Menu Fechar

As Antigas Quintas do Bonfim (07) – Quinta dos Congregados e outras

 Maximina Girão Ribeiro

 

O nome desta antiga quinta deve-se ao facto da vasta propriedade ter pertencido aos Congregados, ou Congregação do Oratório, a chamada comunidade secular de São Filipe Néri, destinada a clérigos seculares, sem votos de pobreza e obediência, dedicando-se à educação cristã da juventude e do povo e a obras de caridade.

São Filipe Néri, fundados dos Oratorianos / Congregados

Os Oratorianos chegaram ao Porto, em 1680, após as diligências iniciadas cinco anos antes pelo Padre Baltazar Guedes. À Congregação de São Filipe Néri foi doada, pela Câmara do Porto, a Capela ou Ermida de Santo António, situada na Porta dos Carros, junto da muralha, assim como um terreno para construção do convento. Na última década do século XVII foi contruída a igreja dos Congregados, num local nas imediações do Mosteiro de Ave-Maria, cuja demolição deu origem, mais tarde, à estação de S. Bento.

O Monte dos Congregados que, na altura era conhecido por Monte de Santa Catarina, havia sido oferecido aos Congregados, pelo rei D. João V, grande protector da comunidade oratoriana. Era uma espaçosa propriedade situada nas encostas do Monte de Santa Catarina e a Congregação do Oratório escolheu-a para sua quinta de recreio e repouso. Aí construíram a casa com hospital, espaços para serem usufruídos pelos elementos da Congregação. A ocupação do Monte de Santa Catarina por esta Congregação, acabou por tomar o nome pelo qual ainda hoje é conhecido – Monte dos Congregados.

Vista aérea do Monte dos Congregados

Para encontrar este lugar da cidade, basta ir pela rua da Alegria, encontrar a rua Monte dos Congregados, virar à direita para chegar ao velho Jardim do Monte do Tadeu. Depois, vira-se novamente à direita até poder chegar a uma escada que dá acesso ao Miradouro. Atinge-se, então, o ponto mais alto, geograficamente, de toda a cidade do Porto, o Monte do Tadeu.

Deste Miradouro desfruta-se de uma vista magnífica sobre a cidade e, em dias mais límpidos, alonga-se o panorama e divisa-se quase todo o Grande Porto, desde Matosinhos, Valongo, Gondomar e Vila Nova de Gaia, além do Oceano Atlântico e do Rio Douro com todas as pontes que fazem a ligação da cidade do Porto com a cidade de Gaia.

A ocupação desta zona pelos Congregados terminou em 1834, ano que corresponde à extinção das Ordens Religiosas, ficando a propriedade na posse do Estado (Câmara do Porto), que acabou por vendê-la, em hasta pública, por um preço baixo, a um “brasileiro de torna-viagem” de apelido Moreira, o mesmo que deu nome à rua do Moreira. Este José António Gonçalves Moreira passou a explorar, a partir de 1852, uma grande pedreira aí localizada. Parte da pedreira ainda existe no actual espaço da Cooperativa dos Pedreiros que foi construída sobre ela e de onde se extraiu o material de construção. Com a exploração da pedreira e com a cedência de terrenos feita por José António Moreira tornou-se possível a abertura de novas ruas e o prolongamento de outras, como é o caso da rua de S. Jerónimo, mais tarde denominada por rua de Santos Pousada.

Nos finais dos anos trinta do século XIX, começou o desmembramento da Quinta dos Congregados (divisão em talhões para vender para a construção de habitações), nascendo novas ruas e novos aglomerados habitacionais, nesta zona, a mais alta da cidade do Porto. Aí surgiram, entre outras, a Rua do Monte dos Congregados, situando-se a mesma entre a Rua da Alegria e o velho Jardim do Monte Tadeu, ou do Tadeu, por fazer parte da quinta do Tadeu, em cujos terrenos se abriu a Rua de Anselmo Braancamp.

Rua do Monte Tadeu

Para se chegar ao cimo do Monte pode-se entrar pela Rua do Monte dos Congregados (a rua mais alta de toda a cidade), pela Rua Particular de Santo Isidro, ou pela escadaria existente no cruzamento da Rua de Anselmo Braancamp com a Rua do Monte Tadeu. A parte que hoje corresponde ao monte Tadeu e a respectiva quinta foram adquiridos por um homem de nome Tadeu, Tadeu António de Faria, passando o local a tomar o nome do seu proprietário.

Durante o cerco do Porto (1832/33) o Monte do Tadeu teve um papel preponderante, pois os liberais instalaram nesse local uma bateria de defesa, a Bateria dos Congregados que protegia as baterias militares da Praça da Aguardente (hoje Praça Marquês de Pombal), a bateria de D. Pedro e D. Ma­ria II, no sítio do Sério (Rua de Antero de Quental), da Ramada Alta, reduto das Medalhas, em Vale Formoso e dos fortes de São Brás e da Glória, junto à Lapa e a do Monte Pedral…

Bateria da defesa da cidade, no Monte dos Congregados

Nessa época do cerco, também ali funcionou uma Estação Telegráfica, como apoio às acções militares. Foi, sem dúvida, um ponto estratégico, de observação dos Generais de D. Pedro IV.

Mais tarde, no cimo do Monte dos Congregados esteve instalada a Compagnie Géneral des Eaux Pour l`Etranger, empresa francesa que foi a concessionária do abastecimento de água à cidade do Porto, desde 1887 até 1927. Nesse local, no alto da pedreira, foram construídos depósitos de águas, explorados por essa companhia francesa. Presentemente alberga os reservatórios de água dos Serviços Municipalizados.

Reservatório de água

Permitam-me uma observação pertinente sobre os lugares a que hoje nos referimos: o Monte dos Congregados e o Monte Tadeu. Estes lugares parecem ser completamente desconhecidos para a maioria dos portuenses – são ainda locais quase secretos. Existe um abandono e um desleixo em todo o local que poderia ser mais atractivo se fosse requalificado urbanisticamente, aproveitando todas as enormes potencialidades que possui, enquanto sítio privilegiado para observar toda a envolvência que o rodeia.

Para finalizar, poderia referir ainda outras quintas do Bonfim, nomeadamente a do Manada, António Alves Manada que se situava nos locais que hoje são as ruas de D. Agostinho de Jesus e Sousa, Carlos Passos, jardim Paulo Valada,… Eram terrenos muito ricos em água, com grandes lameiros onde pastavam vacas, cujo leite era comprado pelas pessoas das redondezas. Para além desta, também existiram a quinta do Enxofre, junto da quinta da China, a quinta das Oliveiras, a quinta de Aurélio Paz dos Reis, com horto e estufas, em Nova Sintra e… outras muitas outras existiram no Bonfim, mas delas nada ou muito pouco reza a história…

 

Obs: Por vontade da autora e, de acordo com o ponto 5 do Estatuto Editorial do “Etc eTal jornal”, o texto inserto nesta rubrica foi escrito de acordo com a antiga ortografia portuguesa.

 

Fotos: pesquisa Web

 

01dez20

 

Partilhe:

5 Comments

  1. HC

    Gostei de ler. Procuro informções sobre a Igreja dos Congregados que existiu no Largo da Aguardente, pergunto de a casa com hospital tinham igreja anexa, sabr inde posso encontrar informação? obg

  2. Maria Emilia Silva

    Gostei muito de ler este artigo que é sugestivo de um belo local de interesse histórico e também fotográfico.

  3. Leontina Esteves

    Gostei muito deste artigo.Tem imenso interesse conhecermos o existia nos sítios onde passamos actualmente. Obrigada Maximina Girão pela sua preciosa pesquisa .

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado.

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.