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Festovar 2020 encerrou com “Pranto de Maria Parda”

Pelo caminho apertado a que as atividades culturais foram sujeitas na sequência das medidas de emergência e confinamento, a programação da 27.ª edição do Festival de Teatro de Ovar – Festovar 2020, organizado pela Companhia de Teatro Água Corrente de Ovar – Contacto, acabou por ser em parte reduzida, com o pano do Auditório Manuel Ramos Costa na Casa da Contacto, a não subir para duas das propostas que estavam anunciadas.

Foi o caso do trabalho infanto-juvenil, “Chef Giovanni e o Tesouro da Alimentação Saudável” de Sérgio Macedo, da Companhia de Teatro de Santo Tirso. O mesmo acontecendo com a comédia, “Aniversário do Casamento II” de Fernando Pinheiro, da Nova Comédia Bracarense.

 

José Lopes

(texto e fotos)

 

Um Festovar também atípico devido à pandemia, que a Contacto realizou e surpreendeu o público com três extraordinárias produções teatrais, entre a comédia e a farsa dramática, todas com encenação de Manuel Ramos Costa, que, para alem do programado encerramento no Centro de Artes de Ovar – CAO (20 de novembro) com a estreia de “Pranto de Maria Parda” de Gil Vicente, a 74.ª produção da Contacto. Acabou por vencer o desafio de ultima hora, na adaptação “O Urso” de Anton Tchekhov ao palco do CAO, como alternativa às medidas de confinamento.

Como afirmou o ator José Ferreira, rodeado pelo elenco da peça “Pranto de Maria Parda”, no final da sua representação no CAO, e num sentido agradecimento que fez no encerramento, “como dizia o Fernando Rodrigues, Diretor do Festival no seu texto do programa: Vamos Vencer o desafio, e eu retifico: Vencemos o Desafio!”. Ao que o público correspondeu com aplausos, ainda que, mesmo sem o tradicional ritual nestes espetáculos teatrais, limitados pelas rígidas medidas de postura na plateia, os aplausos e os, vivas ao Teatro, pareciam mais, agradecerem a coragem da Contacto em manter no essencial este certame, tanto mais indispensável neste tempo de inquietações.

Limitado também na cerimónia de encerramento, sem discursos das várias entidades, como os autarcas presentes, esta edição do Festovar teve no final apenas os artistas em palco, para reafirmarem, como realçou José Ferreira, “tudo fizemos para manter este certame, desde a realização de apenas um espetáculo por fim de semana passando pela redução do número de lugares do nosso auditório a um sem número de medidas de prevenção respeitando as recomendações das autoridades sanitárias”. E como lembrou, “já mesmo depois do seu início as medidas restritivas entretanto impostas fizeram-nos ter de reagendar uma das nossas estreias para data posterior (estreou neste mesmo palco – «O Urso», a 7 de novembro, graças à boa vontade da nossa Câmara)”, referindo-se à disponibilização do CAO no âmbito da sua programação cultural.

Mas como também reconheceu o ator e vice-presidente da direção da Contacto, foi, “graças ao esforço e dedicação de uma equipa de trabalho empenhada e coesa conseguimos trazer até hoje esta 27ª edição sempre respeitando as medidas em vigor. É um orgulho para nós termos chegado ao fim e deixo aqui uma palavra de grande apreço a todos os membros e colaboradores”.

Por fim acrescentaria que, “apesar de todos estes contratempos e de todas as restrições sanitárias provámos que, respeitando as medidas em vigor, com zelo e planeamento conseguimos alcançar este objetivo: estamos todos de parabéns – nós e vocês que nos acompanharam!”, dirigindo-se ao público que acabou ironicamente por beneficiar de uma sala com maior lotação, mesmo com todas as medidas de distanciamento físico. Restrições ainda mais acentuadas neste último espetáculo, que, nem mesmo incluíram a habitual entrega de flores e do Trofeu Festovar, que este ano foi uma peça original do ceramista vareiro Sandro Reis.

Sem oportunidade de poder partilhar no palco com os atores que dirigiu, a alegria de mais um sucesso por si encenado para encerrar mais um Festovar. Manuel Ramos Costa, que há vários anos vem surpreendendo o público e a comunidade teatral no país, com as suas obras e produções teatrais. Mesmo nas limitadas condições de uma edição marcada pela pandemia, o seu trabalho superou espectativas na programação, desde logo a personagem de “Maria Parda”, que, Andreia Lopes volta a interpretar após duas décadas em que desempenhou de forma arrebatadora, uma outra produção da Contacto “Parda Flor Bela”.

Destacam-se nestas três produções da Contacto que a pandemia não impediu de subirem ao palco, no caso do CAO, em que o elenco de “Pranto de Maria Parda” composto por: Andreia Lopes; António Ferreira; Dorinda Resende; Fausto Dias; Inês Lopes; José Ferreira; Laura Poças e Palmira Rodrigues. Um extraordinário lote de artistas que brilharam nesta “espécie de monólogo, no qual o autor dá voz a Maria Parda”. Subiram igualmente ao palco do CAO para representar “O Urso” de Anton Tchekhov, os atores: António Ferreira; Margarida Martins e Miguel Duarte. Uma divertida comédia de costumes, “tendo como pano de fundo a Rússia dos finais do séc. XIX”. Mas as surpresas nas produções da companhia anfitriã do Festovar, tinham-se revelado já na abertura do certame, com “Um Pedido de Casamento” também de Anton Tchekhov, escrita em 1889. Igualmente uma divertida comédia, representada por: José Ferreira; Juliana Almeida e Luís Ribeiro. Que na sequência do reagendamento da programação, acabou por subir ao palco da Casa da Contacto em duas sessões.

Como Manuel Malícia conclui no seu texto “A Pandemia e o Teatro” (Boletim N.º24 Água Corrente), “aqui se encontra um excelente exemplo de como a peste convive bem com a literatura e a enaltece. Apesar do tempo que vivemos também nos colocar no centro da pandemia, todos sabemos que o mal mortífero já não é um castigo dos deuses. Só esperamos que não se alastre nas más decisões de homens sem escrúpulos. Isto a literatura também poderá ajudar a perceber.”

 

01dez20

 

 

 

 

 

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