Durante três dias (7, 8 e 9 junho) a cidade de Ovar foi mais uma vez palco para acolher a realização do Festival Internacional Marionetas de Ovar – FIMO com 70 espetáculos realizados por 38 companhias de 14 países, que se desdobraram num intenso programa por 17 locais, entre praças, largos, fontes e diferentes salas de instituições culturais ou comerciais locais, em que o público foi gerindo os dias e as horas para rentabilizar tal oportunidade já habitual nesta época do ano, de assistir ao maior número de espetáculos desta antiga arte das marionetas que ao longo de séculos fazem parte da tradição cultural portuguesa.
José Lopes
(texto e fotos)
Como no final, na cerimónia da entrega dos prémios, lembrou o ator Pedro Damião, em nome do júri composto por seis membros de vários países, “a tarefa do júri cada ano é mais complicada”, justificando a opção de este ano terem atribuído uma “menção honrosa”, dada a dimensão da delegação da companhia Yangzhou Puppetry Institute, da China, que representou “Puppet Collection Highlight”, relativamente ao conjunto das companhias participantes. Para encontrar o vencedor do FIMO 2019 o júri definiu parâmetros como, a “qualidade artística”, “a brilhante manipulação e interpretação” ou “a simplicidade de contar uma história, tão simples mas com grande sentimento e sensibilidade”, parâmetros fundamentais que determinaram como melhor espetáculo desta edição, “O Ninho” da companhia de Ovar, Partículas Elementares. Um espetáculo inspirado num dos poemas de Miguel Torga que aborda, como “um segredo bem guardado pode fortalecer uma amizade verdadeira”.
Um outro prémio atribuído resultou na votação do público, que assim correspondeu ao apelo na abertura do FIMO pelo seu diretor Nuno Pinto, quando, dirigindo-se à plateia, disse que, “gostava de ouvir também a vossa opinião no final”. Desta participação do público, convidado pela organização a assinalar uma cruz no espetáculo que elegessem como o melhor, foi vencedora a companhia italiana Di Filippo Marionette com “Hanging by a Thread”, cujos protagonistas visivelmente emocionados, declararam, “partilha-mos o prémio com todos os artistas, que são todos incríveis”, mas para o público, verdadeiramente extraordinário foi esta companhia italiana que partilhou tantos afetos com as suas marionetas.
Qualidade dos espetáculos que este ano bateram o “número recorde” e do “número de nacionalidades representadas”, como referiu Nuno Pinto na abertura, em que afirmou, “temos enorme satisfação de apresentar tudo o que de bom se faz lá fora”. De seguida deu a palavra a Raquel Carvalho que em representação do Observatório da China começou por agradecer, “por nos proporcionarem a vinda da Companhia Yangzhou Puppetry Institute. Esta vinda é muito importante para o Observatório da China, porque, este ano celebra os seus 40 anos de relações diplomáticas entre Portugal e a China, e em paralelo também os 20 anos da criação da região administrativa de Macau, enquanto Macau como plataforma para os países de língua oficial portuguesa”, referindo ainda que a Companhia chinesa nesta sua digressão em Portugal, esteve em Évora e depois de Ovar, Lisboa era o próximo espetáculo ainda em junho.
A presença da numerosa delegação da companhia chinesa no FIMO resultou de uma parceria com o Observatório da China e com o apoio da União das Cidades Capitais Luso-Afro-Américo-Asiáticas (UCCLA), que trouxe a Ovar, através do Jiangsu Puppet Theatre, fundado em 1957, companhia da qual faz parte Yangzhou Puppet Research Institute, a tradição das marionetas na China que remonta à dinastia Han. Também da Ásia veio o artista Cheung Chun Fai que inaugurou a sessão de abertura do FIMO, com “Chinese Tradition”, oriundo de Hong Kong, com personagens construídas com pedaços de bamboo.
Nesta cerimónia de abertura em que os vários órgãos autárquicos municipais estiveram presentes, José Fragateiro, presidente da Assembleia de Freguesia da União de Freguesia de Ovar, São João, Arada e São Vicente de Pereira (UFO), aproveitou para dar os parabéns ao executivo da UFO liderado por Bruno Oliveira por “em boa hora ressuscitou o FIMO e trouxe-o de novo à nossa cidade”. Também Salvador Malheiro, presidente da Câmara Municipal de Ovar que não hesitou em tempo de FIMO, a fazer a apresentação do seu próprio evento, igualmente de rua, o “FESTA”. Começou por reconhecer que, “o FIMO de ano para ano está a crescer, e crescendo o FIMO cresce a cidade de Ovar, cresce o Município de Ovar, cresce uma Região” e acrescentou, “neste momento importa reconhecer e realçar o autor de tudo isto”, referindo-se a exemplo de José Fragateiro, à UFO e ao seu presidente, “que em boa hora se lembrou de reavivar este evento, e tem tido um trabalho notável”, a que disse prestar “a minha humilde homenagem”.
Também o presidente da Assembleia Municipal de Ovar, Pedro Braga da Cruz, deixou palavras de reconhecimento do FIMO, que, “para além de ser uma iniciativa que vive das gentes de Ovar, é um ponto de encontro de culturas, e isso tem um valor muito grande nos dias que correm. Contatos com outras culturas”, que, como afirmou o autarca, “é um enriquecimento não cultural somente, mas para a nossa vida. E isso o FIMO traz-nos de uma forma agradável” concluiu. Já Bruno Oliveira, perante tais palavras dos colegas autarcas, reafirmou a aposta do executivo a que preside, dizendo que “pretende basicamente promover Ovar, promover aquilo de bom que nós temos”. Sobre o FIMO começou por realçar algumas das iniciativas que caraterizam o evento das marionetas, como os espetáculos levados à Santa Casa da Misericórdia de Ovar, à ala pediátrica do Instituto de Oncologia do Porto (IPO) e a escolas. Destacou ainda a aposta deste ano na novidade que representou a realização de espetáculos “nas nossas fontes”, como a dos Combatentes e Júlio Dinis.
Por fim, Susana Menezes, Diretora da Direção Regional da Cultura do Centro, a quem Salvador Malheiro nas suas palavras proferidas anteriormente tinha desejado, “espero que se sinta sempre aqui em casa”, a representante do Ministério da Cultura deixou palavras de reconhecimento ao FIMO, por trazer às ruas, “uma das mais antigas expressões artísticas de que há memória de toda a humanidade”.
Foi pois esta também antiga tradição cultural portuguesa, que esteve bem representada por várias companhias portuguesas entre as de vários outros países que vêm confirmando o FIMO como um dos festivais de relevo no país. De Ovar, para além de Partículas Elementares, com o vencedor espetáculo “Ninho”, esteve ainda a Contacto, com “A Bela Princesa do Norte”. Também em português participaram, Cia Bipolar, Companhia Marimbondo e Marionetas da Feira. Atuações de artistas portugueses das marionetas, que partilharam palcos, essencialmente de rua, com várias outras companhias internacionais que muito valorizaram o programa, como: Javier Aranda, Cia Ele e Centre Titelles de Lleida (Espanha); Blick Théâtre (França); Cia Tu Mateixa, Os Titeres (Brasil); Rasid Nikolic (Itália); Pavel Vangeli (Rep. Checa); Coriolis (Uruguay); Francisco Obregon (Chile/Alemanha); Telba Carantoña Teatro/Lilian Maa’Dhoor (Venezuela); Maayan Lungman (Israel); La Pajarera e Pizzicato Teatro (Argentina); David Zuazola (Chile); Theatra Magnetic (Bélgica).
A todos os participantes o diretor do FIMO, Nuno Pinto, agradeceu, nomeadamente à compreensão do público presente na noite de encerramento, “para todas as dificuldades naturais num Festival como é o FIMO, durante os três dias”, afirmou. Agradeceu igualmente aos voluntários que são “a alma do Festival”, que como garantiu ainda, “hoje não é o último dia do FIMO 2019, é o primeiro dia do FIMO 2020, que hoje começamos a trabalhar”.
01jul19