Obras de grandes mestres da cerâmica e da pintura, que fazem parte do acervo do Museu de Ovar, estão desde o dia 21 de novembro reunidas numa exposição coletiva que pode ser visitada até finais de janeiro. A mostra tem a particularidade de juntar peças de arte em cerâmica e pintura a óleo ou aguarelas, por temáticas representadas nas próprias obras ainda que de anos distintos.
José Lopes
(texto e fotos)
Este projeto de valorização das obras de arte do acervo do Museu de Ovar, que desta forma vão sendo dadas a conhecer, são o resultado de uma aturada pesquisa das técnicas desta Instituição, Leonor Silva e Rafaela Carvalho, que, mais uma vez revelaram alguns dos tesouros artísticos ali guardados, proporcionando uma diferente abordagem da curadoria temática para a Exposição Coletiva de Cerâmica e Pintura do Acervo do Museu de Ovar, que pode ser vista na Sala José Augusto de Almeida, Fundador e 1.º Diretor do Museu de Ovar, quando se assinala o 60.º aniversário.
Percorrer tema a tema proposto, de algumas das tradições culturais e populares em cerâmica e pintura, é uma rara oportunidade de contemplar obras de artistas multifacetados de diferentes épocas e “escolas de arte”, que tornam o certame mais apelativo, despertando surpreendente curiosidade nos visitantes, que podem ver peças de arte em barro dos ceramistas Alberto Miguel e Fernando Miguel, pai e filho, das Caldas da Rainha, ou José Franco, assim como Armando Andrade, o pintor e ceramista natural de Ovar, cujo conjunto de obras expostas representam valiosos elementos do património da arte cerâmica portuguesa. Tal como na pintura, através de nomes que incluem, Jaime Martins Barata, Carlos Alberto Santos, Paulo Gama, Roque Gameiro, Rosa Rodrigues ou Joaquim Lopes.
A pesca é um dos temas (1928) abordado através de uma tela do pintor e ilustrador Jaime Martins Barata, enquadrado por peças de barro com figuras sobre esta arte, representando o pescador e a vendedeira (1985), da autoria da ceramista Maria José.
Jaime Martins Barata, o artista plástico que nasceu a 7 de março de 1899 no Alentejo e faleceu a 15 de maio de 1970, foi um dos mestres, que, deu o privilégio ao Museu de Ovar de o ter representado no seu acervo, a exemplo de outro mestre como Roque Gameiro, igualmente representado nesta exposição coletiva. Dois nomes grandes das artes, que entre as muitas e extraordinárias histórias que o Museu de Ovar também guarda ao longo da sua existência, têm a particularidade de Roque Gameiro ser então já uma figura estabelecida nas artes, quando Jaime Martins Barata frequentava as salas de desenho da Sociedade Nacional de Belas-Artes, vindo a conhecer e a casar com uma das filhas de Roque Gameiro. O aguarelista que nasceu a 4 de abril de 1935, Alcanena, Minde.
A aguarela (1934) de Roque Gameiro, em que sobressaem símbolos dos navegadores, é acompanhada pela obra em barro, “O Navegador” (1998), do ceramista Fernando Miguel, filho de outro mestre ceramista, Alberto Miguel, uma família de artistas com atelier desta arte popular nas Caldas da Rainha. Por seu lado a arte em barro (1990) da autoria de Alberto Miguel, acompanha nesta exposição um óleo de Paulo Gama.
Estes mestres, pai e filho, Alberto Miguel e Fernando Miguel, deram continuidade à tradição familiar de produzir cerâmica figurativa, sacro e satírica, caricatural da tradição caldense. Alberto Miguel, que nasceu a 20 de janeiro de 1932 em Oiã, Aveiro, e faleceu em 1997, dá nome ao Museu Alberto Miguel, que reúne no espólio muita da sua obra nas Caldas da Rainha para onde foi viver com o pai após o falecimento da sua mãe, terra de Bordalo Pinheiro e natural influencia, em que Alberto Miguel se afirmou também na continuação da arte do seu pai e avo materno, Artur Caldeira, um oleiro tradicional da época.
Ao empreendimento ceramista do autodidata visionário e altruísta, Alberto Miguel, juntou-se também o seu filho Fernando Miguel, que se veio igualmente a dedicar ao artesanato com reconhecimento em vários pontos do mundo. Fernando Miguel, nasceu em 1958 nas Caldas da Rainha e aprendeu a contatar com a cerâmica que já vinha dos seus antepassados, prosseguindo esta arte da cerâmica figurativa que o Museu de Ovar tem o privilégio de poder contar com algumas das suas obras no seu acervo, como as que agora estão expostas.
Um outro nome grande da arte da olaria, é o ceramista e escultor José Franco, que nasceu na típica aldeia do Sobreiro, Mafra, em 1920, que está igualmente representado nas coleções de arte do Museu de Ovar. José Franco dedicou-se principalmente à arte-sacra, sendo por isso conhecido em todo o mundo, podendo encontrar-se obras da sua autoria inclusivamente no Vaticano. No entanto, a sua obra mais conhecida e popular será a Aldeia típica de José Franco, construída em miniatura. Da autoria deste artista, destaca-se na exposição a figura de uma “Assadora de Castanhas”.
Nesta exposição que desperta curiosidades sobre os vários artistas representados, como um autêntico mostruário de correntes artísticas e escolas de arte. Ainda é possível rever a peça em barro “Varina” (1983) do escultor e ceramista Armando Andrade, natural de S. Vicente de Pereira, Ovar, onde nasceu a 19 de maio de 1908, deixando uma vasta obra depois de uma intensa vida artística, que incluiu o percurso profissional credenciado em várias fábricas de cerâmica do país, destacando-se com apenas 18 anos de idade, na chefia da secção de escultura da Vista Alegre, incluindo passagens por França e Brasil. Armando Andrade foi também um exímio retratista e paisagista. Um mestre de gerações de ceramistas que o Museu de Ovar justamente trás à memória desta forma simples, mas recheada de simbolismo na valorização dos artistas e das obras que deixaram e assim são perpetuadas no tempo.
01dez20