Bruno Ivo Ribeiro (*)
Prólogo aos esconjurados da vida, aos doentes de verdade e aos sonhadores do amanhã:
Era tarde, estava sol, e as ondas quebravam as rochas e varriam a areia. Era tarde e o relógio parou. Estava já demasiado tarde para ir para casa, e fiquei. Dormi na praia, e de manhã bem cedo, adormeci outra vez. Sonhei com a Verdade, abri os olhos e era só mentira, fechei os olhos e calei-me.
A verdade não mais pode ser escrita em verso, porque sendo ela escrita em verso, o leitor pode julgar que se trata de mais uma farsa ou fábula.
A verdade o também não pode ser escrita sob a forma de prosa, porque não é testamento, biografia ou um outro qualquer tipo de documento passível de transação, recordação ou datação.
A verdade não é um diálogo, uma peça de teatro ou uma pauta musical. A verdade não é notada, todavia denota Algo.
A verdade não se escreve, a verdade se não diz, a verdade se não escreve.
Falar da verdade, é mentir-lhe; pois que a verdade se não mostra, se não revela, e se não expressa.
A verdade não é algo, a verdade é; e a Verdade não pode ser verdadeira nem falsa, porque só pode ser verdadeiro ou falso, o que já não habita em verdade, na Verdade, e com a Verdade.
Caminha solitário, quem a verdade já não aporta ao peito.
Já deixou de sonhar quem a verdade olvidou.
Já morreu, quem nunca viveu pela, e para, a Verdade.
Está morto quem para a morte verdadeira vive, e falsamente vive quem a verdade não busca.
A verdade não é um mastro, não é um estro, não é um a apóstrofe nem um acento. A verdade é uma intuição conjugada pelo verbo amar.
Quem ama é verdadeiro, quem ama vive em verdade, e quem pela verdade vive, então pela verdade se imortaliza.
É difícil ser verdade num mundo de mentiras.
É difícil amar num mundo de ódios.
Mas por isso mesmo é que é também tão fácil, simples e poderoso.
A verdade do amor, é o amor de gesto verdadeiro, e assim o mundo gira, de sorriso em sorriso, e só não vê isto quem no amor já não crê.
Verdade e Amor são Um, e o mesmo, e a divindade que habita em cada um, não é a verdade do amor verdadeiro, se este se não conjugar com o próximo assim como para consigo mesmo.
Falar de Verdade, falar da Verdade; falar de Amor, falar do Amor; é poetar com a mente, e é pensar com o coração; de modo que falar acerca da Verdade e do Amor, é não poder falar.
(*) texto e foto
01fev20