Weihua Tang
Durante os últimos vinte anos, o primeiro e o único filme que vi no cinema foi “A Despedida”, o qual ganhou o “Prémio de Ouro Global”, em 2019. Por acaso, era um filme baseado em factos verídicos, sobre uma família chinesa.
Esta história fala sobre a protagonista Nai Nai, “avózinha” de 80 anos, a quem foi descoberto um cancro de pulmão, na última fase, e, provavelmente iria ter apenas três meses de sobrevivência. Por isso, a família inventou e organizou um casamento do neto dela para uma “despedida suave”, ou seja, a “última união” de toda a família. Contudo, dizer ou esconder a cruel verdade à Nai Nai provocou uma grande divergência, entre os seus dois filhos. Quanto à neta, que nasceu nos Estados Unidos, já era uma autêntica ocidental, e nunca conseguia entender o porquê de “mentir”. A seu ver, a avózinha tinha todo o direito de saber o resultado e a gravidade da sua doença. De facto, era um conflito de culturas diferentes, entre oriental e ocidental.
Honestamente, a história misturada de “amor e mentira” acontece frequentemente na nossa vida, e, para mim, não é uma novidade. Sendo uma chinesa de gema, compreendo perfeitamente o objetivo de “mentir” neste caso, e, por vezes, fazia da mesma maneira.
Orgulhosamente, a minha grande influência é o meu pai, ele não só me dá o infinito “amor paterno”, como também é o melhor exemplo na minha vida. Por isso mesmo, a única pessoa com quem me preocupo mais, na China, é o meu pai. Como de costume, além de trocarmos os e-mails quase todas as semanas, também falamos por chamada de vez em quando.
Ainda me lembro do que aconteceu em junho de 2015. Mandei um e-mail ao meu pai, como habitual, mas nunca me respondeu. Tentei ligar para o telemóvel dele, e não me atendeu. Obviamente, fiquei bastante preocupada e, pelo meu “sexto sentido”, estranhei as tais circunstâncias, porque não era normal. Para decifrar a minha dúvida, liguei à minha irmã, e também falei com a minha sobrinha para esclarecer esta situação. Contudo, a resposta era sempre a mesma: “Não te preocupes, mana. O pai está bem. O computador dele avariou e ele anda sem telemóvel… ”. Demasiada coincidência, pensei eu!
Embora me acalmasse, continuei a suspeitar. Até um certo dia, a verdade veio à tona. Finalmente, o meu pai respondeu ao meu e-mail, quanto acabara de sair do hospital. Inevitavelmente, ele contou-me que tinha sido operado à próstata e obrigado a ficar no hospital durante 45 dias.
Ainda por cima, arriscou levar anestesia geral com uma idade de 84 anos. Imaginem que grande perigo! E o meu pai não deixou que nenhuma pessoa da família me revelasse a verdade para que eu não ficasse em pânico. Na realidade, parecia uma “mentira” bondosa, uma “mentira” simpática, uma “mentira” compreensível, uma “mentira” agradável, sobretudo, uma “mentira” aceitável! Portanto, chamamos a este comportamento “carinho chinês”!
No fundo, este “carinho” maravilhoso e fabuloso é um fator fundamental na filosofia oriental. O efeito de “carinho chinês” é o melhor remédio não só físico, mas também psicológico. No filme, depois daquela união mágica da família, parece que a Nai Nai já se tinha esquecido da sua “doença”, e continuou a fazer o exercício TaiJi todos os dias, sobretudo, continuou a viver uma vida normal. Acredite ou não, a Nai Nai conseguiu sobreviver até mais seis anos. É incrível, não é?! Esse “sedativo psicológico”, realmente, pode ajudar a paciente a ficar mais otimista, a tomar uma atitude positiva, a ultrapassar a tal dificuldade, e, o mais importante, a fortalecer a imunidade corporal. Se a Nai Nai soubesse de imediato o verdadeiro resultado após a análise, ia apanhar um “choque fatal”. O resultado seria totalmente diferente e contrário.
É um milagre?! Sem dúvida! E só o nosso “carinho chinês” pode fazer!!!
01jul20
Um texto muito bom sobre a sabedoria oriental!
Linda fotografia! Está estampada na cara do seu pai a alegria de estar consigo.
Parabéns!