Weihua Tang
Este ano inesquecível de 2020 está a acabar. Finalmente poderíamos ter aulas presenciais.
Na primeira aula, um aluno disse que o seu avô paterno era chinês. Por acaso, ele também tem muitos amigos chineses e conhece muito bem a cultura chinesa. Enquanto estávamos a aprender os números (algarismos), ele contou que um amigo chinês desistiu de comprar um carro porque saíram dois números quatro (44) na matrícula. Então, porque é que os chineses são tão obcecados em números?!
O número quatro, na numerologia chinesa é considerado má sorte, pois a pronúncia em Mandarim do “quatro” é semelhante ao som da palavra “morrer”, ou seja, são palavras homófonas, segundo a gramática da língua chinesa. Além disso, embora tenha a diferença fonética entre os dois caracteres, em Mandarim, contém apenas na diferença de tons e, normalmente, as pessoas não fazem qualquer ligação entre essas duas palavras. Contudo, o número quatro é desagradável, temido, odiado e banido. Na realidade, não fiquei nada admirada pelo que o meu aluno contou, porque já aconteceu exatamente a mesma história comigo.
Sendo uma chinesa de gema, também não queria nada que tivesse o número quatro. Ainda me lembro daquele dia em que fomos a casa de uma amiga portuguesa para comprarmos o carro dela. Antes de começarmos a falar do valor, insinuei logo que não íamos avançar, caso tivesse o número quatro na matrícula. O marido dela não conseguiu esconder as suas gargalhadas, mas não disse nada, pois julgava que eu estava a brincar.
Sinceramente, acredito muito em “Murphy’s Law”. No momento em que me mostrou o certificado do carro, o meu sorriso desapareceu de imediato. Sabe porquê? Porque os últimos dois números são catorze (14), pior do que ter só o número quatro. Conforme a interpretação dos números, neste caso, o número um quer dizer “ir”. Então, catorze literalmente significa “vai morrer”. Sinceramente, não soa bem nem sabe bem. Olhei para o meu marido e ele também revelou a sua insatisfação.
Quando expliquei o motivo de desistirmos, devido ao número quatro, o marido da amiga ficou surpreendido e boca aberta. Notou-se que ele não acreditava no que eu tinha dito. Ele tentou acalmar-se e aproximou-se de mim.
-“Ó chinesa, o que é que tens no teu pensamento?!” – perguntou-me com a reação perturbada, enquanto tocava na minha cabeça.
-“Desculpem-me. É a nossa cultura oriental. Não sou supersticiosa, mas queríamos evitar qualquer ‘azar’ quando podemos.” – respondi com uma expressão facial embaraçosa.
Aos olhos ocidentais, parece inimaginável e ridículo, não é?! Na realidade, ainda nem tínhamos chegado a falar do negócio, e já o estávamos a fechar com um grande “ponto final”!
E quando não conseguimos controlar a situação para evitar um azar?!
Tive um acidente de carro em dezembro de 2019. A culpa era totalmente da outra condutora. Infelizmente, a condutora tentou enganar-me, intencionalmente, para não assumir a responsabilidade.
Não acreditam?! Foi o quarto acidente !!!
Foto: pesquisa Web
01dez20
O seu artigo trouxe-me uma lembrança de quando cheguei a Macau pela primeira vez e fiquei espantada porque não existia o piso 4 no hotel onde fiquei (nem em nenhum hotel de Macau). Já agora fico a aguardar um artigo sobre o número 8. Obrigada!
Sempre muito interessante Professora Weihua. Obrigada