José Luís Montero
Quero escrever e só tenho um tema. Normalmente, é a primeira palavra que me abre o caminho, mas, nesta crónica paira sobre mim uma sensação estranha unidimensional e terceiro-mundista. Portugal passa por um momento zoológico onde a razão é a sua negação. As televisões abrasam os lares com notícias constantes geradas por um homem com aspeto de torta de laranja que afirma o sim e o seu contrário. Mostra a família; fala de salário congelado; de condes, viscondes e salgados. Entretanto, a barbárie que viveu Alcochete vive e revive como fundo dos comentários. O egocêntrico que colou as partes de apoio ao cadeirão afirmar-se salvador de algo ou alguém. Falam juízes, doutores e ex-apoiantes que vão desde intelectuais a figuras académicas. Choram antigos atletas e velhos sócios. Condena e recrimina, novamente, o homem que se transformou no fenómeno do Entroncamento dos nossos dias. E caminhando pelas ruas de Lisboa oiço uma e outra vez: “o troca-tintas continua a berrar…”
A meados de 1950 surgiu nos Estado Unidos de América a moda jornalística dos fenómenos estranhos. O invulgar começou a ocupar as páginas dos jornais e foi tendo eco no mundo. Em Portugal apareceu um jornalista e ferroviário nascido em Abrantes, mas, que crescera no Entroncamento chamado Eduardo O. P. Brito. Quando foi nomeado chefe da Estação de Santa Apolónia, começou a colaborar com os principais jornais do País. Existia a figura do jornalista correspondente que escrevia notícias do dia-a-dia; tanto escrevia de romarias numa aldeia remota como acontecimentos que só a rua vive. Eduardo O. P. Brito empenhou-se que o Entroncamento, se se procurasse, poderia ser também notícia pela singularidade que é apodada como fenómeno.
Os fenómenos começaram a aparecer no desaparecido Diário Popular. Entre muitos, existe um que cai no pano do panorama nacional como se fosse um bordado: uma couve que dava cravos verdes. Não existe outro fenómeno que se possa transplantar para esta realidade do homem do sim-não e vice-versa e sirva de emblema, escudo e símbolo. O Futebol Clube do Bruno e Pontapé não poderá encontrar jamais um emblema como este para beijar depois de um golo. E um clube sem emblema não existe, mas, o FCBP existe porque tem emblema e presidente. No meio da amargura e vergonha sempre existe a esperança e o cravo verde nascido da couve é o novo símbolo da esperança.
Mas, continuo desinspirado. A flatulência demagógica do ex-Presidente do clube de Alvalade transforma-me num autómato e só tenho imagens de lodo, mas, do lodo onde não há ameijoas. É triste e pobre habitar no meio do absurdo sem que este seja um jogo. Quando passeio pelas livrarias à procura de algum autor do século XIX, encontro muitos livros sobre o ditador Salazar. Está mais que biografado ainda que desconheço se está estudado. Esta visão constante leva-me a pensar naquele dito: Fado, Futebol e Fátima. Hoje temos fado em todas as tascas que servem jantares; temos Fátima todos os anos e temos mais Futebol que durante a ditadura salazarista.
As personalidades que rodeiam o futebol são tanto ou mais notícia que os cracks que animam o espetáculo. Os clubes são marcas dirigidos por Presidentes da SAD. A Bolsa determina valores e os jogadores são modelos de cabeleireiro catalogados como bons ou maus profissionais segundo o tempo obsessivo que dediquem ao cuidado físico. Os futebolistas deixaram de ter um emprego extra para ser empreendedores. Os treinadores são os novos catedráticos que engrandecem o País e o Bruno de Carvalho é um fenómeno do Entroncamento de novo cunho. Acabo como comecei: desinspirado. No entanto, o Ex-Presidente do sim-não ou vice-versa tem um predicado: provoca vertigem. Comecei esta crónica e permanecia barricado na poltrona de Alvalade. Acabei a crónica e já era ex-Presidente anti-salgados assumido. É sem dúvida um fenómeno que condiz com o emblema do FCBP.
Foto: pesquisa Google
01jul18
Uma crónica.
Um retrato pintado com palavras de um país que esta a viver um tempo entre o absurdo e a sobrevivência…
Um retrato com expressao.
Um retrato com sentimento de desanimo de quem aqui escreve ( muito bem)mas tem pouco assunto.Restam novos e estranhos ” fenómenos…
Bem-haja Jose Luis Montero!