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‘‘Pezinhos chineses’’

Weihua Tang

Há uns meses, um comentário numa revista chinesa sobre os “pezinhos chineses” chamou-me a atenção: “As mulheres com os pezinhos tornam-se mais sensuais, enquanto se equilibram para andar”. Sinceramente, desde que me lembro, este foi o melhor “elogio” que vi para as mulheres com os “pezinhos”, pois a maioria dos comentários eram críticas negativas.

Felizmente, a geração dos meus pais já não manteve este costume, ou seja, foi completamente proibido “apertar os pés”, após a fundação da China nova, em 1949. Contudo, na minha infância, ainda se viam muitas mulheres chinesas com os “pezinhos”.

Quando tinha nove anos, o meu pai levou-me a visitar a minha avó paterna, numa província no norte da China. Como sabem, há 40 anos, na China, não havia tantos transportes rápidos e modernos, por isso, éramos obrigados a andar a pé muitas vezes, em muitos sítios. Eu estava habituada a agarrar a mão da minha avó, e, quase sempre gritava: “Rápido, vovó! Rápido, vovó! Andas devagar demais!”

A minha avózinha continuava a “abanar” o corpo dela, tentando equilibrar-se para não cair, e ao mesmo tempo, mostrava o seu sorriso autêntico, feliz, mesmo que fosse sem os dentes. Naquela altura, ninguém me contou, nem aprendi na escola, porque é que quase todas as mulheres chinesas tinham os “pezinhos” como a minha avó. Parecia-me algo normalíssimo. Obviamente, com a idade de nove anos, ainda por cima na sétima década do século passado, era impossível compreender a palavra “agradar” quando a palavra “sensualidade”, era mesmo “chinês” para mim.

Aquela época de “apertar os pés” surgi durante a Dinastia Song e tornou-se popular na Dinastia Qing. Estas circunstâncias, que existiam há tantos séculos, tinham a ver com os fatores culturais e sociais. Conforme o “conceito estético” antigo, a beleza feminina era obrigatoriamente para mostrar o “lado feminino”. Ou melhor dizendo, era mesmo preciso ser pequenina, fraquinha, gentil, refinada, e, sobretudo, era necessário possuir uma “curva suave”. Apesar de terem aguentado as dores insuportáveis, os sofrimentos corporais e psicológicos, as torturas inacreditáveis, as inconveniências da vida, mesmo assim, as mulheres arriscaram para tentarem satisfazer os “gostos masculinos”. Por outras palavras, para conseguirem encontrar e casar com o “marido ideal”.

O tamanho dos “pezinhos” diferia devido ao clima na China. Quanto mais pequenos, melhor. No norte, eram um bocadinho maiores que no sul. Contudo, o “pezinho” mais pequeno tinha uma medida de apenas 10 centímetros, ou seja, era quase o comprimento de uma palma. Por isso mesmo, o “pezinho chinês” tornou-se conhecido como “San Cun Jin Lian”, na história da China.

Não é novidade que há sempre “críticas” sobre “apertar os pés”, embora tenha desaparecido quase há um século. Porém, a sociedade feudal antiga na China, era de facto uma “sociedade masculina” na qual, as mulheres obedeciam ao pai antes de casarem e, depois do casamento, obedeciam ao respetivo marido. Portanto, as mulheres chinesas antigas não tinham “opções” próprias, e aceitavam somente as “escolhas arranjadas”.

E, no século XVI, na Europa, quando as mulheres apertavam a cintura?! Para ficarem mais elegantes, mais atraentes, mais charmosas, mais erguidas, mais desejáveis, mais delicadas, etc., etc. … O sofrimento e a tortura das mulheres ocidentais não me parecem menos do que “apertar os pés” na China, pelo contrário. Rigorosamente, era a mesma “produção histórica”!

O mundo mudou, e o “campo de visão” das pessoas modernas também se amplificou. Indiscutivelmente, o “gosto pesado” já foi. E o “bom gosto”?! Não se discute…

 

Fotos: pesquisa net

01fev20

 

 

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