Nesta 150.ª edição do “Etc e Tal jornal”, e porque se trata não só de um “número redondo”, mas, acima de tudo de um facto revelador de toda a resiliência do projeto, e de tudo o que de bom e menos bom se fez por cá, a verdade, é que não podíamos esquecer quem da equipa fez parte, e continuaria, por certo, a fazer se fosse vivo.
Ao José Luís Montero, que nos deixou a 06 de janeiro de 2019, publicamos, aqui, e em forma de homenagem, uma das suas crónicas editadas na sua coluna “Ninho da Liberdade”, desta feita de 01 de setembro de 2018.
Saudades, grande José!
As estradas de Portugal são caprichosas. Fizeram-me passar sede e provocaram certas leituras que talvez as comece a perceber. Soube, depois de parar numa Estação de Serviço, que o Ronaldo tem uma nova ambição: prepara o seu, dele, casamento. Realmente, parece-me que o Ronaldo está a perder faculdades. No entanto, como existem muitas Estações de Serviço li, no recanto superior esquerdo, da capa de uma revista que o Presidente da República passou um dia ou dias numa praia acompanhado por uma bela dama. Não sei quem é, nem me interessa. O melhor do Rebelo de Sousa durante o seu mandato reside na abolição pela sua ausência da figura de Primeira Dama. Portanto, se não existe primeira dama, não me interesse se tem amigas, amigos ou se passa férias com a amiga A ou B.
É simples. Não estrago a vida de ninguém pelo facto de ser amigo ou amiga de uma personalidade política e muito mais se é, simultaneamente, uma personagem de telenovela- política e um “faz-figura” do comentário de bidonville televisivo em horas de máxima audiência. Estou convencido que as pessoas são amigas do Rebelo de Sousa por outras virtudes bem diferentes da sua vertente política. Por muito que digam, ninguém pode argumentar passado valoroso porque sempre foi a personificação da derrota. Ganhou uma vez e por uma vitória não se pode afirmar que tem todas as taças e medalhas do panorama nacional. Aliás, inclusivamente, penso que suceder com êxito ao homem de triste figura chamado Cavaco e Silva, é uma circunstância e não é um louvor. O Cavaco e Silva é a encarnação do tédio e como tal até tinha Primeira Dama que era, tal como ele, tremendamente tediosa. Este passado enfaticamente enfadonho de adro de igreja não sustenta o argumento das férias merecidas em companhia amiga. Rebelo de Sousa teve férias porque não deixa de ser um funcionário público e como tal, passa oitos dias no Algarve e almoça ameijoas à Bulhão Pato no dia da estreia da folgazona estival.
Lamento muito, mas, existe uma figura pública e política que também foi molhar os pés à praia e provocou uma imagem um bocado antiestética. Apetece-me omitir o seu nome. O seu tronco extremadamente bem fornecido na zona do abdómem denuncia vida sedentária e muitas horas ocupadas com as palavras cruzadas. É um mau exemplo e não ajuda as campanhas contra os excessos obesos e contra a presença de enchidos nos bares de certos espaços públicos. A figura do Presidente António Costa só manifesta simpatias adornada com fato e gravata; o fato de banho não é o traje que mais o favorece. E como durante o Verão se percorrem estradas e se conhecem Estações de Serviço as figuras públicas acabam por ficar torcidas nas fotografias e quando chega o mês de setembro, os assessores de imagem têm trabalho extraordinário para recuperar as imagens dos seus assessorados. O Verão tem muitos inconvenientes para além das visitas à casa da sogra.
No entanto, temos que realçar e elogiar o bom senso e o trabalho de descrição que executaram exemplarmente as Estações de Serviço. Cheguei a temer a indiscrição e imaginei que o País viveria uma crise considerável se os jogos fotográficos se excedessem, mas, felizmente, tal não aconteceu: Ferro Rodrigues não foi exibido na Praia da Rocha deitado ao sol, nem a passear à beira-mar ataviado de bermudas e a registar o momento com selfies. As Estações de Serviço mostraram comportamento patriótico e evitaram que o horror estético institucional agravasse ainda mais a crise dos professores ou as quezílias no entorno da geringonça.
Seria triste ler alguma coisa numa Estação de Serviço da Catarina Martins a condenar a falta de descrição estética do Ferro Rodrigues e a exigir uma remodelação ministerial. E menos mal que para este tipo de coisas não se convocam Assembleias extraordinárias para a destituição de quem quer que seja. Seria uma tarefa árdua e creio que impossível encontrar um Sousa Cintra capaz de gerir um período de transição na Assembleia da República. Gerir e adormecer um clube de futebol é bem mais fácil e sempre se podem encontrar aliados poderosos como o VAR. A Assembleia da República obriga a negociar com a oposição e não só, obrigaria a negociar com essa figura esbelta e ascendente chamada Assumpta Cristas. Por tudo isto e talvez por evitar um stress de retorno mais agudo, todos os cidadãos, nativos e estranhos, que passaram pelas Estações de Serviço devem reconhecer e agradecer com homenagem incluída, o comportamento de salvação nacional que exibiram.
Foto: pesquisa Google
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