Bruno Ivo Ribeiro (*)
Porque no simples tudo se vê, e porque no nada tudo está.
Estive no alto dos montes e estive no sopé de uma duna da praia. Caminhei mar fora, e pisei a linha do horizonte, só para provar que existia.
Fui de onda em onda e de maré em maré, dei três voltas à Terra, e três vezes rodando, sobre mim estaquei e ao céu me atirei.
Fugi das vagas e mergulhei nos abismos de cabeça só para poder ver a base sempre até ao embate.
Levantei-me e caminhei, comecei depois a correr e fui até ao mais ínfimo e longínquo do espaço, do mundo e da terra, e assim fui sem rota para voltar sem mapa.
Levantei-me ao anoitecer, e dormi com o amanhecer, para depois no dia seguinte inverter a ordem, e no seguinte, e no seguinte, e no seguinte, e sempre.
Segui só, fui sozinho como só eu sei ser só, e sendo só a ser sozinho, sou eu sempre, sou eu mesmo, sou eu próprio, sou enfim quem sou e quem sempre quis ser. Sou um resto de pó a apodrecer em cinza.
Nadei nas minhas lágrimas, cobri-me com todos os raios de sol que consegui abarcar, e abraçado de novo mergulhei neste vasto oceano decrépito de gentes e crápulas.
Abri as janelas do paraíso, atravessei-as, quebrei os vidros, e sem me cortar entrei. Do inferno fiz o paraíso, dei vida à morte, e amei todos os espinhos de todos os corações de rosas murchas.
Assim fui e assim sou, sou quem sou, sou o que sou, sou um sopro de vento, sou uma leve brisa que passa no fim de uma tarde a ver o pôr-do-sol, sou só o que sou… sou um simples noroeste a fenecer em vazio.
(*) Texto e foto
01jul18