(REGISTO) – “Aleluia”! Esta terá sido a reação de alunos, professores, pessoal auxiliar e dos muitos “alexandrinos”, ao saberem que, finalmente, o Liceu Alexandre Herculano, no Porto – desde há uns tempos, “Escola Secundária” -, vai, finalmente, para obras, depois de anos – que pareceram séculos – à espera de uma profunda requalificação do edifício.
Para anunciar as obras a que será sujeito o “Alexandre Herculano” (“Alex” para os alexandrinos), nada melhor que a presença do primeiro-ministro, António Costa, acompanhado pelo seu colega no governo e responsável pela pasta da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, assim como do presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, no passado dia oito de março, um dia de festa para alunos, professores e pessoal auxiliar, que encheram por completo o anfiteatro (sala de cinema) do estabelecimento onde foi celebrado, depois de uma visita às instalações, o acordo entre o Governo e a Câmara Municipal do Porto, para a transferência da titularidade da obra para a autarquia, que, assim, se responsabiliza pela modernização e requalificação do centenário edifício. Acordo esse aprovado por unanimidade, pela Assembleia Municipal do Porto, realizada no pretérito dia 19 de março, .
José Gonçalves Mariana Malheiro
(texto) (fotos*)
A pé, sorridente – como é seu timbre –, eram 14h30, do dia 08 de março de 2018, quando o primeiro-ministro António Costa chegou à Escola Secundária Alexandre Herculano (ESAH), juntamente com o vereador na Câmara Municipal do Porto (CMP) e seu camarada de partido (PS), Manuel Pizarro. Aguardavam-no diversas personalidades, entre as quais o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, o presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, e também, entre outros, o presidente da Junta de Freguesia do Bonfim, José Manuel Carvalho e o diretor da escola, Manuel Lima.
Após amena cavaqueira entre os protagonistas de uma jornada considerada histórica, a comitiva fez, então, uma visita (guiada) pelo degradado estabelecimento de ensino, com o intuito de, no final da mesma, ser celebrada a referida transferência da titularidade de uma obra de requalificação e modernização do centenário e emblemático edifício do ministério da Educação para a autarquia portuense.
Um processo moroso este (com muitos casos relatados e relevados por este jornal) que agora começa a dar vigorosos passos, depois de garantido os cerca de 5,1 milhões de fundos comunitários (com verbas advindas do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional, no âmbito do Programa Operacional Regional NORTE2020) para uma obra de requalificação e modernização estimada em sete milhões de euros (quando há pouco mais de um ano era de 15,8 milhões), com a Câmara Municipal do Porto a investir perto de 950 mil euros.
O projeto, assinado pelos arquitetos Alexandre Alves Costa e Sérgio Fernandez, vai agora a concurso internacional para se saber depois quem será a empresa responsável pela empreitada, isto depois dos números apresentados para a realização da obra, sejam aprovados pelo Tribunal de Contas.
Tiago Brandão Rodrigues. “Este é um dia de celebração”
Na cerimónia, o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues fez questão de salientar ser este um “dia de celebração” resultante de um processo de “resiliência e paciência, principalmente por parte de alunos, professores e funcionários”, já que o mesmo “passou por diversas fases” e “chegou a bom porto” devido às frutuosas negociações entre ol governo e a autarquia portuense.
Rui Moreira: “O momento mais feliz virá quando o Alexandre abrir as suas portas restaurado”
Já o presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, não minimizando a importância do ato (muito pelo contrário) fez contudo questão de enfatizar que este “não é o momento mais feliz, pois esse só virá quando o Alexandre Herculano abrir as suas portas já restaurado”.
Os aplausos não se fizeram esperar, como também não se esperou muito para que o autarca desse relevo às negociações entre a CMP e o Governo.
“Esta era como que uma missão patriótica! A Câmara foi sensível às preocupações do Governo, pelo que fica com a titularidade da obra comparticipando-a em cerca de 950 mil euros.”
António Costa: “Este é um exemplo do que é a descentralização”
Por último, e para o primeiro-ministro, António Costa, este “trata-se de um exemplo do que é a descentralização” (a tal “descentralização” que ele tanto defende) e de que a mesmo “não é uma ameaça! Muito pelo contrário: é o casamento perfeito para a Escola que precisamos ter no século XXI”.
Visivelmente bem-disposto, Costa endereçou palavras elogiosas a Rui Moreira: “Tenho a certeza que, consigo a obra fica em boas mãos e que, nas suas mãos, a obra será concluída tão rapidamente quanto o Tribunal de Contas o venha a permitir”.
Triste “novela”
Os últimos anos não foram pacíficos na vida da Escola Secundária Alexandre Herculano. Longe de colocar em causa a pacificidade de como os factos foram tratados, a verdade é que os transtornos criados pelo estado de degradação do estabelecimento de ensino, originaram transtornos dignos de registo, que levaram mesmo a intervenções públicas, tanto de estudantes como até do Sindicato de Construção de Portugal. Todo esse processo foi acompanhado de perto, e com o devido destaque, pelo nosso jornal.
As fotos que se seguem (Sindicato da Construção de Portugal) revelam o estado em que se encontrava a ESAH há um ano e pouco…
O momento mais simbólico é registado a 01 fevereiro de 2017 quando cerca de 300 alunos do 7.º e 8.º anos da ESAH são transferidos para a Escola Ramalho Ortigão, depois de a escola ter sido, temporariamente, encerrada, devido ao facto de chover nas salas de aulas. Todo o mal fosse esse, mas não! O ginásio e a cantina não ofereciam segurança, assim como alguns corredores do estabelecimento.
Já a 30 de agosto de 2017, referia-se que “a Escola Secundária Alexandre Herculano, no Porto, tem “todas as condições físicas” para acolher cerca de 15 turmas, do 9.º ao 12.º anos, no arranque do ano letivo, marcado para 13 de setembro, disse hoje o diretor do estabelecimento, Manuel Lima”.
Isto depois de ter sido “colocada uma cobertura e vidros novos no lugar dos que estavam partidos”. “A escola já reúne as condições de segurança e conforto mínimo para desenvolver atividades”, depois da intervenção realizada entre abril e junho, garantiu o diretor da ESAH.
A verdade, é que o problema nunca foi esquecido por parte da direção da ESAH, uma vez que, e segundo palavras de Manuel Lima, em meados de agosto do ano transato, tem havido “com regularidade reuniões com a Parque Escolar” no sentido de rever o projeto de requalificação do edifício para o lançamento do concurso”.
Tudo correu e está a correr normalmente dentro da anormalidade; a anormalidade que só será retirada quando as obras de restauro forem concluídas, até lá, ela manter-se-à presente.
Resumo histórico
Com o aumento da população escolar verificado nos inícios do século XX, foi também acrescido o número de zonas de ensino na cidade do Porto, com c construção de alguns liceus. O Porto foi, então, dividido em duas escolares (Oriental e Ocidental). A 26 de setembro de 1908, o Liceu Central da Zona Oriental passou a designar-se “Liceu Central Alexandre Herculano”, tendo sido batizado com o nome de um dos portuenses ilustres no campo das letras.
Nesta altura já se tornava necessário dar novas instalações ao liceu, que passou, temporariamente, para um prédio alugado na Rua de Santo Ildefonso. Depois de muitas críticas no Parlamento relacionadas com o tipo de edifício que acolhia este liceu, o estado decidiu construir um outro, de raiz para o acolher. Foi selecionado, para o efeito, um dos talhões em que a Avenida de Camilo dividia a antiga Quinta de Sacais, na recentemente urbanizada freguesia do Bonfim.
Em janeiro de 1916, o Presidente da República, Bernardino Machado, presidiu, então, ao lançamento da primeira pedra no liceu, que teria traço da autoria de conceituado arquiteto Marques da Silva.
O novo Liceu Alexandre Herculano abriu as portas no ano letivo de 1921/22, compreendendo 28 salas, laboratórios, salas para física e química, ciências, geografia, desenho e música, uma biblioteca, um anfiteatro, cinco pátios para recreio, um pátio para desporto, três ginásios, piscina, refeitório, entre outras valências…
(*) Com Pedro N. Silva /PNS (fotos de Arquivo EeTj) e Sindicato da Construção de Portugal e pesquisa Google.
Apoio documental: Wikipédia
01abr18