervo, tendo sido reservado a este reconhecido amigo do Museu de Ovar, um lugar de relevo na entrada desta casa de cultura.

Texto e fotos: José Lopes (*)

(*) Correspondente EeTj em Ovar – Aveiro

01abr18

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1 Comment

  1. Mª do Rosário Moreira L.

    Veio-me à mão, por assim dizer, este interessante artigo sobre os “tesouros” de escultura que encerra o acervo do Museu de Ovar. Relativamente ao parágrafo sobre as esculturas de Henrique Moreira, gostaria de fazer duas observações: A escultura “Trabalho”, que afirma ser do mesmo género que as outras duas, é possível que não tenha sido colocada em lugar nenhum, se ela fizer parte de quatro esculturas previstas para o frontispício (a Terra, o Mar, a Vinha e o Trabalho) – da autoria, porém, de Sousa Caldas – e que não se coadunavam com as alterações propostas pelo arquitecto Carlos Ramos, pelo que os nichos para elas previstos foram tapados. É apenas uma sugestão, pois os dois escultores colaboraram na decoração escultórica do edifício. A segunda observação tem a ver com “a neta” do autor ?. Deveria ser “uma neta”. O escultor Henrique Moreira teve cinco netos e uma só neta (que lhe está a escrever e que não esteve presente por estar muito longe), e tem outras cinco netas, estas por afinidade.
    Os meus melhores cumprimentos. Maria do Rosário

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