Sem o espaço mediático conquistado no período inicial do novo coronavírus que catapultou o concelho de Ovar para centro de todas as atenções na resistência à Covid-19 através do estado de emergência e da cerca sanitária que o Governo se limitou a satisfazer, uma tal medida desenhada pelas entidades de saúde local e Município de Ovar, em que se destacou o presidente Salvador Malheiro.
Cerca sanitária que se repetiria por igual período, acabando por dar lugar a medidas que continuaram a deixar Ovar com mais condicionalismos e exceções no confinamento que o país vivia. Agora sem espaço para dramatismos e protagonismos a gestão da pandemia segue ao ritmo do país.
José Lopes
(texto e fotos)
Foi uma dura experiencia que inicialmente gerou algum consenso, mas acabaria por dar origem a focos de contestação e de preocupação com as consequências económicas que daí resultaram, sem elementos suficientes que justificassem tal dramatização. Ainda que então, o conhecimento sobre a evolução da pandemia fosse ainda mais incipiente. Acabando por ser terreno fértil para o tipo de discurso e campanhas que rapidamente tornaram Ovar como terra de risco acrescido para os próprios vizinhos, e daí a cerca sanitária que deixou muitas cicatrizes por sarar, ao ponto de o próprio Vice-presidente da Câmara Municipal de Ovar, Domingos Silva, que acabava de vencer a estrutura concelhia do PSD, ter admitido em entrevista ao “P 24” suplemento do jornal Público, que, “olhando para trás, se calhar, poderia ter sido evitada a cerca sanitária, mas foi a autoridade de saúde a responsável”, afirmou o autarca que sempre acompanhou Salvador Malheiro e o executivo camarário ao longo dos dois períodos do cerco sanitário e todas as medidas tomadas, mesmo sem o devido acompanhamento dos vereadores da oposição, no caso do PS que entretanto divulgou aspetos considerados estranhos, segundo uma auditoria que realizou às contas da Câmara no âmbito do cerca sanitária. Uma polémica que o BE com representação na Assembleia Municipal, também quer que o Ministério Público investigue.
Com o foco das atenções concentradas em Ovar até às cerimónias do Dia do Município a 25 de julho, que teve honras da presença de membros do Governo, como a Ministra da Saúde, Marta Temido e o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. Salvador Malheiro, não se coibiu de mandar recados políticos para o seu congénere da Câmara de Lisboa, sugerindo cerco sanitário.
O autarca de Ovar e vice-presidente do PSD, que na altura se destacou para que o Governo decretasse a cerca sanitária ao seu Município, acabou a argumentar que o Governo e autoridades de saúde decretaram a criação de uma cerca sanitária quando foram registados 25 casos de Covid-19 em Ovar. Alegando por isso que, no momento em se registava um surto a sul e particularmente na capital, com taxa de transmissão do vírus superior à de março no concelho de Ovar, questionou os diferentes critérios do Governo para não fazer o mesmo em Lisboa.
No entanto a evolução da pandemia rapidamente voltou a acentuar-se no norte e centro, colocando de novo Ovar no nível dos concelhos de risco muito e extremamente elevado, sujeito às medidas que vêm sendo sujeitas a renovações, de proibição de circulação na via pública, todos os dias, entre as 23h00 e as 5h00. Bem como a manutenção da proibição de circulação na via pública aos sábados, domingos entre as 13h00 e as 5h00, a que se acrescenta a proibição de circulação na via pública nos feriados de 1 e 8 de dezembro entre as 13h00 e as 5h00. Proibições que implicam o dever de permanência no respetivo domicilio, com algumas exceções devidamente salvaguardadas.
Sem o palco mediático dos meses iniciais da pandemia em Ovar. Os surtos que se replicaram pelo país, com grande incidência nos Lares, dispersaram as atenções da comunicação social, aliviando a pressão negativa sobre os vareiros ainda mal refeitos de todas as consequências económicas, sociais e humanas. Ainda que os números de novos infetados acompanha-se a tendência nacional, exigindo continuados apelos, campanhas e sensibilização para todas as medidas de segurança.
Foi assim que se chegou ao dia 14 de novembro, o primeiro fim-de-semana com proibição de circulação na via pública a partir das 13h00. Medida de confinamento que registamos nesse sábado pelas principais artérias da cidade de Ovar (fotos que ilustram este trabalho), ainda que numa tarde de chuva, em que os números contaram com 39 novos casos de Covid-19 no Município de Ovar. O primeiro fim der semana de medidas que se fizeram sentir drasticamente sobre a restauração, e que deixou em Ovar mais 1 óbito, tendo surgido mais 32 novos casos e 31 pessoas recuperadas, num total de 453 casos ativos.
Neste primeiro fim-de-semana das medidas proibitivas, Salvador Malheiro chegou a lembrar no facebook que, “no pico da pandemia, na primeira vaga, chegámos a ter mais de 540 casos ativos. O nosso país, nesse período, quase chegou aos 25 mil casos ativos. Hoje vivemos um momento crítico!”, acrescentando que, “o nosso município tem, neste momento, 453 casos ativos (85% do máximo da primeira vaga) e o nosso país tem mais de 88 mil casos ativos (345% do máximo da primeira vaga). Infelizmente Portugal mais que triplicou o número de casos ativos”. O autarca realçava também que, “o nosso município, apesar do número crescente de novos casos, ainda não atingimos os números da primeira vaga”.
Saltou entretanto a polémica sobre o porquê de a Câmara Municipal de Ovar não ter reaberto o Hospital Anjo d´Ovar, considerando o aumento de casos e a pressão sobre os hospitais, como o São Sebastião. A esta questão Salvador Malheiro respondeu que, “em Março/Abril, Ovar estava sujeito a medidas mais restritivas do que todo o resto do País. Tínhamos uma situação pandémica gravíssima e bem pior do que no resto do território nacional. Estávamos sós. Ninguém cá entrava. Tivemos que resolver os nossos problemas sozinhos, inclusivamente em substituição do Ministério da Saúde”.
Foi por isso “nesse contexto que montámos em tempo recorde o nosso Hospital Anjo de Ovar que funcionou como uma extensão do Hospital de Ovar. Foram contratados médicos, enfermeiros, e assistentes operacionais. Comprámos camas articuladas, comprámos monitores de sinais vitais, instalámos uma rede de oxigénio, instalámos um sistema de aquecimento, etc., etc.”.
E a propósito dos custos que levantaram ainda mais dúvidas e polémicas entre os partidos e a população, disse que foi a Camara Municipal que, “suportou a maior parte de todas estas despesas com dinheiro que pertence a todos os vareiros. No final, para além de não termos sido ressarcidos destas verbas pelo governo, ainda recebemos uma fatura para pagar referente a uma taxa de Hospital de Campanha. Claro que não pagamos! E passados uns dias o governo retrocedeu e isentou os hospitais de campanha dessas taxas! Por outro lado, por parte de alguma oposição socialista na Camara e na Assembleia Municipal, foram levantadas questões sob a forma como estes serviços foram contratados e os respetivos fornecedores onde foi colocada em causa a nossa seriedade”.
Concluindo que, “hoje é diferente. Temos mais 190 concelhos nas mesmas condições que nós. Quem tem que gerir o problema da pandemia é o Governo da Nação”. Por isso afirmou, “estamos e estaremos sempre para colaborar, mas como devem compreender, desta vez o Anjo d’Ovar só será reativado por solicitação do Ministério da Saúde e em condições protocoladas por ambas as partes”.
Na sequência de tal justificação assumida publicamente sobre as razões da não reabertura do Hospital Anjo d´Ovar, e perante o pedido pela administração do Hospital da Feira, a Camara Municipal de Ovar veio a ceder “8 monitores de sinais vitais para equipar uma nova “ala” Covid que está a ser preparada na Feira!”.
Na linha da comunicação privilegiada com os munícipes através da rede social facebook, Salvador Malheiro, deixou na véspera de mais um fim-de-semana e feriado com todas as medidas restritivas e proibitivas à circulação. Os números do dia 26 por freguesias, em que se registaram os seguintes dados de casos ativos, através do gráfico que apresenta diariamente: Ovar 147; Esmoriz 94; São João 45; Válega 40; Cortegaça 39; Arada 39; Maceda 20; São Vicente de Pereira 20. Casos que não deixam baixar a guarda e reforçam apelos para cumprimento de regras.
01dez20