Completou-se há pouco tempo o décimo aniversário do falecimento de uma grande escultora, intimamente ligada à cidade do Porto – Maria Irene Lima de Matos Vilar, conhecida no mundo da arte por Irene Vilar.
Com uma vasta obra dispersa pelo País e por diversas partes do mundo, Irene Vilar marcou uma presença forte no Porto, pela quantidade e qualidade das obras “semeadas” pela cidade.
Nasceu em Matosinhos a 11 de Dezembro de 1930 mas, desde os 19 anos de idade que viveu na Foz do Douro (Porto), tendo dois ateliês, perto da sua habitação, ambos localizados na Rua do Padre Luís Cabral.
Fez os estudos liceais no Porto ingressando, depois, na Escola de Belas Artes (1948 a 1955), onde entrou contra a vontade de seus pais que, certamente lhe destinavam um outro futuro mas, de onde saiu com o curso concluído e com a classificação de 20 valores. Aí, encontrou distintos professores no curso de escultura, tais como Salvador Barata Feyo e Dórdio Gomes, grandes mestres de quem colheu ensinamentos técnicos, importantes para o êxito que alcançou, no mundo da escultura.
Foi bolseira do Instituto de Alta Cultura e da Fundação Calouste Gulbenkian, o que lhe permitiu estudar em Itália e viajar por Espanha, França e Suíça.
Contudo, não foi somente a escultura que ocupou a vida de Irene Vilar. Também deixou uma riquíssima obra plástica, relacionada com a medalhística, a numismática, a pintura e até na ourivesaria. Paralelamente a este trabalho dedicou-se à docência, leccionando em vários estabelecimentos de ensino do Porto, nomeadamente nas Escolas Gomes Teixeira, Aurélia de Sousa e Clara de Resende terminando, nesta última, a sua carreira de docente, em 1987.
A sua produção escultórica encontra-se espalhada por vários pontos do mundo, mormente na Alemanha, Bélgica, Holanda, África do Sul, Brasil e Macau mas, talvez seja no Porto e Matosinhos, que a sua obra se encontra representada em maior quantidade. Destacamos, no Porto, os monumentos a Camões (Av. Brasil), Garcia de Orta, Guilhermina Suggia, o Universo (no Parque de Nova Sintra), o Anjo Mensageiro (na Cantareira), Cristo ressuscitado, na igreja dos Padres Carmelitas (Foz do Douro). Em Matosinhos, referimos os monumentos ao Pescador, a Florbela Espanca e a Abel Salazar.
Em Fátima, Irene Vilar também deixou várias intervenções, expressando a sua vertente mística, desde o Anjo de Fátima, evocando a segunda aparição, até às figuras dos Três Pastorinhos. A representação do sagrado esteve sempre presente na obra desta artista, mulher de convicções religiosas apuradas.
Irene Vilar participou em inúmeras exposições, individuais e colectivas, recebeu vários prémios e representou o País em diversos certames internacionais (São Paulo, Paris, Colónia, Roma, Florença, Estocolmo, Londres, Helsínquia, Budapeste, Neuchâtel, Weimar, Roterdão).
A 10 de Junho de 1982, foi condecorada com a Ordem do Infante D. Henrique e, a 10 de Junho de 2008, a título póstumo, foi feita Comendadora da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada.
Parte da sua criação artística foi doada à Câmara Municipal de Matosinhos.
Esta mulher simples, afável e comunicativa, que considerava a arte como um combate permanente entre ela e o mundo que a rodeava, faleceu aos 77 anos, no dia 12 de Maio de 2008, no Hospital de S. João, no Porto, onde se encontrava internada.
Fotos: pesquisa Google
Obs: Por vontade da autora e, de acordo com o ponto 5 do Estatuto Editorial do “Etc eTal jornal”, o texto inserto nesta rubrica foi escrito de acordo com a antiga ortografia portuguesa.
01jun18
Muito obrigado pelo tão interessante e tão bem elaborado artigo.
Trata-se de uma bonita recordação da obra da Tita (o nome que a tia Irene usava no seio familiar).
A cidade do Porto (e não só! ) teria(m) (e tem) motivações de sobra para a recordarem numa justíssima homenagem. A tia Irene (Irene Vilar) amava o seu Porto… e a sua Foz.
Obrigado… com saudade,
Pedro Vilar.