Maximina Girão Ribeiro
A data de 868 marca um facto importante no território que hoje habitamos – o Porto e o Norte de Portugal. Trata-se da presúria, ou seja, a reconquista do território, por parte dos cristãos, após a ocupação pelos muçulmanos.
Há 1150 anos, Vímara Peres (nascido no Reino das Astúrias, cc. 820 – falecido em Guimarães, 873), chefe militar da segunda metade do século IX, vassalo de Afonso III, rei das Astúrias (866-910), foi enviado pelo seu soberano para reconquistar o vale do Douro. Assim, com o auxílio de outros cavaleiros da região conseguiu conquistar aos muçulmanos, definitivamente, o território, em 868 tornando-se, nesse mesmo ano, o primeiro conde de Portucale dando, assim, início a uma dinastia condal que se prolongou até 1071.
Portucale correspondia a dois pequenos burgos situados respectivamente nas duas margens da foz do rio Douro – Portus na margem esquerda e Cale na margem direita que viriam, muitos séculos mais tarde, a tornar-se nas cidades do Porto e Gaia. A designação de “Portus” juntou-se a “Cale”, dando origem a Portucale, nome pelo qual a povoação passaria a ser designada. Esta referência aparece pela 1ª vez na Crónica do bispo Idácio de Chaves, no 3.º quartel do séc. V. Estes povoados foram também conhecidos como Portucale Castrum Antiquum, na margem esquerda e Portucale Castrum Novum, na direita. O topónimo Portucale estendeu-se progressivamente à totalidade da região que passou a designar-se por “província portucalense”.
O Condado de Portucale (não confundir com o Condado Portucalense que foi muito posterior a este) correspondia às terras que hoje constituem a região que abrange o espaço do Entre-Douro-e-Minho, território que era relativamente despovoado e que funcionava como zona “tampão” entre os domínios cristãos a norte e os muçulmanos a sul dado que, já desde 711, com a invasão muçulmana, os cristãos se refugiaram nos locais montanhosos das Astúrias, onde fundaram o primeiro reino cristão, o Reino das Astúrias, de onde partiria o movimento de reconquista cristã da Península Ibérica.
Com a conquista do território de Portucale, procedeu-se ao repovoamento cristão das terras de entre Douro e Minho, com a fundação de igrejas e mosteiros, em torno das quais se foram concentrando as populações e desenvolvendo a sua vida.
A morte de Vímares Peres, em 873, fez com que, nos destinos do Condado, lhe sucedesse seu filho, Lucídio Vimaranes, instituindo-se assim uma dinastia condal, constituída pela nobreza, que governaria a região até 1071.
A fundação da nacionalidade portuguesa estava ainda bem longe no tempo mas, a presúria de Portucale, em 868, foi um passo importante em toda esta longa caminhada até se constituir Portugal.
Fotos: pesquisa Google
Obs: Por vontade da autora e, de acordo com o ponto 5 do Estatuto Editorial do “Etc eTal jornal”, o texto inserto nesta rubrica foi escrito de acordo com a antiga ortografia portuguesa.
01ago18
Obrigado senhora Maximina Girão Ribeiro, pelo artigo de qualidade. Melhores cumprimentos.