Bruno Ivo Ribeiro
(texto e foto)
Vagueava pelas ruas, e olhando para todos, em todos vi uma coisa, o ego que se sobrepunha ao eu, e olhando para todos corpos por que passei, apenas vi no rosto o mesmo semblante, o do prazer do desejo encarnado na satisfação do momento, que de tão viril, é tão parco, pobre e nulo.
Hoje saí à rua, e vi a morte na esquina da rua, passei por ela, disse-lhe bom dia, e segui o meu caminho, a minha hora será só uma, e temê-la antes do tempo, é morrer por antecipação. Morte à ansiedade, vida à Vida, é este o desejo verdadeiro, que anula o ego e mata o desejo do segundo que passa, que de tão frémito, é tão efémero.
Depois do relógio ter estancado, entrevi os espíritos flutuarem em barcas rumo a Neptuno, e depois do sol se deitar, apenas consegui pensar numa única intuição, que tão parca é vida, para ser tão puerilmente vivida entre egos e devaneios do espírito que não se sabe aplacar.
Viva a consciência da vida, e viva a vida em si mesma. Viva o sol e o mar e todas as ondas que compõem o mar e dão forma e sentido ao oceano. Viva as marés das flores e viva o marujar das árvores. Morte aos esqueletos que não dão de comer à terra, cinza com eles, e louvada seja a grandeza do universo que se espraia em cada verso do meu respirar.
Mas hoje o ego anda na rua, hoje a morte atormenta os cérebros ansiosos, e hoje a vida chora num banco de jardim.
Hoje as flores não floriram, hoje só os peitos podem desabrochar. Hoje só as almas se podem abrir para o indefinido, que é afinal a Vida, e o que ela nos tem para dar.
Mas hoje o ego, tão viril como infame, entorpece os sentires destes seres que pisam a terra. Hoje o ego acende as fogueiras do ciúme, da inveja e do medo. Hoje o ego é a morte, e hoje a morte habita em cada um, não como devia, mas como medo de viver.
Hoje a morte é o viver sem rumo, hoje o morrer é não ser filósofo dos astros, tão só porque hoje o poeta da vida, é o sonhador da morte.
Se a vida se espraia num segundo, também a morte nos invade no milésimo de um suspiro, e se hoje o choro é sufocado, é porque o riso hoje é forçado. Porque hoje o ego espreita-nos na rua.
E se hoje louvar os astros, é ser louco da vida, então assumo a minha sandice, e não quero sair à rua.
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