Fernanda Ferreira
Na imensidade do mar, a pequenina gota de água, lamentava-se da sua pequeneza e chorava grossas lágrimas salgadas, quase tão grandes quanto ela.
O mar consolava-a como pai carinhoso que era, mas a gota achava-se insignificante e que nunca seria suficientemente importante para o seu pai se orgulhar dela.
O vento, ao passar, viu todo aquele sofrimento e soprou forte, levando-a para junto das suas irmãs nuvens.
Ela agradeceu e ficou em convívio com todas aquelas vaporosas gotinhas de água que viajavam ao sabor do vento.
Todos os dias outras gotas se lhes juntavam, até que a nuvem ficou tão pesada, que se abriu e as deixou cair sobre a terra, numa chuva tão intensa que encharcou os campos, fez transbordar as fontes e engrossou os rios.
Estes, correndo entre montes e vales, fazendo um percurso apressado, foram ao encontro do mar que os recebeu de braços abertos.
A gotinha de água, no reencontro aconchegante do peito de seu pai, pode ouvir da sua boca as palavras tão desejadas:
-Estou tão feliz pelo teu regresso!
Filha, estou tão orgulhoso de ti! Como tu cresceste!
Sabes? Há irmãs tuas que optam por outro caminho de vida. Durante o inverno, deixam-se evaporar e nas nuvens, voam ao sabor dos ventos frios e vão-se deslocando para as terras mais altas.
Chegando aos países frios do Norte, umas tornaram-se em geladas bolinhas de granizo, que caiem no solo e depois derretem, voltando a tornar-se água líquida e engrossam os rios. As outras tornam-se em brancos flocos de neve que planam leves no ar e caiem calmamente na terra, deixando-a coberta dum belo manto branco. E assim ficam na sua quietude, até à primavera chegar e o calor do sol lhes permitir derreter e voltar a ser gotas de água.
Também elas se juntam aos rios e, percorrendo montes e vales, voltam novamente para os braços do vosso velho pai.
Continuas uma pequena gota de água, mas o teu percurso de vida mostrou-te que todas as pequenas gotas, no seu conjunto, são importantes, independente da opção tomada.
Quero que tudo isto te tenha ensinado que cada um cresce quando percebe que a sua importância não está no tamanho e aspeto que tem, mas naquilo que faz.
01mar19