Maximina Girão Ribeiro
Como temos vindo a verificar, através da descrição de outras quintas situadas no território que, desde 1841 é a freguesia do Bonfim, constatamos que predominavam pequenos aglomerados populacionais de características eminentemente rurais, destacando-se neste meio as quintas e as grandes propriedades, cujos proprietários eram a Igreja ou famílias nobres.
O crescimento económico da cidade, sobretudo por via da exportação do vinho do Porto para os países do Norte da Europa fez com que, a partir da segunda metade do século XVIII, a cidade extravasasse as muralhas e nascessem novas quintas, muitas delas na posse de estrangeiros.
Esta quinta, a que agora nos referimos, uma vasta propriedade, foi durante muito tempo conhecida por quinta de Vilar das Oliveiras mas, ao longo do tempo, foi tendo outras designações:

-Quinta de Nova Sintra, porque pertenceu ao Barão de Nova Sintra, de seu nome José Joaquim Leite Guimarães, “brasileiro de torna-viagem”, homem abastado, mas que soube ser um grande filantropo pois, em 1863, no antigo matadouro das Fontainhas, onde já funcionava o Asilo da Mendicidade Portuense, criou o “Estabelecimento d’artes e officios de Barão de Nova Cintra, “[…] em memoria do nosso chorado e moralisador Monarcha o Senhor Dom Pedro Quinto”. No entanto, esta solução não teve grande êxito e o Barão de Nova Sintra criou de raiz o estabelecimento humanitário, com o seu nome, destinado à educação de rapazes pobres, desamparados, situado na rua que hoje tem o nome deste benemérito, tendo sido inaugurado em 1866, pelo rei D. Luís I;

-De 1867 a 1922 era conhecida pela Quinta dos Ingleses, pois era pertença da família britânica, os Reid, negociantes que se estabeleceram na cidade do Porto e que habitaram o belo palacete oitocentista que ainda existe na quinta. Em1922, descendentes da família Reid venderam a propriedade à empresa de joalheiros portuenses, sediados na Rua de Cedofeita, a “Almeida Miranda & Companhia”. Também o FCP pretendia adquirir esta propriedade, a fim de aí construir o seu campo de treinos e a sua sede, mas, já após ter sido objecto de promessa de compra, a Quinta bem como o respectivo palacete foram expropriados, em 1927 pela Câmara do Porto, para aí instalar a recém-criada “Companhia das Águas”, assim como o Reservatório e Central de Nova Sintra, concluídos em 1929. Já em 1932, a Câmara do Porto adquiriu ainda o espaço que estava ocupado por uma empresa hortícola, propriedade dos irmãos Reid, herdeiros do anterior proprietário Robert Reid.

-Quinta das Águas, por aí estarem instalados os Serviços Municipais de Águas e Saneamento (SMAS) que, na actualidade, é designada como empresa municipal “Águas do Porto”.

Mais recentemente, o nome destes jardins foi oficialmente denominado como “Jardins Românticos de Nova Sintra” e foram integrados no Roteiro Cultural da Cidade do Porto.

Hoje, podemos considerar que este espaço verde, arborizado e bem tratado é um verdadeiro museu a céu aberto, dado que alberga preciosos exemplares de fontes e chafarizes que foram sendo retirados da cidade, à medida que deixavam de ter a utilização para a qual foram criados.

Alguns factores contribuíram para a retirada de algumas fontes e chafarizes dos locais onde se encontravam, nomeadamente a expansão da rede de água canalizada levada até às habitações, pois só em 1855 é que começaram a ser projectados os primeiros planos para que este recurso natural chegasse canalizado aos domicílios; as muitas alterações urbanísticas que exigiam a retirada destes equipamentos; também a diminuição de animais de carga e tracção a circularem na cidade que precisavam de beber água, nos bebedouros anexados às fontes e chafarizes…

Durante anos o parque passou por enormes vicissitudes: abandono, falta de investimento, vandalização… factores que contribuíram para que os portuenses quase se esquecessem da sua existência! Só em 2018, após obras de qualificação paisagística e arquitectónica, o parque passou a apresentar condições para ser frequentado por toda a população, em condições aceitáveis, usufruindo deste “pulmão verde” que conta no seu espólio com um património rico em espécies vegetais, animais e em objectos de valor arqueológico.

A área verde deste parque corresponde a 68 500 m2 e é verdadeiramente um refúgio de silêncio, como fuga à agitação da cidade, uma varanda panorâmica sobre o rio e, ainda, enriquecido por uma vertente museológica com tantas fontes e chafarizes centenários que são testemunhos de usos quotidianos de outros tempos, assim como de outras peças de âmbito artístico, a par de outros equipamentos (pavilhões) de concepção arquitectónica contemporânea.

Neste espaço, destaco a belíssima peça escultórica da autoria de Irene Vilar, carregada de simbolismo, representando o Universo (a totalidade do espaço e a totalidade do tempo).

Saliento também a escultura de Julião Sarmento “Self-portrait as a fountain“, belíssima representação feminina, sobranceira a um espelho de água, onde se reflecte a sua imagem que, pela boca, devolve água para o tanque que se encontra a um nível inferior.

Tudo o que relatei é um incentivo para que façam uma visita detalhada a este parque, observando estes e outros aspectos aqui mencionados.
Obs: Por vontade da autora e, de acordo com o ponto 5 do Estatuto Editorial do “Etc eTal jornal”, o texto inserto nesta rubrica foi escrito de acordo com a antiga ortografia portuguesa.
Fotos: pesquisa Google
01nov20
Bom trabalho
Parabéns
Muito bom trabalho…parabéns.
Esta vai ficar em agenda!
Este meu Porto não pára de me surpreender. Mais uma visita a agendar. Obrigado pela pesquisa/publicação. A alma do Porto é imensa
Parabéns Maximina. Apreciei o teu trabalho que, simultaneamente, mima os actuais “70” com uma aragem leve e doce, vinda lá de trás…(tão próximo)…da sorridente frescura nossa, em batas brancas. Um Xi.
Parabéns Maximina. Apreciei muito o teu trabalho que, simultaneamente, mima os nossos 70 com uma aragem leve e doce, vinda lá de trás… (tão próximo)… da frescura nossa, em batas brancas. Um Xi.