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Parem o Mundo, quero sair

Miguel Correia

 

 

Sempre ouvi dizer que a morte está garantida a todos os comuns mortais. Desta vez, foi Quino, o criador da boneca “Mafalda”. Podemos dizer que o cartoonista quinou! (Desculpem, estive três dias a pensar num trocadilho e isto foi o melhor que consegui). A miúda, com espírito irreverente, atravessou gerações e poucos ficaram indiferentes às suas mensagens sarcásticas. O humor tem a capacidade para mudar o mundo. Devagar, é certo.

No entanto, os últimos anos, têm sido marcados por uma corrente ocasional de pensamento que, segundo parece, está cheia de pressa. E, permitam que o diga, estou numa fase de idade em que mudanças súbitas e drásticas soam a ataque cardíaco e, como tal, recuso pensar nisso.

Contudo, o desejo de paz no mundo foi substituído pela ignorância, estupidez e egoísmo. Orgulhosamente difundidos, graças ao maravilhoso mundo digital, num ápice, sem qualquer filtro e por todo o planeta. Ao contrário dos nossos antepassados que embrumaram as suas espadas para explicar (à força) que a nossa vontade era melhor que a dos infiéis, também agora, somos colonizados por um grupo de putos imberbes com acesso a toda uma panóplia de bugigangas digitais e muito tempo livre.

Ao contrário destas últimas gerações – criadas num apartamento minúsculo – fui educado ao ar livre e tive oportunidade de assistir a algumas práticas mais rudimentares. Por exemplo: a matança do porco ou do coelho. Vou poupar os pormenores, mas sabemos que, nos dias de hoje, o proprietário dos animais teria uma manifestação à porta por cometer tamanho crime. Sim, a legislação mudou e os animais são considerados pessoas. Devemos olhar para o porco (ou coelho) como um fiel amigo e deixar de pensar em presunto, bacon e outros derivados.

Na escola primária não havia a mínima hipótese de faltar ao respeito ao professor – figura considerada como uma instituição – porque, na sua secretária, havia uma pequena barra de madeira (ou cana) que, quando em contacto com as mãos, garantia que nunca mais nos esqueceríamos. Actualmente, e por levantar a voz, o professor recebe a visita de algum pai mais revoltado para lhe dar uma traulitada que até anda de lado.

Durante os intervalos havia o instantâneo jogo de futebol (a vedeta era o puto que levava a bola) e sabíamos das regras universais deste momento: os mais habilidosos eram escolhidos de início, o gordo tinha lugar cativo à baliza e as meninas não podiam jogar. E o campo era em gravilha agressiva aos joelhos (e roupa) dos que resolviam cair. Agora, por entre redes sociais, selfies e outras coisas digitais, já ninguém quer saber da prática desportiva. Tanta coisa mudou no espaço de poucos anos.

Nada do que aprendi pode ser ensinado aos meus filhos. Sou um autêntico dinossauro e tendo em conta algumas memórias que descrevi, para alguns, sou uma verdadeira besta retrograda. Nas palavras da “Mafalda”: parem o mundo, quero sair!

 

Imagem: pesquisa Web

01nov20

 

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