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COMUNIDADE ESCOLAR DE OVAR PARTILHOU “HISTÓRIAS DA MINHA FAMÍLIA” NO MUSEU JÚLIO DINIS

Decorreu no dia 4 de junho no auditório do Museu Júlio Dinis em Ovar a apresentação dos trabalhos elaborados pelos alunos de diferentes ciclos de ensino do Agrupamento de Escolas de Ovar (AEO) no âmbito do projeto coordenado por Rosa Oliveira “Histórias da minha família”, que reuniu docentes e familiares das crianças participantes através de atividades desenvolvidas durante o ano letivo. Um projeto “diferente”, como realçou a Vereadora da Educação do Município de Ovar, Ana Cunha, que disse estar a acompanhar há um ano, e “hoje viemos ver o seu desenvolvimento”, manifestando-se por isso feliz por este envolvimento da comunidade escolar e educativa.

José Lopes

(texto e fotos)

Dirigindo-se às crianças como os principais protagonistas do projeto, Rosa Oliveira, escritora e docente do AEO, lembrou que este projeto se liga à formação da escrita, e que, “não é pessoal, é de todos”. O ambiente familiar que resulta do desenvolvimento do projeto em meio escolar, também segundo a sua coordenadora, foi a razão da escolha do Museu Júlio Dinis para esta apresentação num espaço museológico com as características da Casa em que viveu o escritor Júlio Dinis, que permite viver “momentos de encontros e reencontros”, como os que resultaram de “trabalhar memórias”, elaboradas em texto pelos alunos que passaram a assumir a apresentação dos seus trabalhos ali partilhados em alguns casos com grande emoção, que, como afirmou Fátima Rodrigues, que coordenou as atividades ao nível do pré-escolar, foi um “momento de coração cheio”.

Ao nível do 1º ciclo deram também testemunho do trabalho desenvolvido com as famílias dos alunos, Teresa Dias e Cândida Jardim, que nas suas escolas e no âmbito das respetivas turmas, como adiantou Cândida Jardim, “propusemos aos pais para trabalharem historias que foram ouvidas dos antigos”, um trabalho também em ambiente intergeracional que deu origem a “histórias familiares”, em textos com memórias de vivências que falam de influências várias e modos de vida, como alguns testemunhos de adultos nesta sessão.

Mas os principais protagonistas foram mesmo as crianças e os jovens alunos que perante um auditório cheio, sob observação atenta da docente da Universidade de Aveiro, Luísa Álvares Pereira do departamento da Educação e coordenadora do projeto Protextos, fizeram a apresentação dos seus trabalhos oralmente ou lendo textos. Momento que incluiu a referencia a diferentes objetos com memórias dos seus familiares, como um relógio ou uma peça de louça entre outros, lembrando particularmente avós com contagiante emoção. Fase de intervenções que contou igualmente com declarações de alunos da Escola Secundária José Macedo Fragateiro sobre as suas experiências pessoais no projeto, a exemplo da aluna do 11.º ano do Curso Profissional Técnico Auxiliar de Saúde, Tânia Laranjeira, que ali deixou o testemunho partilhado pelos 15 colegas da turma 11.º F que aderiram ao projeto, quando, “no início do ano, a professora Rosa Oliveira desafiou-nos a escrever as nossas histórias de família”. A aluna referiu ainda que, “os temas que escolhemos para as histórias de família refletem os relacionamentos, separações, homenagens aos pais e alguns antepassados”. Nestes temas contaram com a colaboração, através de palestras, de Joaquim Fidalgo e Padre Bastos, estudiosos da história local.

A exemplo de outros projetos em meio escolar desenvolvidos e orientados por Rosa Oliveira, o resultado dos trabalhos agora apresentados, podem também dar origem à edição de um livro, mas sobre esse passo editorial, só mais adiante poderão haver novidades. A certeza que fica sobre esta professora de Português na Escola Secundária José Macedo Fragateiro, é que, o compromisso ético de Rosa Oliveira com a educação, leva-a a ajudar muitos alunos a “desenhar os seus projetos de vida, recorrendo às suas memórias/histórias de vida, trabalhadas em contexto das oficinas de escrita autobiográfica e de ficção”, como nos referiu numa breve história deste projeto.

Breve história deste projeto

Sobre as estratégicas pedagógicas desta docente que vem desenvolvendo, coordenando e envolvendo as comunidades escolares e educativas em que leciona, Rosa Oliveira, partilhou com o nosso jornal a “breve história de um projeto” que se vem consolidando ao longo de uma década por cada ano letivo, até esta primeira fase do projeto “Histórias da minha família” a que, aqui nos referimos.

A escritora e professora Rosa Oliveira, recua então ao ano letivo 2010/2011 em que, “durante uma licença sabática, implementei na EB 2/3 António Dias Simões, em Ovar, um projeto didático, na época designado Oficina de formação para a escrita de ficção, para desenvolver com 26 alunos (dos 11 aos 16 anos), além do ensino e aprendizagem da escrita, algumas ferramentas para os ajudar a lidar com o emocional, o mental e o espiritual, apoiadas na terapia Gestalt”. Este projeto didático, foi a estratégia “para suplantar a escolarização com imaginação e criatividade, os alunos aprendem a ter acesso à sua vocação literária natural e a recuperar o gosto por aprender, através do “método” que designo por «educura», isto é, educar e, ao mesmo tempo, curar. Sempre que possível os pais são envolvidos no processo”, afirma esta docente.

Assim, “em 2011, apresentei à comunidade o livro Escritas de vida, histórias da escola. Na roda gigante que escrevi com a ajuda destes 26 alunos e que relata fielmente a construção do projeto. Na sequência, uma professora do Ensino de Português no Estrangeiro que assistiu à apresentação deste trabalho por 9 alunos, na Universidade de Aveiro, convidou-nos a ir à Alemanha para o partilhar com professores e alunos de descendência portuguesa a frequentar escolas alemãs. Esta viagem ocorreu em 2012”.

Nos anos seguintes, lembra ainda Rosa Oliveira, “tive a oportunidade de aperfeiçoar as habilidades e técnicas ao lidar com outros alunos habitualmente considerados “difíceis”, emocionalmente instáveis, em risco de abandono escolar e exclusão social, comprometendo-os com a escola, a família e a comunidade. Numa abordagem inclusiva e integradora, ensino na verdade muito mais do que português (e francês). Nas aulas ou nas sessões de oficina de escrita não obrigatórias, os alunos têm voz para comunicarem o que sentem sobre si próprios e com relação aos outros e à família, do que gostam ou não gostam na escola, podendo fazê-lo de várias formas – dando entrevistas, escrevendo no diário de turma, nos cadernos da vida, no jornal da escola, fazendo rodas de conversa, vídeos, apresentações multimédia, projetos, fotografia e organização de eventos”, experiências pedagógicas que vão sendo reconhecidas dentro e fora da escola.

Nesta caminhada, “todos os anos, o projeto acrescenta diferentes abordagens para contemplar as reais necessidades e evolução dos alunos. Foi o caso das Narrativas de Vida, em 2016/2017, com uma turma do 12.º de um curso profissional com fraca literacia emocional/ baixas expectativas escolares e profissionais. A partir dos diálogos nas aulas de português ao dar a “Mensagem” de F. Pessoa, surge o «insight» para organizar eventos esclarecedores na escola, baseados em histórias de vida de pessoas/convidadas, que tivessem pelo menos um livro publicado. Foi importante aguçar a curiosidade intelectual destes jovens, visando um ensino humanista e, de certo modo, tirando-os da zona de conforto, permitindo trabalhar emoções, valores, relações interpessoais, aspetos de cooperação e de organização no trabalho. Na verdade, a mensagem passou por estes jovens e para a comunidade através de três extraordinárias lições de vida – uma lição de sobrevivência, uma lição de autoconsciência e uma lição de amor incondicional”.

Aqui chegados, afirma Rosa Oliveira, que, “a quarta lição é aquela que se vive agora na minha escola (e possivelmente em muitas outras) – estamos finalmente a entender que realmente não existe certo ou errado. Começamos a ter uma perceção diferente, a sentir que somos capazes de fazer funcionar uma educação integral, tendo oportunidades e «insights» que nunca vimos antes”.

Partimos então para a fase em que se foi “expandindo o projeto”, destacando que, “em 2018, este trabalho é reconhecido ao nível nacional, quando sou finalista do Global Teacher Prize Portugal, abrindo-se novas portas para o seu desenvolvimento, através dos parceiros Museu Júlio Dinis/Câmara Municipal de Ovar. Assim, em 2018/2019, o projeto “Narrativas de vida – oficina de escrita criativa e de ficção” expandiu com o tema Histórias da minha família, como estratégia de aprendizagem integral/ holística/ inclusiva, no sentido de envolver os alunos do pré-escolar ao secundário a vivenciar o contar das suas histórias familiares, criando (sempre) um clima favorável para serem capazes de comunicar de várias formas com professores, colegas, pais e comunidade, sobre a sua perceção de família, qual a repercussão desta vivência na vida escolar, os desafios que enfrentam (enfrentaram) face a mudanças e ampliação do conceito de família e à ressignificação de vínculos, crenças, valores e rituais”.

Como nos referiu ainda, “a ideia é, por um lado, incentivar os professores, como mentores ou facilitadores, a descobrirem com os alunos formas de conexão das suas histórias de família com as histórias da escola, percecionando como as histórias individuais podem dar sentido ao que fazem e ao que são e como influenciam as histórias de um coletivo. Por outro lado, promove-se a aproximação dos pais à escola, através da participação na pesquisa de histórias com os filhos, nas palestras e tertúlias que o projeto tem desenvolvido”, dando-se assim o encerramento da primeira fase do projeto que ocorreu no dia 4 de junho, no Museu Júlio Dinis, como acrescentaria Rosa Oliveira, coordenadora do projeto, “imbuídos do sentimento genuíno de estarmos a contribuir para a formação e implementação de boas práticas na área das competências transversais e da competência cidadã, nos vários níveis de ensino, a resposta dos professores e das família ao projeto foi muito positiva e gratificante”.

Por fim e como o projeto “não é pessoal, é de todos”, como já tinha realçado na sessão em ambiente familiar, esta docente que procura caminhos alternativos para atingir os mesmos fins na formação de jovens. Partilhou igualmente a indispensável colaboração das várias colegas professoras e educadoras ao nível dos diferentes ciclos de ensino.

Assim colaboraram no pré-escolar, Fátima Rodrigues que coordenou o grupo de trabalho, participando os jardins de infância do Torrão do Lameiro (Dulce Cravo), Jardim de Infância dos Combatentes (Alexandra Cruz, Esperança Pinho e Rosa Almeida), Jardim de Infância da Oliveirinha (Lígia Lopes, Mabilde Correia e Alexandra Azevedo) e Jardim de Infância do Furadouro (Manuela Pinto). No total, “153 crianças desenharam e com a ajuda dos pais escreveram as suas histórias de família, num livro único, artesanal, que foi circulando da escola para casa e vice-versa”.

No 1º ciclo, colaborou Cândida Jardim, da EB1 do Carregal, e Teresa Dias, da EB1 dos Combatentes, com as suas turmas do 2.º ano (23 alunos) e 4.º ano (21 alunos), respetivamente.

Por fim no 2º ciclo, a colaboração vai ser dada por Dilma Sá na EB António Dias Simões para o próximo ano e, enquanto no 3º ciclo e secundário, na Secundária José Macedo Fragateiro o projeto é dinamizado pela própria Rosa Oliveira, em que tem apoiado 22 alunos, de diferentes anos.

01jul19

 

 

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