A Casa do Cinema Manoel de Oliveira, inaugurada na noite do passado dia 24 de junho, é um novo polo de referência no domínio do cinema e das imagens em movimento, integrado nos espaços da Fundação de Serralves. Além de uma exposição permanente, de um centro de documentação e de sessões de cinema que permitem um acesso regular à obra de Manoel de Oliveira, a Casa do Cinema apresenta uma programação de exposições temporárias, ciclos de cinema temáticos e monográficos, retrospetivas, conferências, edições e programas educativos, através dos quais promove diferentes possibilidades de aproximação ao cinema contemporâneo, no âmbito de uma reflexão alargada sobre a arte do nosso tempo.
Em articulação com a abordagem pluridisciplinar do Museu de Arte Contemporânea, a atividade da Casa do Cinema reflete sobre a migração das imagens em movimento entre o espaço da galeria e da sala de cinema, testando modalidades de apresentação de materiais cinematográficos em contexto museológico, na era da proliferação das imagens pelos mais diferentes tipos de plataformas, canais e dispositivos tecnológicos.
Promovendo parcerias com outras entidades nacionais e internacionais, aliando a vertente da investigação a uma programação diversificada, dirigida a todos os públicos, a Casa do Cinema pretende ampliar a matéria instável, que é o cinema, numa inesgotável pluralidade de cinemas: filmes, artistas, cineastas, objetos que projetam novos olhares sobre o passado, que assumem um compromisso com o presente e antecipam criticamente as imagens do futuro.
Marcelo Rebelo de Sousa: “Fez-se justiça a Manoel de Oliveira e ao nosso cinema”
Na cerimónia, que reuniu várias personalidades da cidade e do país, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, afirmou que a Casa, projetada pelo arquiteto Siza Vieira, “faz justiça” ao “maior e mais reconhecido cineasta” português, ao cinema nacional e à cidade do Porto.
“Faz-se enfim justiça com a inauguração da Casa do Cinema Manoel de Oliveira. Justiça ao nosso maior e mais reconhecido cineasta, justiça ao nosso cinema, que temos o dever de defender e de preservar, e justiça ao Porto, cidade-berço do cinema português”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, cita a Lusa, durante a cerimónia que decorreu nos jardins de Serralves, defronte para a Casa, na presença da ministra da Cultura, Graça Fonseca, do arquiteto portuense Álvaro Siza Vieira, da presidente do Conselho de Administração da Fundação de Serralves, Ana Pinho, do presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, do presidente da Assembleia Municipal do Porto, Miguel Pereira Leite, de vereadores do Município, entre outros convidados.
Convicto de que “Manoel de Oliveira estará muito feliz pela justiça” que lhe foi prestada “no dia de São João”, o Chefe de Estado recordou o cineasta enquanto “artista fiel às suas ideias e obsessões”, enalteceu também a duração da sua própria obra: “oito décadas de cineasta, caso sem igual”, destacou.
Recordando que a obra de Manoel de Oliveira “começou no cinema mudo e terminou em 2014, contemporânea do modernismo”, o Presidente da República afirmou que o cineasta foi “mestre da duração em vários sentidos” e que, com ele, “aprendemos a ter uma noção de longo termo do cinema e uma noção de que o cinema é também a memória do cinema e que isso não depende do inefável, mas da decisão política, do trabalho, do trabalho cultural, da organização financeira, material e institucional”, acrescentou.
Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, a inauguração da Casa do Cinema Manoel de Oliveira – seis anos passados sobre o acordo celebrado entre o cineasta e a Fundação de Serralves e quatro após a sua morte, em 02 de abril de 2015, – é “ainda muito justo para o Porto”, cidade que foi palco de muitos dos seus filmes e “onde Oliveira nasceu, onde a família geriu uma fábrica, onde estudou, onde foi atleta, piloto de automóveis e cineasta, onde viveu e morreu”.
Na conclusão da sua intervenção, assinalou que se a inauguração da Casa tivesse sido feita em vida do cineasta que tal lhe daria uma “alegria ilimitada”, mas que ainda assim não tem dúvidas de que “estará também ele feliz, muito feliz, pela justiça que hoje lhe é prestada”.
Para a ministra da Cultura, Graça Fonseca, a Casa do Cinema Manoel de Oliveira é “um lugar primordial de conservação e descoberta da grandeza e originalidade da obra de um criador ilustre que prestigiou Portugal”, tendo-o recordado como “um dos maiores realizadores em qualquer tempo, em qualquer lugar, em qualquer território”.
Já Manuel Casimiro, filho do cineasta, referiu-se ao momento da inauguração como “um culminar feliz de um longo caminho” e de “uma história por vezes muito penosa”, considerando que o processo de criação da Casa do Cinema Manoel de Oliveira “se arrastou ao longo de muitos, demasiados anos, mais de 20”.
Ana Pinho, presidente da Fundação de Serralves, salientou a “simplicidade complexa, meditativa e desafiadora” do edifício, que vai “prolongar a obra imortal de Oliveira”, através de uma atividade vasta e diversificada, estando programadas exposições, ciclos, conferências, entre outras iniciativas.
Por seu turno, Siza Vieira, em declarações ao JN, afirmou que o processo de conceção foi “anormalmente tranquilo” e que o ponto de partida quando começou a desenhar foi “pensar no homem e na sua obra”.
A Casa do Cinema Manoel de Oliveira, orçada em cerca de Cifrada em cerca de 3,7 milhões de euros, foi edificada de raiz nos 18 hectares do parque de Serralves, ao lado do edifício das garagens do Conde de Vizela, antigo proprietário da quinta.
O que cabe dentro da Casa?
A Casa do Cinema apresenta o guião da vida e obra de Manoel Oliveira, através de fotografias, textos, desenhos preparatórios, adereços, guiões de filmes e também prémios, cartazes, correspondência e toda a biblioteca do cineasta, num vasto núcleo documental que visa aprofundar o conhecimento da sua obra e da história do cinema, da arte e da cultura em Portugal nos séculos XX e XXI.
No interior da nova infraestrutura estão a decorrer duas exposições: uma permanente (onde é proposto um percurso através da globalidade da obra de Manoel de Oliveira e onde estão expostas algumas das dezenas de galardões e homenagens que o cineasta ganhou) e uma temporária, batizada “Manoel de Oliveira: A Casa”, que reflete sobre as representações da “casa” na obra do cineasta.
Texto: Fundação Serralves / Porto. / EeTj
Fotos (cerimónia): Miguel Nogueira (Porto.)
01jul19