José Luís Montero
O mês de Abril teve de tudo. Como todos os meses teve muitas notícias, mas, não teve nada. Choveu e o sol escaldou. O Marcelo Rebelo de Sousa fotografou-se entre os reis de Espanha. O António Costa também fez muitas fotografias, mas, teve um ato com substancia: os inquilinos com mais de sessenta e cinco anos terão contrato vitalício. Quando li a notícia pensei que estava no mês de Abril e olhei para o minijardim da esplanada à procura de cravos. Não havia cravos, mas, era Abril. Senti-me no mês da Liberdade em Portugal. Salvaguardou-se o teto. Relembrou-se que existe um direito básico e que as pessoas que estão na idade da sabedoria não serão, bruscamente e enxovalhadamente, escorraçadas do entorno existencial porque um iluminado empreendedor idealizou, com o consentimento municipal, criar um núcleo de moradias com características de enxame de abelhas para albergar turistas ávidos de sol e vinho.
Imagino os proprietários a levantar a voz e a fazer zapping quando ouviram a notícia. Sinto o zumbido do cognome do Governo, inventado pelo Vasco Pulido Valente, Geringonça saltar das suas bocas e ecoar depois de fazer ricochete na testa do dito governo. Sinto os iluminados a fazer cabalas e argucias. Sinto que tudo pode ficar como estava, mas, pode ser que o governo, por uma vez e como exceção, ultrapasse e supere os lóbis relacionados com o “comércio” do turismo. Recordo o ex-ministro João Soares quando negou a utilidade do binómio Belém-Ajuda. Todos os dias tomava o pequeno-almoço com arrepios hoteleiros. Depois, o despreocupado ministro escreveu no Facebook quatro estaladas a dois sonoros intelectuais e caiu o ministro, a Torre de Belém e a farinha Amparo não fez promoções. Foram coisas da seriedade política que para além dos selfies não permite ironias.
Estamos no mês de Abril de 2018 e aquilo aconteceu no mês de Abril de 1974. Fumava Negritas ou CT ou algum outro com estética poética. Era capaz de dormir no chão e ainda sou, mas, agora, só durante uns minutos. Procurava ou esperava a publicação da Filosofia da Alcova do Marques de Sade e a Literatura em espanhol sobre a Guerra Civil espanhola e o Movimento Libertário. A Lisboa, vindos dos quatro cantos do mundo e entrando a pé, em auto-stop ou em vertigem aventureira, chegavam pessoas de todos os selos e emblemas. Namorava-se. Amava-se. Sonhava-se. Também nos enganávamos. Também se confundiam palavras e conceitos. Mas, sonhava-se. A juventude; a idade dos instalados e a idade da sabedoria não eram idades porque todos procuravam o futuro.
Depois, veio o 25 de Novembro e a brincadeira mudou de camisola como um jogador muda de clube. O Carlucci fez amigos porta sim-porta não nos cenáculos políticos. Os maoistas padeceram alguma doença ou alguma osmose e começaram a aparecer nos partidos de direita; nos partidos de centro-esquerda ou entraram em sonolência perene. O Benfica não sei se continuou a ganhar ou deixou o Sporting aproveitar alguma coisa antes de aparecer o famoso Pinto da Costa. Instalou-se o triunvirato Sá Carneiro-Mário Soares-Álvaro Cunhal. A paixão foi de férias.
Passaram todos estes anos e os cidadãos com mais de 65 anos estão à porta de conseguir uma casa em aluguer de forma vitalícia. Tanto tempo para ter o básico. Talvez fosse devido ao calor natural deste jardim à beira-mar plantado que provoca moleza mental. Talvez fosse porque a revolução informática acabou com as velhas tipografias e tudo, nesta vida, precisa acomodar-se. Talvez fosse devido à necessidade de fabricar novos-ricos; novos Bancos; novas quebras bancárias. Talvez fosse porque apareceu um Cavaco Silva que articulava lento e não era entendível. Tanto tempo para estabelecer o básico; o elementar; o sagrado.
Choveu muito durante este mês de Abril. A minha casa de banho padeceu a tormenta. A minha neura reviveu e analisei minuciosamente a história e a estória da minha vida. Conheci gente que me fez continuar a regar o humanismo. Escrevi Poesia e meditei: tanto tempo para que as pessoas que alcançaram os sessenta e cinco anos tenham direito ao mais sagrado; tanto tempo….
Foto: pesquisa Google
01mai18
Gostei mesmo…neste tempo estranho e ganancioso de trocar gente da nossa gente, por os tais turistas com opção de ocupação, de zonas das cidades que mais lhes convêm, “ávidos de sol e vinho”…
depois do Abril de todos os sonhos, chegou a vez do pesadelo com monstros gananciosos de meias azuis. Finalmente fez- alguma luz num qualquer canto obscuro da consciência dos políticos. Infelizmente a situação dos idosos que já foram postos na rua parece não incomodar ninguém