Fernanda Ferreira
João era uma gaivota que tinha o privilégio de ter como antepassado o ilustre Fernão Capelo Gaivota, perpetuado no maravilhoso filme com o seu nome.
O seu tetravô, enquanto as outras gaivotas apenas se limitavam a sobreviver, ele interrogava-se sobre a vida, o planeta, Sol, Lua, estrelas e aventurava-se em altos voos, rumo a outras paragens e ao firmamento, procurando entender o seu Eu e buscando o significado das coisas.
Podemos dizer que foi um espírito livre, um aventureiro e filósofo que, após a sua curta vida de gaivota, deixou como legado à comunidade das gaivotas inúmeros ensinamentos e pensamentos, pelo que a sua memória continuava a ser motivo de admiração e respeito.
João Capelo herdou do seu tetravô a liberdade de espírito, o hábito de agradecer o que a natureza oferecia e o gosto pela investigação e estudo.
Dedicou-se a aprender tudo sobre as correntes aéreas e marítimas e a influência da Lua nas marés. Estudou os peixes, as algas e a influência que a poluição tinha neles.
Procurou nos locais onde havia derramamento de petróleo, redes, cordas, anzóis e plásticos, para alertar as outras gaivotas sobre os perigos que corriam quando procuravam restos de alimentos no meio da poluição.
Já que não podia remover os anzóis e redes que as prendiam, pelo menos ensinava-as a evitar que a poluição as matasse.
Ao estudar os vários grupos de gaivotas, observou que elas pouco faziam; ou voavam para fazer algum exercício físico as asas e procurar peixe ou ficavam paradas na areia grasnando ou cacarejando irritantemente ou ainda lutavam agressivamente à bicada pela posse de peixe.
Esse resultado preocupou-o e levou-o a pensar que tinha de fazer alguma coisa por elas, para que deixassem o seu egocentrismo e evoluíssem.
Foi difícil descobrir como o poderia fazer, porque as gaivotas sempre se mostraram muito preguiçosas e não aceitavam alterações da sua zona de conforto nem lhes importava se havia alterações climáticas, desde que conseguissem arranjar peixe suficiente para a sua alimentação. Para quê estudar se tudo já estava ao seu dispor sem esforço?
Depois de muito pensar resolveu que só poderia alterar essa mentalidade fazendo-as frequentar um grupo de meditação.
Como não existia nenhum grupo adequado a gaivotas, criou o Grupo de Meditação Gaivotana.
A ideia era ensinar-lhes a ter harmonia para interagir com as outras gaivotas e seres vivos, a usar sensatamente conhecimentos adquiridos e a perceção de quem eram e do lugar que ocupavam na pirâmide evolutiva, a preservação dos recursos naturais e compreender quem eram no seu interior e trabalhar as suas emoções atitudes e pensamentos.
Para seu espanto e felicidade, o projeto tornou-se um sucesso e é frequente ver as gaivotas serenamente a meditar viradas para o mar, olhando o sol matinal ou poente, aproveitando o seu momento Zen e retirando dele a paz e harmonia de que necessitavam para se sentirem bem.
A partir de então, quando passarem por alguma praia e virem gaivotas a meditar, podem ter a certeza que se trata de Meditação Gaivotana e, se procurarem com atenção, verão lá o João Capelo Gaivota, seu mentor, a orientar a meditação.
(Conto com base no filme “Fernão Capelo Gaivota”)
Foto: pesquisa Google
01out19