Cristóvão Sá TTmenta
BOMBOCAS E BAZUCAS (II)
Volto de novo a este título. Juntei-lhe o 2 para se diferenciar do texto de Setembro último. Não por acaso que trago agora à discussão. Porque não parecendo, a propósito do orçamento para o ano de 2021 que o Governo está a preparar e que em breve será discutido no Parlamento, a bazuca que ainda demora a aterrar em Portugal suscita muitos apetites. De tal forma que os influenciadores, fazedores e mentores da opinião pública estão superactivos e proactivos a sugerir – às vezes quase a determinar – caminhos e nichos que os milhôes possam percorrer e aportar. Aqueles profissionais, de quem não conheço o seu contributo para o produto nacional, são mesmo brilhantes a explanar os seus raciocínios. Também eles eivados de forte populismo que é panaceia que por aqui vai fazendo escola.
Se encontramos razoabilidade na apresentação de determinadas soluções, também aceitamos outras como possíveis. É que do ponto de vista económico, teoricamente, são ambos caminhos para o bem-estar geral da sociedade. Porém, este bem-estar, é uma noção relativa. Não tem carácter absoluto. Dá muito trabalho estudar e consensualizar sobre qual o indicador compósito universal a utilizar como referencial de uma dada economia. Utopia, sim. Claro que deveria ser feito esse esforço. Mas também é utópico sentar à mesma mesa agentes económicos que representam interesses diferentes e muitas vezes antagónicos. Quem é capaz de incutir em todos esses agentes que a discussão à volta daquele indicador terá de ser despida de qualquer preconceito ético, religioso e ideológico?
Em economia há dois grandes temas tópicos que se estudam logo nos primeiros anos na aproximação a esta área do saber e também do como fazer. A Economia Política por um lado, marcado pelo estudo das relações que se estabelecem entre aqueles que detêm determinados bens materiais e de que forma os poem ao serviço das necessidades humanas. Questões relacionadas com a distribuição, produção, mercados, trabalho, capital, rendas, juros e lucros, são aqui estudadas. Estudos, naturalmente e muitas vezes, balizados dentro de um determinado espaço ideológico. Não é despiciendo analisar estas questões à luz da ideologia judaico-cristã, marxista ou socialista e, com forte pendor nos dias de hoje e a marcar muito o concerto do comércio mundial um vetor de análise marcadamente liberal. Qual a melhor? Respondam os leitores.
A Política Económica está orientada para o estudo sobre o modo de aplicar recursos para se atingir determinados fins. Se o fim último é o bem-estar das populações, para o qual de define uma determinada meta, haverá que escolher entre políticas alternativas desde, por exemplo, a redistributiva que determina de que forma os recursos se devem aplicar para distribuir a riqueza nacional. Mas a opção pode ser a de estabilização da economia – cabe nesta classificação as políticas relacionadas com a gestão da dívida pública e também a do investimento público. Outras políticas poderão ser aplicadas para favorecer o crescimento de determinado setor económico.
Enquanto a Economia Política é muito marcada pela reflexão ideológica que se fizer sobre a sociedade e o que se quer que ela seja, a Política Económica é uma consequência daquela. Sobre as políticas económicas há também muita discussão sobre o peso das alternativas que se podem colocar. É esta discussão que hoje se está a fazer por influência da bazuka que vem a caminho. Discussão que muitas vezes deve muito à honestidade intelectual. É muito difícil confessar-se que se é liberal, melhor muito liberal. Mais ainda que se defende determinado caminho ideológico para a repartição da riqueza. Aos que defendem determinadas soluções não falta tempo de antena. Estes esquecem, porque lhe dá conforto, qual o seu contributo para a reforma do sistema, quando tiveram condições para isso. Entretanto é cada vez maior o fosso entre os mais ricos, em crescimento a nível individual, e os muitos mais pobres. Em nome do liberalismo e do populismo.
Uma nota final: formalmente as relações de força que marcam a dinâmica social não é influenciada pelo côr política de quem é poder. Neste sentido não é difícil identificar quem vai na vanguarda e tudo leva à frente sem olhar a meios. Os vários poderes têm um sentido único para influenciar o caminho duma sociedade.
Cartoon: Sehot
01nov20