O conjunto escultório “Mãos Divinas” da autoria de Marcus Muge, composto por quatro esculturas com referências bíblicas, construído em troncos das centenárias árvores de cedro no adro da Igreja Matriz de Ovar, danificadas a quando de um temporal que se abateu sob o país no dia 19 de janeiro de 2013. Logo se transformou num novo ex-líbris da cidade, com a construção iniciada em agosto daquele ano, da primeira obra deste conjunto escultório, “Mãos de Deus”, a que se seguiram: “A Luz do Mundo”, “A Mão de Jesus” e “Ressurreição e Ascensão de Jesus”, concluída em abril de 2017.
Conjunto de obras de arte em madeira, que foram ainda acompanhadas por painéis de azulejos do mesmo artista ovarense, com “Anjos” em cada um dos lados da entrada principal no Cemitério Municipal de Ovar, que este ano, tal como acontece na generalidade do país, não vai abrir portas às tradicionais celebrações do Dia de Todos os Santos (1 de novembro), evitando assim o cenário de degradação em que se encontra a obra que chegou a merecer reconhecimento do Vaticano e do Papa Francisco, a quem Marcus Muge tinha enviado a memória descritiva, acompanhada de fotografias das esculturas.
José Lopes
(texto e fotos)
Com a decisão coletiva de cancelar tais celebrações, por parte da Câmara Municipal de Ovar, das Juntas de Freguesia e das respetivas Paróquias, ponderada pela atual fase de propagação do vírus Covid-19. O conjunto escultório “Mãos Divinas”, que nos últimos anos se tornou também no Dia de Todos os Santos, motivo de interesse e visita, no enquadramento das celebrações religiosas que fazem aumentar o número de pessoas no adro da Igreja. Com tal decisão no âmbito das medidas preventivas e de segurança em tempo de pandemia, o conjunto escultório “Mão Divinas”, que o próprio autor, Marcus Muge, vem alertando persistentemente para o seu estado de abandono, acaba desta forma por ser dispensado de visitas, incluindo turísticas, nestes dias em que a imagem de acentuada degradação das obras de arte em madeira de cedro, pouco dignificam a principal entrada no Cemitério, contrariando o espirito do projeto e do seu inspirador e autor.
Ainda que um tal empreendimento artístico tenha sido desenvolvido, segundo conceção, planeamento e execução do próprio artista Marcus Muge, sem qualquer tipo de concurso público ou prévia encomenda deste projeto artístico, para a construção de sucessivos elementos escultórios naquele local especifico, pelo Município ou Paróquia. Ao fim de várias fases e negociações com a Câmara Municipal de Ovar para os necessários apoios e aquisição do conjunto escultório, cujas quatro peças acabaram por dar corpo ao significativo conjunto escultório “Mãos Divinas”. Ainda ficaram ideias do artista por concretizar, como obras de valorização na envolvente das esculturas, que permitiriam colocar as raízes à vista ou ainda a instalação de um “telheiro” em toda a área das quatro obras de arte, na entrada do cemitério, para proteger o conjunto escultório “Mãos Divinas”.
Na sua página do facebook, Marcus Muge tem repetidamente alertado, que, “as Mãos Divinas estão abandonadas e em acelerado estado de degradação” (20/09/2020), ou ainda que, “As Mãos Divinas em Ovar com reconhecimento Internacional pelo Papa Francisco e Vaticano, estão agora ao abandono e em acelerado estado a degradarem-se, porque as festas e entretenimentos é que dão votos e espuma politica” (29/09/20). Alusões a eventual falta de cumprimento por parte da Camara Municipal de Ovar no apoio para a conclusão de trabalhos que faltam executar, segundo o artista ovarense que depois de um longo período de gestão autárquica a que foi injustamente ostracizado, acabou, mesmo através de um precedente camarário pouco coerente aos olhos de outros artistas, por ver o Município adquirir uma obra que terá resultado de uma “visão” do seu autor e que mereceu significativo reconhecimento e apoio da população local e turista nacionais e estrangeiros.
Independentemente das razões que opõem o artista e o Município sobre possíveis obras de valorização do conjunto escultório “Mãos Divinas”, o atual cenário de visível degradação da área envolvente das obras, que ficou por concluir, deixando transmitir um estranho abandono de um projeto artístico e de um investimento público, que acabou por ser realizado pelo executivo camarário, o que não é certamente compatível com tal imagem deprimente, que só mesmo com o cemitério encerrado nas celebrações do Dia de Todos os Santos, não será exposta de forma ainda mais ampla tal degradação aos potenciais visitantes.
01nov20