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A Minha Pátria

Weihua Tang

“Zou, Zan Men Hui Jia!” – são os cinco caracteres chineses, simplesmente colocados na frente de uma camioneta. Nem me lembro, quantas vezes, chorei por esta frase.

Literalmente, a tradução apenas indica “Anda, vamos para casa”. Conforme a gramática chinesa, “Zan Men” é uma expressão muito verbal, muito coloquial, e não formal, escrita nesta circunstância, quando o governo chinês deu a ordem oficial para tirar os turistas chineses no “Diamond  Princess”. Além disso, o tom e a maneira de “comunicar” era como se fosse buscar os próprios filhos para regressarem a casa.

Da mesma forma, usamos “Zan Men” frequentemente, entre a família, entre os conhecidos, entre os amigos… E, somente de quem a língua materna é o chinês, poderia compreender bem o seu rico e genuíno sentido. O momento em que eu li, em voz alta, estas cinco palavras, fiquei completamente impressionada e comovida, as lágrimas irromperam de imediato: não consegui controlar a minha emoção, quando contei a uma amiga portuguesa. E, enquanto escrevia este texto para a sua publicação em abril, as lágrimas incessantemente caíram no teclado…

De facto, a palavra “Jia (casa)” tem vários significados, segundo a retórica da língua chinesa. Na minha memória, a última vez que regressei à terra natal do meu pai, ou seja, a raiz da minha família, situada no norte da China, foi nos anos 70 do século XX. Sem dúvida, que não havia tantos meios de transporte modernos, nem convenientes, há 40 anos, na China, como hoje em dia. Tínhamos de apanhar a única camioneta, que existia naquela altura, cujo modelo era velho e antigo, para chegar a casa da minha avô paterna. Para não perdermos esta única oportunidade antes de anoitecer, o meu pai, que estava carregado com tantas bagagens no ombro e nas mãos, tentou e conseguiu entrar na camioneta primeiro.

E eu?! Estava ainda à espera que o meu pai pudesse ajudar-me. De repente, a camioneta começou a andar, mas a porta ainda ficava aberta, porque as pessoas bloquearam-na e o motorista não conseguiu fechá-la. Por instinto, gritava P-A-I, ao mesmo tempo que corria ao lado da camioneta, chorando desesperadamente para que não me abandonasse. O meu pai ouviu o meu grito e pediu ao motorista para parar a camioneta. Como já não havia hipótese para entrar pela porta, o motorista levantou-me e entregou-me pela janela! Sinceramente, nunca me esqueci daquele pânico, o medo de “abandono” numa província tão longe da minha casa; nem me esqueço daquele “aconchego” depois de ter voltado ao colo do meu pai; jamais me esquecerei daquele incidente desagradável na minha vida.

Quanto aos chineses que ficaram retidos no barco “Diamond Princess” durante um mês, o desejo de “Hui Jia (voltar para casa)” era inquestionável e inimaginável! Seja qual for, a importância e a instrução do significado de “Jia (casa)” já não era só um edifício moderno, nem uma moradia de luxo, nem um apartamento bem mobilado, nem um quarto com conforto… tornou-se um verdadeiro  “porto de abrigo” da alma, fisicamente e psicologicamente. Nesta situação especial, o “regresso a casa” é realmente um sinal do fim do desamparo terrível ao estrangeiro, é poderem ver um raio de esperança, acima de tudo, é ganhar uma renascença da vida! Na realidade, quem não está fora do seu país, não consegue sentir este amor patriótico, não sabe o sofrimento da autêntica nostalgia, sobretudo para quem não está numa situação tão complicada e perigosa como esta.

Por isso mesmo, nós chineses, consideramos a nossa pátria como a grande mãe! Os rios são o seu leite doce! As montanhas são o seu peito! As árvores são o seu cabelo brilhante! A terra é a sua pele! A mãe nunca abandona os filhos no momento crucial, pelo contrário. Quem é que não ama e respeita a própria mãe que nos deu a vida?! Apesar disso, um ditado chinês diz: Se não há pátria, onde há casa?! Ou melhor dizendo, só podemos ter a nossa casa pequena, quando temos a nossa casa grande!

Até ao momento, consigo entender inteiramente a essência de um provérbio chinês: “Temos casa, mas não conseguimos regressar”. Por acaso, desde 2004, nunca compareci no aniversário do meu pai. No ano passado, prometi a toda família que ia participar na sua festa dos 90 anos em 2020, que coincidentemente é uma grande data histórica em Portugal — 25 de abril. No entanto, para cumprir a minha promessa para voltar à China, não só comprei o bilhete de avião, mas também alterei a data das aulas, antecipadamente.

“Uma desgraça nunca vem só”! Não acreditam?! O meu voo foi cancelado…

 

Fotos: pesquisa “net”

01abr20

 

 

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2 Comments

  1. Graça fernando

    Fiquei comovida pois também eu iria em Abril à China conhecer a minha primeira neta.
    “A esperança é a última a morrer” Havemos de lá chegar ,não em Abril mas a tempo de festejar a alegria de estar em família.
    FORÇA!

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