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Desalojado, ignorado ou espezinhado…

Carla Ribeiro

(texto e fotos)

Foi desalojado.

É ignorado.

Sente-se espezinhado.

Continuam a ser tratados assim na nossa Cidade, como quem quer colocar uma máscara, limpando-a desta sujidade e fazendo-nos acreditar, que ninguém vive no asfalto desta cidade…

Colocam barreiras, vasos, puxam fachadas de prédios para a frente, legal ou ilegalmente, colocam-se grades, para que estes seres humanos, não ocupem os espaços, não estendam um cartão para tentar descansar.

São os desalojados, despojados da sua vida, que encontram na rua a fuga para as dores de Amor, o sangramento dos problemas familiares, o desespero de vidas perdidas, o cobertor que os veste de dor e solidão.

Tantas as histórias que poderíamos contar sobre estes Seres Humanos, a quem teimam em tratar como o lixo da sociedade, os desalojados ou simplesmente aqueles de quem se tem pena.

No consciente da frieza da vida, tantas pessoas aliviam a sua consciência, e no Natal, lembram-se que há pessoas que moram nas ruas da nossa cidade.

Estas pessoas, estão lá todo o ano, precisam de uma palavra, um prato de sopa, um abraço, um café, um copo de leite, um pão com manteiga, todos os dias… Pois todos os dias, eles estão lá. Lá nas nossas ruas, debaixo de um qualquer beiral, ou num pedacinho de asfalto, onde estendem o seu corpo a cada noite, com chuva ou com sol, com frio ou com calor, com cartão ou não, queimam uma beata de cigarro como quem emerge na sua vida e a deixa esfumar-se.

Desalojados…

Ignorados…

Espezinhados…

FOI DESALOJADO…

Foi desalojado…

Fecharam-lhe as portas,

E teve de partir…

Perde o tudo e o nada.

Veste novamente, as vestes da solidão,

E segue caminho,

Sem rumo e sem destino,

Na busca de um novo lar…

Foi desalojado…

Acompanha-o a lua,

Aconchega-o o sol,

A chuva faz travessuras,

E o frio, congela-lhe a dor…

Foi desalojado…

Gritam as ruas, quando ele passa,

Não o querem ali…

Desalojado…

É o lixo de uma sociedade,

Que alimenta o bolso, que não é dele…

Foi desalojado…

Empurrado para a rua,

E dela não sabe sair…

Desalojado, grita de sentimentos,

Que lhe sufocam a voz,

E toldam os movimentos…

Desalojado…

E, é no breu da noite que se vai alojar,

Carregado de solidão…

Desalojado…

Carla Ribeiro

2018.01.21

@Reservados Direitos de Autor

Termina a noite

Fica um frio no coração, num misto de reconforto e de desconforto, nesta certeza que as nossas ruas necessitam tanto de nós…

Uma mão vazia, a outra carregada de nada…

Que sejamos sempre, livres nestes atos.

Levamos agasalhos, comida e muito Amor a estes nossos Amigos, que nos esperam na rua num qualquer recanto da nossa cidade que os abrigue, mais uma noite, num cartão, ou num mármore frio.

Levamos-lhes o calor de palavras quentes e abraços que sorriem.

Percorremos o asfalto, na esperança de os encontrar bem, na certeza que é aqui que os vamos ver.

São histórias de Vida, de uma Vida com dor, onde o amor, é a maior dor…

São vidas vazias, cobertas de amargura, e abraçadas pela solidão, onde o belo do escuro da noite, os cobre com dor e com medo…

São noites assim, diferentes frias e quentes, às vezes que me rasgam e sangram, na dor que é deles e é nossa também…

Desalojados…

Ignorados…

Espezinhados…

Recordar as palavras sentidas é ter a certeza que vivemos e sentimos,
É ter a certeza que seguimos novos caminhos…

Namasté

Até breve com novos “sentir, novos “amar”…

 

01fev20

 

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