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RIA DE AVEIRO: NO CANAL DE OVAR OS CONTRASTE DE BELEZA NATURAL ENTRE MARÉS VÃO CONTINUAR NA PAISAGEM

Se havia expectativas das obras de desassoreamento da Ria de Aveiro no Canal de Ovar, poderem alterar os diferentes cenários originados em função das marés, na atual paisagem na zona do Carregal, em que termina a norte este braço da ria. A evolução da empreitada de desassoreamento, adjudicada pela Polis Litoral – Ria de Aveiro, não está a dar sinais de, independentemente do ritmo das marés, ali prevalecer um enorme espelho de água para o desenvolvimento das várias dinâmicas de aproveitamento da laguna, no ponto de vista, social, económico, recreativo e desportivo, sem limitações das marés.

Bem pelo contrário, o Canal de Ovar vai continuar a ter a particularidade de, proporcionar, por exemplo aos apaixonados da fotografia, os contrastes de beleza natural entre marés, com as suas diferentes formas de olhar a Ria, como se tenta mostrar através das imagens que ilustram este texto.

 

José Lopes

(texto e fotos)

 

 

Os sedimentos das dragagens que estão a decorrer desde abril de 2019, em 2 lotes, numa extensão global de 95 km, ao longo do Canal de Ovar, canais Pardilhó e Murtosa, até ao Carregal a norte, em que se localiza o Porto de Recreio, e a sul, Ílhavo (rio Boco), Mira, no Lago do Paraíso e na Zona Central, foram destinados ao reforço dunar nas praias, e ao reforço de margens e motas em zonas baixas ameaçadas pelo avanço das águas e da deriva litoral, que no concelho de Ovar há muito está identificado o lugar da Marinha, como uma área agrícola e habitacional demasiado vulnerável e em risco de inundações, reduzindo as terras de cultivo devido à sinalização das águas da Ria com as correntes mais intensas de entrada das águas do mar, que as dragagens, centradas estrategicamente no aprofundamento da “carreira”, acabam por facilitar tal ritmo mais rápido de entrada e saída das águas em função das marés. Até um novo ciclo de assoreamento originado pelo arrastar dos sedimentos das margens para o leito da Ria.

No caso da Marinha em Ovar, estas tem sido as preocupações que as populações e a Comissão de Moradores local tem manifestado junto das várias entidades competentes e responsáveis pela empreitada, nomeadamente junto do Município de Ovar, da Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro – CIRA ou da Sociedade Polis Litoral da Ria de Aveiro, que se mantiveram atentas à evolução do projeto de dragagem para melhorar a navegabilidade e ao aproveitamento dos sedimentos para reforço e consolidação das margens e fundamentalmente, para a elevação de cotas, como condição de defesa do território, que exigiram monitorização e ações de modo continuado.

Os depósitos de dragados nas margens do lugar da Marinha, o território que pela sua forma de “península” cercada de canais da Ria, mais teme o avanço das águas, está longe de corresponder aos anseios das populações e dos alertas que vêm sendo feitos, a propósito do resultado das referidas dinâmicas das correntes, que voltarão a arrastar as lamas não retiradas nas margens para a “carreira”. Situação agravada por um sistema inicial de estacarias que logo se mostrou pouco eficiente para segurar as lamas depositadas nas margens.

Para defender o fragilizado território da Marinha, os residentes e apaixonados por estas terras ribeirinhas e suas belezas naturais, chegaram mesmo a apresentar um desenho com sugestões para salvaguardar o povoado e a agricultura, da salinidade das águas que queimam as terras e as torna inférteis, através de soluções que passariam pelo recurso a três válvulas. Intervenção cívica na defesa de pessoas e bens, mas também na defesa de um instrumento de gestão, como o Plano Diretor Municipal-PDM, para que seja fator de coesão territorial, salvaguardando as zonas de reserva ecológica, agrícola, florestal e de construção ou outras sobrepostas e alvo de desafetações. Sentimentos dos moradores na Marinha que têm chegado aos autarcas do Município de Ovar, que pouco ou nada têm correspondido a tais inquietações e sugestões, nesta evolução da relação com a Ria, com naturais efeitos provocados pelas intervenções ao longo da Costa Litoral, como Porto de Aveiro e das próprias dragagens na Ria de Aveiro.

Voltando à paisagem natural proporcionada pela Ria e seus múltiplos canais envolvidos por margens verdejantes, as inquietações das populações ribeirinhas em territórios mais baixos como na Marinha, são afinal a garanta por mais uns anos, de condições de navegabilidade ao longo, neste caso, do Canal de Ovar. Enquanto as atividades piscatórias e desportivas, terão certamente de continuar a conciliar as suas práticas em função das marés, tal como os amantes da fotografia, que continuarão a tirar partido do contraste de beleza natural entre marés.

 

01jul20

 

 

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2 Comments

  1. José Lopes

    Ainda que a solução de uma espécie de ‘ dique’, seja uma ideia que vem sendo debatida, a sua concretização, como diz no comentário, é fisicamente dificil… daí estar de acordo, e é o essencial do texto, que o cenário entre marés pouco se altere, nomeadamente o lamaçal durante a maré baixa.

  2. Ovar Press

    Não será possível uma intervenção de engenharia física, à semelhança do que se fez no rio Douro (paredão, mini barragem, etc…), de modo a manter sempre o mesmo nível de água, de modo que a maré vazia não apresente este aspeto desolador e favorecendo a navegação e os desportos náuticos? Este desassoreamento, só por si , não vai resolver este problema e vai aprofundá lo ainda mais….

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