Fernanda Ferreira
Os animais da floresta andavam agitados e muito assustados. A sua segurança e meios de sobrevivência estavam comprometidos.
Com o número de incêndios existentes nos últimos anos, a falta de vegetação não só dificultava o seu sustento como também não lhes garantia abrigo. Onde poderiam esconder-se ou abrigar-se?
Nos terrenos queimados, a água da chuva não se infiltrava o suficiente e encharcava-os demasiado à superfície, o que resultava sempre no arrastamento de terras pelas águas e consequente poluição dos riachos e rios pelos resíduos dos incêndios.
As árvores também estavam desoladas e a sua preocupação devia-se não só a verem as suas companheiras perecerem pelo fogo que lhes não dava tréguas, como também pelo perigo que elas próprias corriam em cada fogo florestal que deflagrava.
Era um sobressalto permanente, especialmente na época de verão, quando o calor e a falta de chuva se faziam sentir.
Tinham de fazer qualquer coisa.
A coruja e o mocho, aves de grande sabedoria, resolveram convocar uma reunião geral dos animais e vegetação da floresta.
A transmissão da mensagem convocatória ficou ao encargo das aves e também das árvores que, através das suas raízes formavam uma longa cadeia de comunicação árvore a árvore e, rapidamente, enviavam mensagens para zonas muito distantes.
Na reunião da fauna e flora florestal, todos culparam os eucaliptos porque, trazidos da Austrália, se tinham adaptado tão bem ao nosso país que, assim como as acácias, eram considerados autênticas pragas.
As acácias ficaram muito caladas porque se infiltravam no meio da vegetação sufocando-a com os seus rebentos invasores que rapidamente se tornavam árvores. Elas sabiam-se culpadas por disseminar tantas sementes. Se estivessem caladas, talvez passassem esquecidas.
Os eucaliptos responderam:
-Realmente nós crescemos mais rapidamente que as outras árvores, mas não temos culpa de cá estarmos. Os homens trouxeram-nos para arranjar madeira rápida para utilizarem e para o negócio madeireiro. Tudo foi muito mal controlado e, na ânsia de lucro mais fácil, substituíram grandes zonas de floresta por eucaliptos. Os maiores culpados são os homens que nos plantam e os que permitem que o façam sem controlo.
Pensam que não somos também vítimas nos incêndios? As nossas folhas ardem com muita facilidade, incendeiam outras árvores e ao voarem, vão ajudar a alastrar os incêndios. Nós próprias nos prejudicamos porque, pelo efeito dos ventos, rapidamente ficamos queimados.
As outras árvores comentaram que os engenheiros florestais disseram que, se houvesse variedades diferentes, o risco dos incêndios se propagarem era menor, mas poucas foram as pessoas que seguiram as suas indicações.
-Que podemos então fazer?
Depois de muitas propostas pouco eficazes, chegaram a um consenso:
As árvores e plantas de frutíferas não dariam frutos, as sementes e vegetais que existissem seriam devorados pelos animais, as abelhas não produziriam mel e as outras árvores cresceriam lentamente e fariam pouca sombra.
Rapidamente as pessoas se começaram a queixar de falta de alimento e de estarem a ser invadidas por pragas de todo o tipo de animais que não só lhes dizimavam tudo como até os enfrentavam, fazendo-os temer pela sua integridade física.
Um grupo de pessoas bem-intencionadas e valentes, resolveram reunir com os animais e plantas para tentar resolver a situação a contento de ambas as partes.
-Tudo o que estais a passar é a nossa reação ao desrespeito que tendes para connosco.
Pensais que só vocês são seres vivos? Então e nós, não o somos também?
Só em situações de exceção é que comunicamos com os humanos, mas não é por isso que não nascemos, crescemos e morremos como vocês e somos também dotados de sensibilidade. Também sofremos, ainda que de maneira diferente da vossa, é na mesma sofrimento.
-Nós queremos pedir tréguas e vamos falar com as outras pessoas para combinar como proceder de maneira a todos cumprimos o melhor para as duas partes.
-Se assim fizerem e cumprirem o compromisso, a nossa retaliação acabará.
Para isso tereis de cumprir o seguinte:
-plantar variedades diferentes de árvores e limpar as matas;
-vigiar para detetar os incendiários que poreis, sob vigilância, a fazer limpeza das matas e a reconstruir o ficou destruído polos incêndios de fogo posto;
-fazer caminhos de corta-fogo;
-auxiliar os bombeiros, órgãos de proteção civil e autoridades, cumprindo orientações e não dificultando o seu trabalho;
-ajudar os animais que estão em risco de morrer carbonizados;
-respeitar a natureza se quereis que ela vos respeite;
-reflorestar o que ficou queimado.
O grupo aceitou e foi transmitir às outras pessoas, incluindo dirigentes, o que ficou decidido na reunião. Por unanimidade prometeram cumprir todas as cláusulas da proposta.
E nós?
Espero que tomemos a mesma decisão.
Aguardo esperançosa que a consciência das pessoas evolua e que os humanos honrem a sua palavra.
Foto: pesquisa Google
01set19