Weihua Tang
No início dos anos 80, a maioria dos chineses consideravam a ida para o estrangeiro come algo dificílimo e surreal. Felizmente, duas décadas depois, consegui comprovar este aforismo “Um sonho de hoje, será uma realidade amanhã”. É inacreditável, não é?!
Em outubro de 2003, pela primeira vez na minha vida, sozinha, apenas com duas malas de viagem na mão, saí da China, e vim para Portugal. Desde então, as pessoas consideram-me uma aventureira.
Sinceramente, não sou “determinista”, contudo, acredito muito no destino. Senti que tudo estava destinado, assim que cheguei ao Porto. De facto, a minha vida começou a mudar, quando consegui pedir o agrupamento familiar do meu marido em 2009. Porém, nada era fácil para alguém que, além de não saber falar nada em português, havia deixado completamente a profissão, a família, os amigos e, acima de tudo, a sua terra natal. Conseguem imaginar? O meu marido queria voltar para a China no terceiro dia da sua chegada a Portugal. Seja destino, seja coincidência, ele começou a mudar de ideias quando aconteceu algo connosco.
Para se adaptar o mais rápido possível, todos os fins-de-semana, íamos até uma praça em Matosinhos onde é realizada a feira, para poder praticar a condução. Até que um dia, num sábado à noite de nevoeiro, quando chegámos à rotunda do Norteshopping, em vez de virarmos à direita, entrámos no túnel por engano. Não tínhamos GPS, nem conhecíamos bem aquela zona, e, por isso, continuámos a conduzir sempre em frente. “Todos os caminhos vão dar a Roma”, disse eu, enquanto tentava acalmar o meu marido.
As circunstâncias mudaram quando entrámos na segunda rotunda. Fomos parar a um sítio isolado, cheio de bosques, que estava totalmente escuro, pois não tinha iluminação. O pior, é que não fazíamos ideia de qual seria a nossa saída e ficámos bastante preocupados e receosos. Naquele momento, enquanto andávamos às voltas na rotunda, percebi que estávamos absolutamente perdidos.
Para não perder mais tempo, decidimos ir até onde havia um “raio de luz”, embora fosse um bocadinho longe. Seja como for, era a nossa “última palha” para agarrar.
Finalmente, quando chegámos a uma pequena vila, inacreditavelmente, vimos duas pessoas a conversar à porta de casa. Obviamente, ficaram bastante surpreendidos, quando viram dois estrangeiros, àquela hora, pois era quase meia-noite.
-“Desculpe, perdemos o norte. Onde fica o Norteshopping?” – perguntei humildemente à senhora.
-“Norteshopping?! Ainda é longe.” – respondeu ela.
Mas quando ela olhou para nós e viu que estávamos quase desesperados, de imediato ela mudou de ideias e disse: “Venham atrás de mim”.
Ela entrou no carro dela e foi à nossa frente para indicar a direção do Norteshopping…
Conforme a filosofia chinesa, esta conduta não é obrigatória, é uma verdadeira virtude! Mesmo que nunca soubéssemos o nome da senhora, a imagem de ser uma “portuense” ficou marcada no fundo do nosso coração para sempre.
Sobretudo, não há palavras quanto à sua bondade, à sua gentileza, à sua simpatia, à sua generosidade e à sua hospitalidade. Por isso mesmo, a cidade do Porto trata-se por “Grande Porto”!
Não está muito convencido?! Coincidentemente, há uma história idêntica que aconteceu neste verão especial de 2020. Uma família francesa veio passar o dia na praia e deixaram o carro no lugar da obra de construção. Quando voltaram, descobriram que o carro alugado estava desaparecido, pois, não sabiam que tinha sido rebocado. Sinceramente, eu não fazia ideia onde procurar informações sobre o carro.
Entretanto, eles, chamaram primeiro um Uber para entregar as crianças no hotel. Enquanto isso, fui chamar o meu vizinho Nuno para ajudar. Sem hesitar, ele começou a ligar à polícia para tentar confirmar o paradeiro do carro.
Ainda não tinham chamado outro Uber e o Nuno já tinha tomado a decisão de levar o casal francês no seu carro. Mais uma vez, reparei que havia um olhar de admiração nos olhos do meu marido…
Dezassete anos passaram e eu continuo a viver nesta cidade maravilhosa, impecável e incomparável! Jamais mudarei.
Sendo uma “meia-tripeira”, fico tão feliz e orgulhosa pela minha escolha acertada, pois cidade mais generosa, não há!
Foto: pesquisa Web
01nov20
Cara Candy, é um prazer ler mais uma crónica sobre duas culturas.
A nossa amiga Candy é uma pessoal muito especial para mim… sempre disponível para ajudar, alegre, divertida e, sem dúvida, uma aventureira por quem tenho a maior admiração por tudo o que fez e conseguiu na vida.
Não é qualquer pessoa, mais ainda sendo mulher, que se lança sozinha à aventura para um país distante, não sabendo falar a língua e deixando para trás um marido e um filho pequeno para lutar por uma vida melhor e diferente. É uma lutadora e uma heroína!
O marido é muito simpático e extremamente prestável sempre que precisamos da sua ajuda.
Um casal impecável!!!
Bem- vinda ao Porto!
Gosto muito de ler os seus textos.
<3
Gostei tanto… Só demonstra o grande coração que a “minha Candy tem