Bruno Ivo Ribeiro (*)
Quando o relógio chamar, parte-o. Quando o amor chamar, ama. Quando o tempo parar, corre. Quando o tempo correr, respira. Quando o sonho chegar, sorri. Quando a morte chegar, vive.
Numa nuvem agastada reina o paraíso perdido das fábulas encantadas, e numa flor do jardim, está todo o Universo espelhado.
Vi num verso o ondular do oceano, e vi que a lua me acenava.
Estou sentado à beira do mundo, com os pés mergulhados no imenso mar, sentado nas colinas da morte, perscruto a Vida e o sonho, que, ao fundo, me observam na minha contemplação.
Sei hoje quem sou, desconheço quem serei, e matei quem fui.
Resta-me o aqui, aqui onde o agora reina.
Habito o presente, não como quem vive só o instante, mas como quem saboreia a passagem do tempo, a imutabilidade do movimento da vida, que os pássaros sentem, as flores ao vento amam e a terra clama chorando.
Habito o eterno agora, não a fugacidade viril, pueril e febril das instanciações dos momentos falaciosos.
O sol põem-se.
O sol nasce.
O sol põem-se.
O sol não morre.
Nasceu o dia.
Nasci com o dia.
Hoje as nuvens são o meu castelo, e em cada gota de chuva reina uma ameia minha, deste acastelado que construo com a vida, tentando proteger-me da morte, morte afinal sendo a aparente vida que todos vivemos.
Estou acordado, estou lúcido.
Estou divorciado de vós.
Estou casado comigo.
É meio-dia, e vou-me deitar.
(*) texto e foto
01nov19