Esta rubrica dá a conhecer a toponímia portuense, através de interessantes artigos publicados em “O Primeiro de Janeiro”, na década de setenta do século passado. Assina…
Cunha e Freitas (*)
“Manuel José Rodrigues Semide, opulento capitalista portuense, morreu nesta cidade, na Avenida da Boavista, em 16 de Setembro de 1910. Em testamento deixou valiosos legados e estabelecimentos de caridade, legando o remanescente da sua fortuna, em Portugal, à Misericórdia do Porto, para com os seus rendimentos se socorrerem, domiciliariamente, famílias pobres, envergonhadas e honestas desta cidade.
Todos os seus bens no Brasil seriam aplicados na fundação de um sanatório, de que entrega a administração igualmente à Santa Casa do Porto, nas condições que indica, e tendo em vista sempre «que o intento do testador foi fundar um Sanatório ou Hospital para tratamento de tuberculosos em circunstâncias de se poderem salvar, e, por conseguinte, só poderão ser admitidos os doentes pobres dos dois sexos que depois de examinados pelo médico que estiver ao serviço do Sanatório, os julgar em estado ou com probabilidades de se poderem salvar».
A Misericórdia, aceitando a herança, nomeou uma comissão de técnicos para a escolha do local onde se deveria edificar o sanatório. Propôs-se, de início, uma bouça pertencente ao Hospital do Conde de Ferreira, que foi posta de parte, por ser muito batida dos ventos mais prejudiciais aos doentes. Outras bouças em Contumil, uma no Monte de Marganchos, outro no lugar de Currais, próximo à Rua de Costa Cabral, foram lembradas para o fim em vista.
Foi esta última, pertencente aos herdeiros de Casimiro de Sousa Fontes, definitivamente, escolhida, conforma parecer daquela comissão e comunicado à Mesa, em ofício de 20 de julho de 1912.
Assim se deu cumprimento ao determinado pelo testador, que recomendou que «o edifício, em que haverá pelo menos duas galerias, uma para cada sexo, será amplo, mas de construção modesta, e com todos os requisitos higiénicos, e deverá ser de forma que não obrigue a ser construído por completo por uma só vez, pois que se assim fosse, poderia reduzir o capital, quando é desejo do testador que na construção se não gaste mais do que um terço do capital legado».
Este terreno, denominado Campo da Bouça, foi adquirido por 10 contos de reis. Com a área aproximada de 50 mil metros quadrados, era todo murado de parede alta, com três portais, dois poços, uma pedreira com facilidades de exploração, terra lavradia e uma bouça de mato e pinheiros, onde viria a ser edificado o sanatório.
A Mesa autorizou o provedor, em sessão de 20 de Maio de 1914, a assinar a respectiva escritura, que se lavrou em 15 de Outubro desse mesmo ano.
A planta do novo edifício foi aprovada pela Mesa em 17 de Março de 1915, com um orçamento na importância total de 85 contos, e a construção foi autorizada por alvará da Câmara Municipal, de 19 de Julho de 1915. Mas só cerca de uma década depois a obra se concluiu.
Ao antigo Caminho de Currais foi dado o nome de Rua de Rodrigues Semide.”
(*) Artigo publicado em “O Primeiro de Janeiro”, na rubrica “Toponímia Portuense”, de 11-12-1974.
Na próxima edição de “RUAS” DO PORTO destaque para a “RUA DO ROLETO”
Fotos: pesquisa Google
01jun19