Podemos dizer que as aventuras mais improváveis e inesperadas são aquelas que mais nos marcam na vida, e esta, posso dizer que será uma delas. O bichinho do ‘Inglês’ sempre viveu dentro de mim mas estava longe de imaginar que o caminho que as estrelas traçaram incluía tirar um Mestrado no Reino Unido. Já tinha a minha mente decidida a deixar tudo pronto para ir para Lisboa dentro de um ano, mas pelos vistos não era para ser.
Pedro Abreu
(texto e fotos)
Numa azáfama e muito stress nos meses nos quais era suposto descansar da minha licenciatura, e com a imprescindível ajuda dos meus pais, lá conseguimos deixar tudo pronto. A data de ida chegou de forma rápida, mas ao mesmo tempo parecia que nunca mais chegava, penso que é normal neste tipo de situações. Tinha chegado o dia. O dia em que ia deixar para trás tudo e todos que conhecia, o metro que apanhava quase todos os dias para o Porto, as ruas pelas quais andei horas e horas a tirar fotos e a descobrir cantos da minha cidade que se revelavam apenas para mim. Tinha no pensamento sábias palavras que vi algures numa página da Internet, numa daquelas páginas com frases inspiradoras que nos falam ao coração. ‘Vai com medo, mas vai’.
Guardei este mote comigo, e ainda o guardo sinceramente. Prefiro arrepender-me de algo que fiz do que algo que nunca saberia o desfecho, aqui está mais uma das frases inspiradoras. E fui. Com o meu pai sempre do meu lado nos primeiros cinco dias, deixamos as coisas minimamente organizadas, com um percalço ou outro pelo caminho, mas como o meu pai bem quis, eu ia ficar bem quando ficasse por fim sozinho.
Cinco dias depois, estava sozinho. Não senti aquele “cair da ficha” que muita gente admite sentir quando caem na realidade em certas situações. Fui para casa, fiz o meu chá e arranjei tudo para a nova etapa que iria começar já no dia seguinte. Estava bem, sabia que os meus estavam bem e a partir daí teria que fazer render o que me levou para o outro lado do oceano, os meus estudos.
Nos primeiros tempos ainda estava um pouco enferrujado no inglês e cheguei mesmo a recear que ia demorar mais tempo do que esperava a atingir um nível de fluência aceitável pelos Brits. Sem dar por ela, acho que cheguei a esse nível. “Onde é que aprendeste inglês?”, ou “Há quanto tempo estás no Reino Unido?”, foram algumas das perguntas que me fizeram antes de elogiarem o meu inglês, e com esse tipo de feedback, quais seriam as minhas razões para duvidar de mim mesmo?
Sem reparar, comecei a sentir muito mais facilidade em escrever e falar inglês, penso que também é normal adaptarmo-nos rapidamente visto que se vive numa realidade inglesa, a língua teria que eventualmente ficar entranhada, nem que fosse só 70%. A prática faz a perfeição. Não que tenha atingido a perfeição na prática do inglês, mas faço intenções de ser quase um nativo a falar um dia destes.
Outra coisa muito boa a destacar é a simpatia e amabilidade das pessoas com diferentes backgrounds culturais. Visto ser uma universidade na qual estudam muitas pessoas de vários países do mundo, não esperava que houvesse tanta inclusão entre alunos, mas fui surpreendido pela positiva. Numa turma com chineses, ingleses, paquistaneses e um português (eu), toda a gente se dá bem e existe um sentimento de entreajuda e apoio constante. Sem dúvida que torna o ato de ir às aulas uma experiência muito mais agradável. Os professores, por outro lado, são um bocadinho ‘à se te apanho’. Dão-nos as tarefas, ensinam-nos o básico e lançam-nos, quase literalmente, às feras. A meu ver isso é uma coisa boa porque nos desafia a sermos melhores e crescermos a cada dia que passa. Por outro lado sinto que deveria existir mais apoio e acompanhamento por parte dos nossos tutores, que é assim que são designados por lá.
Ainda só passaram três meses, e posso sem sombra dúvida dizer que sou uma pessoa mais rica interiormente por este breve período de tempo que lá estive. Fazer as tarefas de casa como arrumar o quarto, cozinhar, lavar a roupa, estender a roupa. Damos mesmo muito valor ao trabalho que as nossas mãezinhas fazem desde sempre e com uma naturalidade sem igual.
A comida por lá, nem me façam falar disso. Não há nada como a gastronomia portuguesa, e estou muito melhor servido com os meus cozinhados caseiros do que com as comidas todas esquisitas que eles por lá têm. Sempre gostei de cozinhar por isso é um campo no qual me estou a safar relativamente bem.
Agora só para o ano. Com um longo caminho ainda pela frente. Estou ansioso sim. Com receios ainda? Claro que sim. Com determinação para dar o meu melhor e aproveitar ao máximo esta experiência? Oh Sim, C….laro! Para já resta-me aproveitar as festas com os meus, matar as saudades, continuar a trabalhar deste lado do oceano, e voltar com energias recarregadas no próximo ano, que cheira-me que será cheio de eventos importantes.
01jan19