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O coronel CASTRO CARNEIRO (capitão de Abril) e os relatos vividos, no terreno, no 25 de Abril de 1974 até ao 25 de novembro de 1975! Eis, os factos; as perguntas (quase) sem respostas, e as provas de quem ajudou a restituir a Liberdade aos portugueses…

Concluímos nesta edição, uma entrevista iniciada no passado número do “Etc e Tal”, com o coronel Castro Carneiro, “capitão de Abril”.

Se no pretérito mês de novembro, as atenções centraram-se na Guerra Colonial, hoje, a conversa liga no tempo, e por relatos históricos, factuais e vividos no terreno, o 25 de Abril ao 25 de Novembro.

O nosso entrevistado é dos tais que não tem papas na língua, mas nem por isso deixa de falar com segurança e credibilidade, atendendo a dados factuais, irrepreensíveis, que dá a conhecer, a si caro(a) leitor(a), isto num abordar de temas fora-de-época, ainda que há semanas se tenha relembrado o 25 de novembro.

Neste tipo de entrevistas em que os factos ultrapassam a mera retórica circunstancial, pode assistir-se, a dada altura, a um certo tipo monólogo, o que, é, desde já, compreensível, dada a importância que se reveste a temática no contexto da História de Portugal, ainda hoje, relatada por intervenientes vivos.

Vamos recuar no tempo, mas numa viajem que não é tão longa quanto isso, já que 46/47 anos em História é um espaço relativamente curto e, como tal, ainda suscetível a comentários e reações, a estudos ainda por fazer, que, contudo, na entrevista que se segue, se esbatem com factos… os factos revelados e relevados pelo coronel Castro Carneiro.

O jornal Etc e Tal, com esta entrevista, marca presença no contributo que dá para o avivar de certas memórias esquecidas por esquecimento, ou estrategicamente esquecidas por outros motivos.

A palavra, então, ao coronel Castro Carneiro…

 

José Gonçalves (texto)    Carlos Amaro (fotos)

         

  

II (FIM) – DO 25 DE ABRIL AO 25 DE NOVEMBRO

 

 

Quando é que as coisas se começam a encaminhar no concreto, para que o 25 de Abril fosse uma realidade?

“No dia 01 de Setembro de 1973, tinha terminado a minha 2.ª comissão no M´Pozo e encontrava-me em Luanda a tratar da comissão liquidatária da minha companhia para poder regressar a Portugal.

Depois de jantar fui até ao centro de Luanda tomar um café à Versalhes, onde era habitual juntarem-se sempre bastantes militares. Um dos meus instrutores na Academia Militar, ainda capitão como eu, embora bastante mais antigo, veio ter com o grupo em que eu estava integrado e informou-nos da reunião que ia acontecer na Companhia de Comando e Serviços (CCS/QG/RMA) do Quartel-general da Região Militar de Angola. Todos o acompanhamos a essa reunião de onde saiu um requerimento dirigido ao Presidente do Conselho de Ministros de Portugal com 94 assinaturas, se as contei bem. Numa situação normal, todos deveríamos ter sido punidos por não termos respeitado as vias hierárquicas como era nossa obrigação. Mas, não. O governo português já estava a ‘cair de podre’…”

… não reagiu?!

“Não podia. Se a memória me não falha, em 18 de Julho tinha havido uma reunião semelhante na Guiné e em 9 de Setembro foi a reunião do Monte Sobral aqui em Portugal. Com tantos capitães unidos pelo mesmo propósito o que que eles iriam fazer? Prendiam-nos?

Mais tarde quiseram comprar-nos com dinheiro! Nunca foi esse o caminho para os militares!”

O Estado, no fundo, já estava à espera que fosse acontecer algo…

“Tinha de ser. No fundo acabamos por resolver um problema ao Marcelo Caetano já que em Fevereiro de 1974, depois de ler o livro do Spínola, Portugal e o Futuro, confessa: “ao fechar o livro tinha compreendido que o golpe de Estado militar, cuja marcha eu pressentia há meses, era agora inevitável”; dias depois chama Costa Gomes e Spínola e convida-os a tomarem o poder, o que ambos recusaram. Anteriormente ainda em 1973 tinha estabelecido contactos com os movimentos de libertação de Angola, Moçambique e Guiné na tentativa de resolver o problema colonial…”

SE TIVER QUE INDICAR UM DIA PARA O INÍCIO DO MOVIMENTO, INDICAREI O DIA 09 DE SETEMBRO DE 1973

Portanto, ele como que deixou andar a coisa…

“Sim, penso que nenhum dos presentes na CCS/QG/RMA, se afligiu muito por assinar coletivamente o requerimento. O que é que ele poderia fazer? No máximo deixar-nos lá ficar. Se assim tivesse acontecido penso que teríamos chegado ao 25 de Abril, antes do que chegamos…”

Enviam essa carta; não há reação à mesma! Então, quando é que começa o movimento?

“Como referi as reuniões começam em Portugal e no Ultramar em dias diferentes embora muito próximos. Se tiver que indicar um dia para o início do movimento, indicarei o dia 09 de Setembro de 1973, dia da reunião de Évora. Essa foi a 1.ª reunião em Portugal.”

Entretanto, o, na altura capitão, Castro Carneiro, regressa à Metrópole?!

“Vim em Setembro de 1973, devo ter-me apresentado no CICA 1 em Outubro e a partir daí foram as reuniões que se conhecem…”

Depois o “tiro de partida” foi dado no dia 24 de Abril?

“No dia 24 de Abril eu distribuí, com o Alferes Pego, a Ordem de Operações às Unidades de Lamego, Vila Real e Bragança; foi realizada em casa do Major Albuquerque uma reunião para o entregar aos oficiais do Movimento da Guarnição Militar do Porto; outro oficial do CICA 1, penso que o Major Borges, foi entregar a Ordem de Operações às Unidade da Póvoa do Varzim, Braga e Viana do Castelo.

NO PORTO FOI, RELATIVAMENTE, FÁCIL FAZER O 25 DE ABRIL…

E que mais faz nesse período? Antes, ou durante toda a atitude desenvolvida? Facto que me levou – e por iniciativa própria – a considerar o coronel como o “Salgueiro Maia do Porto”, embora saiba que não gosta muito dessa comparação, salvaguardando, obvia e compreensivelmente, o papel e desempenho que o seu amigo e camarada teve em Lisboa…

“Como lhe referi no comentário que fiz à minha própria entrevista considero-me apenas e só mais um dos capitães que em muitos pontos deste país fizeram ‘o que a história lhes predisse. Muitos no Norte terão feito mais do que eu e eu conheço alguns, e então por todo o país nem se fala, e também conheço alguns. Falo do Norte e não só do Porto, porque no Porto estiveram vários capitães do Norte que para aqui trouxeram, por exemplo, os militares que levei comigo aos TLP, que eram de Lamego.”

Foto: JN

… fazer no terreno, por vezes, as coisas bem são diferentes que as delineadas …

“…O que acontece nas operações militares, e também acontece assim na vida, é que nem sempre aquilo que se planeia se consegue executar da maneira que se planeou. A isso chamamos a Conduta da Operação e essa depende da ‘habilidade’ de quem a executa sabendo que a responsabilidade também lhe será atribuída.”

No Porto, o 25 de Abril foi, relativamente, mais fácil de se concretizar, do que em Lisboa?!

“Aqui no Porto sim… foi relativamente fácil. Houve um ou outro momento de alguma tensão, nomeadamente quando nos vimos sem comunicações com o Quartel-general, onde estava o Posto de Comando Principal.”

NO 25 DE ABRIL, O GRAVE PROBLEMA, NO PORTO, FOI A FALTA DE COMUNICAÇÕES

Não havia telemóveis! (risos)

“Não havia telemóveis e nem sequer telefones para se poder entrar em contacto com o Posto de Comando Principal no QG/RMN. Quando quis comunicar com o Posto de Comando de Alternativa (CICA) o que tinha sucedido na Avenida dos Aliados – incidente com a PSP – tive de ir a uma barbearia situada na esquina da Rua de Ceuta com a Avenida dos Aliados, pedir para o fazer. Tenho ideia que não perceberam nada do que é que eu andava ali a fazer, mas foram extremamente atenciosos.

Nas Ordens de Operações é sempre indicado, entre outras coisas, o Posto de Comando (PC) Principal e o Posto de Comando de Alternativa; aqui no Porto o PC Principal era no QG/RMN onde se encontrava o Major Corvacho comandante por nós eleito e o PC de Alternativa era no CICA onde se encontrava o Tente Coronel Simões, comandante do CICA 1. Foi com o Tenente Coronel Simões que falei.”

A falta de comunicações foi, então, o mais grave problema registado no Porto?!

“Diria que sim. Foi ela que determinou algumas alterações importantes ao Plano de Operações gizado aqui para o Porto. A Companhia de Lamego sob o comando do Capitão Fonseca deveria cercar a PIDE mas quando chegou ao Campo 24 de Agosto cerca das 07H00 do dia 25, tenta contactar o Corvacho e não consegue. Telefona então para o CICA e o Tenente Coronel Simões considerando a proximidade do quartel da GNR e a ausência de notícias do QG/RMN entende que deveria ter na Unidade uma força que lhe permitisse intervir onde fosse necessário e manda o Fonseca apresentar-se no CICA. Foi com elementos dessa força que eu fui restabelecer as comunicações aos TLP e ao Rádio Clube Português”.

“A outra alteração importante ao nosso Plano de Operações não tem a ver com comunicações, mas com imponderáveis que não são previsíveis. Estou a falar do que aconteceu ao Capitão Lopes Gomes 2.º comandante da PSP do Porto e que tem a ver com a situação com que me confrontei quando fui repor as comunicações aos TLP. O Capitão Lopes Gomes tinha tomado parte em muitas das reuniões efetuadas no CICA e tinha por missão garantir que a PSP/Porto não viria para a rua causar problemas e, portanto, não seria preciso qualquer força militar para a impedir de sair.

Aconteceu que vem a falecer, com um ataque cardíaco, oito dias antes do 25 de Abril. Portanto ficamos sem ninguém na PSP. Como é sabido quando cheguei ao cimo da rua de Ceuta para ir aos TLP, uma força da polícia que estava a tentar dispersar as pessoas que já se estavam a juntar na Avenida dos Aliados é corrida à pedrada pelos manifestantes”.

Conquista pelo MFA da sede da PIDE, no Porto. Largo de Soares do Reis e Rua do Heroísmo com  multidão a saudar os militares libertadores. Foto: JN
Virgínia Moura (ex-presa política) entre a multidão
Milhares e milhares de pessoas junto ao Quartel-general, à Praça da República

Acho que toda a gente reconhece os seus méritos no meio disto tudo, não?

“Acho que os meus méritos não foram assim tão importantes. Eu fui só o ‘capitão mais moderno’ do CICA 1, unidade que comandou as operações aqui no Porto enquanto as comunicações não foram restabelecidas e que tinha a força necessária para me possibilitar fazer o que fiz.”

O PREC

Em 1975 vem o PREC, ou seja, o Processo Revolucionário Em Curso e com eles vivem-se – reza a história – momentos complicados.

“Bom, aqui penso que tenho que me espraiar um pouco mais sendo como é um assunto de que nunca falei e de que não se fala, referindo alguns dos aspetos que me parecem mais relevantes.

Comecemos pelo Golpe Palma Carlos.

Em princípios de Julho de 1974 o Spínola convoca para Lisboa uma reunião a que vão assistir o Coronel Graduado Corvacho, Chefe do Estado-maior da Região, o Major Nogueira de Albuquerque, o Capitão Afonso Gonçalves e eu. Iniciada a reunião o Spínola dá a palavra a Sá Carneiro que durante bastante tempo fala sobre a necessidade da realização em Outubro de 1974 das eleições presidenciais e, simultaneamente, de um referendo a uma Constituição Provisória. As presidenciais ocorreriam, portanto, antes das eleições constituintes, relegando estas últimas para finais de 1976. Esta é, portanto, a estratégia da direita portuguesa e não da esquerda como às vezes se procura fazer crer.

Vasco Gonçalves

Depois de ter falado Sá Carneiro abandona a sala e o Spínola pergunta pelo Brigadeiro Esmeriz, comandante da Região Militar Norte. É informado que o Brigadeiro Esmeriz está no Porto. Manda um avião buscá-lo e nós os quatro vamos buscá-lo ao aeroporto. Almoçamos no café Martinho e pomos o Esmeriz a par daquilo que o Spínola pretende dele.

A reunião continua durante a tarde e o Spínola ao ver-se derrotado acaba por a abandonar. Palma Carlos demite-se a 9 de Julho alegando não poder governar no clima de indefinição vigente. Com ele solidariza-se Sá Carneiro.

Curiosidade: é o Vasco Lourenço que nos vem pedir o apoio do Norte à nomeação, como primeiro-ministro, do Vasco Gonçalves e a quem informamos que nenhum de nós o conhece mas que se ele, Vasco Lourenço, entende que deve ser o Vasco Gonçalves o futuro primeiro- ministro, tem todo o nosso apoio.

Vasco Gonçalves acaba por tomar posse como primeiro-ministro do 2.º Governo Provisório em 18 de Julho de 1974.”

A “INSTITUCIONALIZAÇÃO DO MFA”

Depois…

“Depois o Golpe do 28 de Setembro.

Na tomada de posse do 2.º Governo Provisório Spínola fala pela 1ª vez na ‘Maioria Silenciosa’. Esta manifestação é segundo Melo Antunes ‘”mais uma tentativa de Spínola para concentrar poderes ultrapassando o MFA, numa forma de cesarismo.

Depois do 28 de Setembro, cai o II Governo Provisório e Costa Gomes ascende à Presidência da República. É nomeado o III Governo Provisório e Vasco Gonçalves é novamente nomeado primeiro-ministro do 3.º Governo Provisório. Começa então o período da institucionalização do MFA.

Sou indicado pelo Comandante do CICAP, Tenente Coronel Azevedo Simões para ir dirigir a equipa da Dinamização Cultural na RMN e passo a prestar serviço na Delegação do Norte do Ministério da Comunicação Social. Em 31 de Janeiro, organizamos no Porto, no Palácio de Cristal um «Fim-de-semana Cultural» com centenas de artistas (existiram bastantes Ranchos Folclóricos) entre eles o Zeca Afonso.

Recordo que o Zeca Afonso veio ter comigo para me avisar, com toda a lealdade, que não ia limitar-se a cantar mas tinha coisas para dizer; como é evidente informei-o que poderia dizer tudo aquilo que entendesse. Tudo isto foi organizado pela minha equipa com a colaboração importantíssima do Ministério da Comunicação Social – julgo que já era assim que se chamava.

Também organizamos uma reunião com padres da Arquidiocese de Braga, presidida pelo Brigadeiro Esmeriz, homem de cultura imensa que «explicou aos senhores padres» aquilo que o MFA pretendia e em que é que eles deviam colaborar, já que as várias Encíclicas que citou a isso os ‘obrigavam’. Nessa reunião esteve presente o ‘célebre’ cónego Melo que acusa o Corvacho de ter mentido nos seguintes termos: Ele inventou muitas coisas. Estava ao serviço de forças extremas e não da legalidade. Foi ele que inventou o ELP (Exército de Libertação de Portugal) – «o ELP é violento, etc…» – tudo aquilo é filho dele.

Do ELP falaremos mais à frente, mas se alguém mente em toda esta história não é o Corvacho, mas o cónego Melo, ele sim, ao serviço de forças extremas como o ELP e o MDLP que no Norte permite contar histórias de violência, bombas, mortes, assaltos a sedes de partidos de esquerda, tudo relatado por Miguel de Carvalho no livro ‘Quando Portugal Ardeu’. Chamar a isto ‘legalidade’ é que é, sem sombra de dúvida, mentira. Não posso deixar de referir que este ‘mentiroso’, ’ao serviço de forças extremas’, tem passados que são 45 anos dessa data uma estátua na cidade de Braga, enquanto o Corvacho teve o seu nome caluniado de uma forma que não merecia.”

O GOLPE SPINOLISTA

E continuamos a revelar História…

“Mais: o ELP – 11 de Março de 1975.

Em 31 de Janeiro de 75, um camarada meu conhecido do Ranito (homem que denunciou o ELP), contacta o Oficial de Permanência do QG, a quem transmite aquilo que o Ranito lhe relatara sobre a existência de uma organização clandestina, o ELP, e das finalidades que se propunha atingir. Esta informação é passada ao Coronel Corvacho e ao Major Albuquerque que decidem pedir ao Ranito para não abandonar o ELP, e passar a fornecer ao QG as informações que conseguisse obter nas reuniões em que tomasse parte, situação que o Ranito aceita.

Em 17 de Fevereiro de 75, a RMN fica a saber, através do Ranito, da existência de um plano spinolista para desencadear um golpe militar. A RMN fica a saber também que está iminente o desencadeamento do golpe, notícias que são confirmadas em 22 de Fevereiro.

Um dos objetivos deste golpe era o de ‘submeter as unidades militares consideradas próximas dos radicais do MFA’. Contavam, para o efeito, com as tropas dos Comandos, Para-quedistas e EPC (Escola Prática de Cavalaria). Desde o início que se estimava como certa a necessidade de dominar pela força o RAL1 (Regimento de Artilharia Ligeira n.º 1), unidade onde predominava a corrente afeta a Vasco Gonçalves e ao PCP.

Em 25 ou 26 de Fevereiro o Coronel Corvacho e o Major Albuquerque deslocam-se a Lisboa, à Secção de Apoio chefiada pelo Almirante Rosa Coutinho para dar conhecimento destas informações. Sou testemunha presencial, embora acidental, desta reunião onde me recordo de ver entre outros, os almirantes Rosa Coutinho e Pinheiro de Azevedo, e o Vasco Lourenço entre outros elementos do Conselho dos 20.

O golpe Spinolista é desencadeado a 11 de Março sobre o Ralis exatamente como havia sido descrito pelo Ranito e transmitido pelo Corvacho à Secção de Apoio do Conselho da Revolução. Fácil se torna concluir que o Ranito não foi mentira, que as informações que prestou ao Corvacho não foram mentira, e que o ELP, organização ilegal, conhecia perfeitamente as intenções dos spinolistas, com quem tinha contactos, como Alpoim Calvão vem a admitir, ao afirmar que ‘o ELP propunha-se finalidades e formas de atuação com que não concordávamos. Só nos unia o anticomunismo, fator importante, mas não suficiente. Que o 11 de Março foi um golpe confirma-o a fuga do Spínola de helicóptero para Espanha. Há realmente muitos mentirosos em tudo isto, mas o Corvacho não é um deles”

PENSO QUE NENHUM DE NÓS SABE, EXATAMENTE, QUANTOS 25 DE NOVEMBROS EXISTIRAM NA REALIDADE” …

E depois vem o 25 de Novembro…

“Não queria chegar assim tão depressa ao 25 de Novembro.

A data é muito marcante para o País e para Lisboa, mas diria que não o é assim tanto para o Porto e para o Norte, tal e qual como no 25 de Abril foi marcante a ação desenvolvida em Lisboa e o resto do país apenas contribuiu.

Por quê?

“É lá que está o Governo. O poder só lá pode ser conquistado.

Só que no 25 de Abril nós fomos diretamente ao ‘centro do poder’ e tomámos conta dele, mas, por exemplo, no 28 de Maio, Gomes da Costa sai daqui de Braga e vai por aí abaixo arrebanhando Unidades até conquistar o tal poder.

Penso que nenhum de nós sabe exatamente quantos 25 de Novembros existiram na realidade, mas aquilo que todos sabemos é que quem planeou algum ou alguns deles pensou fazer como Gomes da Costa e partir do Norte para a reconquista da ‘comuna de Lisboa’.

O 25 de Novembro de Lisboa começa não sei se aqui no Porto se mais a Norte, mas é no Norte que ele começa, e o Porto paga um preço bem alto por ter sido eleito o santuário dos salvadores da pátria”.

Paraquedistas ocupam bases

E antes vem … o Exército de Libertação de Portuga – ELP?!

“Quando falei do ELP e do 11 de Março de 75 refiro o dia 31 de Janeiro de 1975 como sendo aquele em que o Oficial de Permanência ao QG/RMN, de quem sou amigo pessoal, toma conhecimento da existência do ELP e é precisamente nesta data que eu quero começar, não sem antes referir também que o, na altura, Embaixador dos Estados Unidos Frank Carlucci apresenta credenciais em 24 de Janeiro de 1975.”

Como já disse anteriormente, prestava serviço na Dinamização Cultural e embora testemunha presencial da reunião que na altura referi também me confessei testemunha acidental, portanto o ELP pouco ou nada me dizia e sou capaz de não ter estado com grande atenção nessa reunião.

Não sei se durante, se após o ataque ao RALIS, fui chamado para a minha Unidade, o CICAP, porque tínhamos entrado de prevenção. Pouco tempo após o jantar sou chamado penso que pelo Albuquerque, ou pelo Corvacho ao Quartel-general. No gabinete do Corvacho estavam quatro ou cinco oficias e entre eles o Brigadeiro Esmeriz, Comandante da Região, que me dá ordem para ir prender o Sr. Azeredo Leme – elemento do ELP e irmão do Brigadeiro Azeredo.

Por quê eu outra vez, que nada sabia e nada tinha a ver com aquilo? As razões que me foram referidas e que aceitei como lógicas, foram o eu ter sido subordinado do Brigadeiro Azeredo no CICAP, (que tinha sido por eles informado telefonicamente para a Madeira do que iria acontecer), e ser um capitão do MFA que acreditavam ser suficiente calmo para o fazer da forma que pretendiam. Foram-me feitas recomendações expressas para o tratar o melhor possível considerando que era irmão do Brigadeiro Azeredo e foi o que fiz.

Agostinho Barbiere Cardoso, fundador do ELP

Seria fastidioso estar a contar como o fiz, mas não posso deixar de referir que tive de o fazer, com todo o pormenor e com testemunhas, em Conselho Superior de Disciplina do Exército. Levei o Sr. Azeredo Leme para o CICA onde já se encontravam detidos outros elementos do ELP. Todos eles foram alojados nos quartos da Messe de Oficiais do CICAP. Já não recordo se nessa noite dormi no Quarto do Comandante da Companhia de Instrução ou se vim dormir a casa. Sei que no outro dia ou talvez no seguinte a minha vida continuou na Dinamização Cultural e na Delegação do Ministério da Comunicação Social”.

E no dia o 11 de Março de 1975…

“…No dia 11 de Março, Lisboa – desconheço exatamente quem -, dá ordem para que os elementos já referenciados do ELP sejam detidos, contrariando a ideia do Corvacho e do Albuquerque que pretendiam continuar a investigação. Já vimos que assim não aconteceu.

Com as prisões efetuadas foi necessário constituir uma estrutura que pudesse dar resposta quer às necessidades que foram criadas com essas prisões, quer à necessidade de continuar as investigações sobre o ELP e sobre a contrarrevolução que se adivinhava no Norte.

São essas necessidades que levam o Corvacho sob proposta do Albuquerque a tirar-me da Dinamização Cultural e a colocar-me a chefiar a Secção de Contrainformação do QG/RMN o que acontece poucos dias depois do 11 de Março.”

A 26 DE MAIO, DE 1975, É ATACADA, PELO ELP, A SEDE DO MDP EM BRAGANÇA. ESTÁ DADO, AÍ, O SINAL PARA O INÍCIO DA CAÇA ÀS BRUXAS

Eis o Verão Quente de 1975…

“Em 4 de Maio são presos e identificados como sendo da Juventude Centrista, vários elementos pertencentes a uma ‘organização que se preparava para atos terroristas no Porto, em que um dos alvos seria o Corvacho. Depois de interrogados concluiu-se que a ‘organização’ existia, que planearam’ a ‘eliminação do Corvacho, mas que o elemento que os denunciou o deve ter feito única e exclusivamente por medo, já que nunca tiveram a mínima capacidade para o executar.

Em 5 de Maio de 75 é formalmente constituído o MDLP. Tenho que me deter um pouco sobre algumas das declarações do Alpoim Calvão, feitas em Novembro de 2000 que, penso eu, acabam por confirmar a veracidade das minhas Teorias da Conspiração sobre o Verão Quente de 1975 e as aldrabices do Sr Cónego Melo, para mim símbolo da reação do Clero no Norte.

Alpoim Calvão começa por afirmar que: «na origem deste movimento federador das forças da direita e da extrema-direita durante o PREC, esteve o PS, porque o MDLP resultou de um pedido de ajuda do PS aos spinolistas, a seguir ao 28 de Setembro, para que se criasse, na área militar, uma força que se opusesse ao PCP».

Cónego Melo, em cartoon satírico

É sabido que o Eanes esteve dois anos na Guiné com o Spínola com quem criou alguns laços e que foi trazido por ele para tomar conta da televisão. Também é público que é um bom militar, e uma pessoa normal. Aquilo que já não é público é a opinião que sobre ele tem Alpoim Calvão.

Diz ele: «Eu costumo dizer que ele foi o lugar geométrico de uma série de influências, foi o rosto de um conjunto de forças, arriscou a sua sorte, teve aceitação e assumiu o comando, demonstrando até uma ambição política que “a priori” não se adivinhava nele»; se a isto juntarmos as declarações, também em Novembro de 2000, do Cónego Melo e cito «Diziam até, na altura, que foi ele que assinou a sua própria nomeação para um cargo qualquer»… Estou convencido disto: há muita coisa que o general Eanes fez que só ele o sabe. No 25 de Novembro havia uma cadeia hierárquica e ele estava no último posto. Toda esta questão tem um certo mistério».

Poderia pensar ser este mais um dos delírios do Cónego Melo, mas continuo sem perceber o lugar geométrico de uma série de influências’ do Alpoim Calvão.

Alpoim Calvão refere ainda à pergunta que lhe é feita sobre «que contactos tinha no MFA ao ponto de poder acreditar que a hora da libertação estava próxima?»:

– «Numa altura, no Verão quente, o Eanes foi convidado para tomar conta da organização interna do MDLP…’ tendo respondido ‘que já estava comprometido com o Grupo dos Nove» e acrescenta «nós sabíamos que o Ramalho Eanes estava a preparar uma ação militar, e ele sabia perfeitamente tudo o que o MDLP fazia. Havia uma certa ligação com o Eanes».

Afinal, se calhar percebo o lugar geométrico de uma série de influências do Alpoim Calvão e, se calhar também, o Cónego Melo não foi assim tão delirante como eu imaginava.

Em 26 de Maio é atacada pelo ELP a sede do MDP em Bragança. Está dado o sinal para o início da caça às bruxas. Penso que o calendário assinala o Verão a 21 de Junho; o de 1975 começou um pouco antes!

De Maio a Agosto sucedem-se as violências, os incêndios, as destruições, as bombas e as mortes. O IV Governo Provisório cai a 27 de Julho de 75.

Costa Gomes com Vasco Gonçalves

O Documento dos Nove sai em 07 de Agosto de 1975. Muitos oficiais reconheciam-se nesse documento que mostrava fortes incompatibilidades com Vasco Gonçalves. Os Nove entram em negociações com Otelo com o objetivo de juntar forças no plano político e militar excluindo o Corvacho que afirmam apoiante indefetível de Vasco Gonçalves. Não chegam a acordo com o Otelo que faz sair o Documento COPCON. Encarregam Sousa e Castro de, no Norte, conseguir a ‘revolta’ das Unidades contra o seu comandante.

Em princípios de Agosto, se não erro, as Unidades pedem ao Corvacho a realização de uma reunião que ele faz e em que é violentamente contestado assim como a Secção de Contrainformação de que eu era o chefe. Por um camarada mais exaltado chego a ser ameaçado de ser defenestrado. Eu e mais alguns oficiais, poucos, pedimos imediatamente a demissão dos cargos que ocupávamos e o regresso às respetivas Unidades. Como ninguém estava disposto a assumir as funções que desempenhávamos os ânimos acalmaram um pouco e terminou a reunião.

No entanto, todos percebemos que isto era sol de pouca dura. Em 7 de Agosto o Fabião e o Otelo vêm ao Porto fazer uma análise da situação e, provavelmente por desconhecimento absoluto da situação que aqui se vivia, resolvem ir almoçar ao Restaurante Girassol, na Baixa do Porto, restaurante que lhes é indicado por um oficial médico do QG/RMN militante assumido do CDS”.

COMO DISSE JORGE SARABANDO: «O 25 DE NOVEMBRO A NORTE COMEÇOU EM SETEMBRO»

Terá sido a bonita?!

“Quando saíram do restaurante, encontraram uma pequena multidão exaltada, em gritaria hostil particularmente contra Otelo: «Volta Para Moçambique!», «Vai Para O Campo Pequeno!», alusão à infeliz declaração do Otelo semanas antes, «o Povo não está com o MFA» e outros vitupérios.

Corvacho pede ao Conselho da Revolução, de que era membro, a realização de um inquérito que será conduzido pelo Brigadeiro Agostinho Ferreira que o iliba de qualquer acusação. Em 25 de Agosto, o Conselho da Revolução decide que o Corvacho se mantenha como comandante da RMN e que os militares que tinham estado envolvidos no conluio que atrás refiro fossem mandados apresentar em Lisboa, o que nunca veio a acontecer. Corvacho regressa ao Comando da Região mas os Comandantes de quase todas as Unidades da Região insubordinam-se e colocam-se às ordens do Comandante da Região Militar Centro, brigadeiro Charais, também ele um dos Nove.

No princípio de Setembro Corvacho pede a demissão. Não posso deixar de citar o que dele diz no Jornal de Notícias a José Saraiva, militante do PS … não pertence a nenhuma linha política, mas é incómodo para a direita. O PS entrou na jogada, apesar de não ser essa a vontade de muitos dos seus militantes (e até dirigentes, especialmente nortenhos …)’. Acrescento, que vi, com alguma frequência, alguns desses dirigentes no QG/RMN.

Pires Veloso chega ao Porto a 12 de Setembro e eu e todo o pessoal da Secção de Contrainformação pedimos o regresso às nossas Unidades.

Como diz o Jorge Sarabando ao Valdemar Cruz, no jornal Expresso em 2015 «o 25 de Novembro a Norte, aconteceu em Setembro».

AS VÁRIAS FORÇAS QUE SE UNIRAM NO 25 DE NOVEMBRO TINHAM INTERESSES E OBJETIVOS DIFERENCIADOS, POR VEZES ANTAGÓNICOS

Há alguma confusão de factos sobre o 25 de Novembro, que pelos vistos se mantém?!

“Penso que a primeira coisa que temos de tentar fazer é responder à pergunta que o Vasco Lourenço coloca a si mesmo, mas não só ele, e que é – Quantos 25 de Novembro existiram e quais foram?

Penso que o primeiro passo terá que ser o de procurar quem beneficia com ele – Chercher la femme – mas mesmo isso não responderá a tudo, porque como é evidente, as várias forças que se uniram no 25 de Novembro tinham interesses e objetivos diferenciados, por vezes antagónicos.

O próprio Vasco – vou passar a tratá-lo assim porque é assim que nos tratamos normalmente, somos bons amigos desde 1968 quando nos conhecemos no Regimento de Infantaria n.º 5 nas Caldas da Rainha, eu como tenente e ele já capitão – admite ter tido a noção de que ‘atrás do Grupo dos Nove estava acobertada toda a direita e a extrema-direita.

Mas que direita? A do PS que dá origem ao MDLP como já referi, ou a do grupo militar que embora aceitando os Spinolistas não é confundível com o Spínola que o Mário Soares promove a seguir ao 25 de Novembro? E de que extrema-direita falamos? A do Pires Veloso, da Força Aérea, do ELP, e do terrorismo? Ou a extrema-direita do Jaime Neves, dos comandos convocados e do desconhecido herói revelado por Jaime Nogueira Pinto, em 2018, ao Observador, afirmando ter sido ele que, e passo a citar: «no Verão Quente de 1975 foi o elemento-chave na mobilização de camaradas para as companhias de convocados que seriam decisivas no 25 de Novembro. E foi ele, na manhã de 26, na Chaimite de Jaime Neves, que rebentou com os portões da Polícia Militar, na Calçada da Ajuda»?

Victor Ribeiro

Um desconhecido herói?!

“Deixe-me acrescentar à pergunta mais algumas notas.

O texto do Jaime Nogueira Pinto tem por título «Victor Ribeiro, o Comandante». Quando lhe chamo ‘desconhecido herói’ invertendo a ordem habitual para o ‘soldado desconhecido’, fi-lo propositadamente porque não faço a mínima ideia quem é Victor Ribeiro, mas herói não tenho dúvida nenhuma que foi, já que em 23 de Março de 2018 e volto a citar Nogueira Pinto «… ao principio da tarde, num ato de justiça e num gesto de extrema atenção, o Presidente da República esteve no quarto da Fundação Champalimaud onde ele, ainda consciente, agonizava, para lhe entregar a Comenda da Ordem do Infante».

Mais ainda, em Abril de 2018, o Diário de Notícias em artigo intitulado «Parlamento aprovou voto de pesar pela morte de ex-comando Victor Ribeiro» diz, «A Assembleia da República aprovou hoje, por maioria, um voto de pesar pela morte de Victor Ribeiro, ex-comando e um dos organizadores da resposta às movimentações militares do 25 de Novembro de 1975».

O voto centrista, em que se assinala o “profundo apreço pela democracia e a liberdade” do ex-militar, foi aprovado pelo CDS, PS, PSD e teve os votos contra do PCP, BE, PEV e a abstenção da deputada socialista Vanda Guimarães”.

PORQUE SOU UM HOMEM DE ABRIL VOU PROCURAR AS MINHAS RESPOSTAS (SOBRE O 25 DE NOVEMBRO) AO GRUPO DOS NOVE…

Feitas as perguntas, faltam as respostas…

“Penso ter colocado com alguma clareza, nas perguntas que fiz, quatro grupos distintos que julgo envolvidos no 25 de Novembro; se juntarmos a estes quatro, o Grupo dos Nove teremos com certeza um número não tão grande que não nos permita procurar respostas, mas, não tão pequeno que meta tudo no mesmo saco.

É evidente que se procurar a resposta em cada um destes grupos todos eles terão respostas diferenciadas à mesma questão; mais até, acredito que muitos elementos de qualquer deles terão respostas diferenciadas à mesma questão. Inevitavelmente isso conduzir-nos-ia à falta de resposta a qualquer das questões que coloquei.

Vamos lá, então, às “respostas”…

“Porque sou um homem de Abril, vou procurar as minhas respostas ao Grupo dos Nove e vou começar por aquele que conheci no M´Pozo em 1973 durante a guerra colonial, Melo Antunes, que vou passar a citar:

– «Os elementos militares escondiam no fundo uma operação política de enorme envergadura, que era o aniquilamento do 25 de Abril. Se a direita militar conseguisse a continuação das operações militares e delas saísse vencedora, tornava-se senhora do país, e seguia-se a decapitação das Forças Armadas».”

Melo Antunes

“Mais: «Houve efeitos perversos da recuperação parcial das forças da direita, mas conseguiu-se uma vitória, a direita não tinha ocupado o poder. Não podíamos era evitar que viesse uma onda favorável à disciplina militar. Daí uma vertiginosa recuperação da direita militar depois do 25 de Novembro. Em Janeiro de 76, o novo comandante da Polícia Militar fez erguer na parada uma estátua de Carmona, houve o regresso dos militares ligados ao ELP, a autorização do regresso de Américo Tomás, a prisão de Otelo e a liquidação em termos militares de Vasco Lourenço. Todos os oficiais do Grupo dos Nove foram ostracizados e essa foi a maior responsabilidade de Eanes» e «uma das críticas maiores que faço ao PS e a Mário Soares é que em nome de uma certa ideia da esquerda pactuaram com tudo isso. Aliaram-se ao que de pior havia nas FA; já se tinham aliado a Spínola e voltaram a fazê-lo. Os spinolistas integram a casa militar do Presidente da República. A culpa não é só do Eanes, mas também do PS»”.

Vasco Lourenço

“De seguida, as respostas que procurei no Vasco Lourenço e vou passar a citá-lo, embora para o fazer com algum cuidado nem outro artigo tão comprido como este chegaria:

– «O grupo militar está a trabalhar em ligação direta comigo, mas venho hoje (Nov2000) a saber que esse grupo não era uno, tinha vários núcleos, e tinha outras ligações que não ao grupo dos Nove.»; «O MDLP estava radicalizado, queria sangue!».

Mais: ‘Os tenentes-coronéis de Novembro são generais. De quem é a culpa?  Para mim, é do Eanes». «… O grupo saudosista do 24 de Abril, que se acobertou atrás do Grupo dos Nove, que teve mesmo algum protagonismo operacional, mas que foi vencido no seu objetivo de querer “sangue, muito sangue”…», e «Pires Veloso diz que quem fez o 25 de Novembro foi ele e não o Eanes».

Comento: Afirmo que o Pires Veloso também quis sangue na manifestação do CICAP-RASP. Para o efeito serviu-se dos oficiais e sargentos do QP, que após ter extinto o CICAP e passado à disponibilidade todos os oficiais e sargentos milicianos e as praças, origem da manifestação dos SUV, a quem ordenou que defendessem o quartel a qualquer custo. Foram montadas, municiadas e guarnecidas pelos poucos oficiais e Sargentos do QP, metralhadoras Breda e MG 42 para cumprimento dessa ordem. A Companhia ainda criada pelo Corvacho e especialmente preparada para situações deste tipo, não foi deslocada para o CICAP como poderia e deveria ter sido. Por me ter recusado a cumprir essa ordem, estive detido no meu quarto, na Messe de Oficiais do CICAP, durante essa noite.

– «A Força Aérea estava fundamentalmente sediada em Cortegaça e foi um elemento dissuasor bastante importante, mas felizmente não foi utilizada. Houve quem quisesse utilizá-la». Comento: Foi utilizada no Porto. Segundo o CEMFA, Morais e Silva, 40 aviões de combate sobrevoaram a região do Porto.

A cidade do Porto foi sobrevoada por um Bimotor que espalhou milhares de panfletos com as cores verde e vermelha onde se podia ler: «As Verdadeiras Forças Armadas Portuguesas Garantem a Segurança, Paz e Liberdade do Povo Português Contra Todos os Insurrectos e Totalitaristas!» ”

AS VERDADEIRAS FORÇAS ARMADAS NUNCA QUISERAM SANGUE; NÃO O QUISERAM NO 25 DE ABRIL E NÃO PERMITIRAM QUE QUEM O QUERIA O CONSEGUISSE NO 25 DE NOVEMBRO

Como facilmente todos os Portugueses concluem «as verdadeiras Forças Armadas Portuguesas» nunca quiseram sangue; não o quiseram no 25 de Abril e não permitiram que quem o queria o conseguisse no 25 de Novembro. «As verdadeiras Forças Armadas Portuguesas pagaram um preço elevadíssimo por o terem conseguido. Esse mérito, entre outros, os Portugueses, lhe devem reconhecer. Não me esqueço que o Jaime Neves, no dia seguinte, estava a dizer que não estava satisfeito”.

Continua, assim, ainda a colocar muitas questões; questões essas que, passados todos estes anos, ainda não foram respondidas, por receio de alguma coisa, ou porque, se calhar, ainda não se passaram tantos anos assim?!

“Pergunto: ‘Quantos “25 de Novembro” existiram? Que ligações espúrias tinha o chamado Grupo Militar, que compromissos e que consequências na evolução pós-25 de Novembro? Nomeadamente, quais as relações com o MDLP, qual a utilização abusiva do nome do Grupo dos Nove? Contrariamente à decisão dos Nove, o Grupo Militar elaborou ou não um plano de operações ofensivo? Se sim, que havia de verdade nas acusações que os revolucionários então fizeram, quanto ao chamado «golpe dos coronéis»?

AINDA ASSIM, É RECONFORTANTE SERMOS CAPAZES DE ULTRAPASSAR DIVERGÊNCIAS (…) E DE NOS UNIRMOS À VOLTA DO ESSENCIAL, PARA CONTINUARMOS A LUTA INICIADA EM 25 DE ABRIL

Seja como for o 25 de novembro continua a ser comemorado, este ano, sem a dimensão de outros anos…

“Sim, mas quando vejo esse tipo de comemorações recuperadoras da direita e da extrema-direita não posso aceitar. O 25 de Novembro aconteceu, é doloroso como foi o 11 de Março e o 28 de Setembro.

Ainda assim, é de facto reconfortante sermos capazes de ultrapassar divergências, sermos capazes de colocar de lado fatores menores que nos poderiam dividir e separar e, apesar de adversários em momentos difíceis e conturbados, sermos capazes de nos unirmos à volta do essencial, para continuarmos a luta iniciada em 25 de Abril, por um Portugal mais livre, mais democrático, mais justo, mais fraterno e em paz.

O sucesso da Associação 25 de Abril, nos seus trinta e quatro anos de existência, é, em meu entender, a melhor prova de que é possível fugir ao “destino” da solução “bloco central” ou “PAF”. Sinal de que a geringonça pode ter futuro…”

Pois, muito bem, estamos a terminar este “apanhado” histórico vivido no terreno, pelo coronel Castro Carneiro…

“Queria terminar as minhas respostas também com uma citação. Do Pezarat Correia. Que, em mim, é um grito de revolta, mas também de esperança. Disse ele:

«Pretendem alguns que, por preconceito, não conseguem rever-se no 25 de Abril, que sem o 25 de Novembro não se teria consolidado a democracia e a liberdade. Falso. A democracia e a liberdade vingaram não por causa do 25 de Novembro, mas apesar do 25 de Novembro. Como apesar do 28 de Setembro, como apesar do 11 de Março».

 

FIM

 

 

Obs: Todas as fotos não personalizadas na figura do entrevistado, são de pesquisa Web

 

01dez20

 

 

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14 Comments

  1. MANUEL GONÇALVES

    Com os meus melhores cumprimentos, aproveito para me dirigir ao Senhor MARQUES PINTO, que em 17 DE DEZEMBRO DE 2020 AT 20:27, na sua intervenção fez referência a um Senhor Capitão Para-quedista que faleceu em face de um acidente em para-quedas na Guiné. Permita-me que pretenda corrigir o nome do falecido, de CARNEIRO para CORDEIRO e faleceu no dia 22MAI1974 e não como foi indicado.

    Cordiais saudações

    Manuel Gonçalves
    SMorInfParaqRef

  2. MANUEL GONÇALVES

    Li atentamente o artigo do meu camarada Albano Pinela, militar e pessoa que muito me apraz conhecer desde 1968, altura em que fui monitor de uma recruta no pelotão em que ele era Alferes Para-quedista e Cmdt do Pelotão, mais tarde encontramo-nos em Moçambique na mesma companhia e eu noutro pelotão. Fizemos imensas intervenções no Norte de Moçambique.
    Li atentamente o que escreveu sobre os acontecimentos do 25 de Novembro de 1975 e confirmo a sua visão sobre o que ia acontecendo na cronologia do tempo em que por lá estivemos.
    Hoje olhando para esse passado e fazendo um exame de consciência, penso que foi uma época diferente em que ressaltou a ligação e confiança que militares depositaram uns nos outros, fruto da sua experiência em combate e nunca esquecemos que não poderiam haver inocentes a pagar as decisões tomadas.
    Orgulho-me de ser amigo e camarada d’armas do então Cap. Pinela.
    Caro Senhor Cor. Paraq. Albano Pinela, aqui fica o meu forte abraço.

    Manuel Pereira Gonçalves
    SMorInfParaqRef

  3. MANUEL GONÇALVES

    A minha admiração para com o senhor José Adelino Carneiro, distinto Coronel de Infantaria, que enquanto capitão e major foi meu chefe no Regimento de Infantaria do Porto, sendo eu na altura 1º Sargento de Infantaria Para-quedista, unidade onde fui colocado em Março de 1978, após estar suspenso desde 28Nov75 até 01Mar78, por alegado envolvimento nos acontecimentos do 25 de Novembro de 1975.
    Nunca me apercebi que o Senhor Cap. Carneiro tivesse vivido a luta dos militares envolvidos nos diversos acontecimentos que levaram ao 25 de Abril de 1974 e daí a minha admiração e mais um motivo para o ter num patamar elevado de militar e homem de uma só cara.
    Mais tarde no CCSPorto era eu Sargento Mor de Infantaria Para-quedista e o Comandante era o Senhor Cor. Inf. José Adelino Carneiro e então a nossa relação militar e humana foi mais próxima, em virtude do meu posto hierárquico ter como uma das diversas funções a de Adjunto do Comandante da Unidade.
    O entendimento foi perfeito entre dois militares que sabiam o que era a guerra e comandar homens em paz e na guerra. O meu Comandante é um grande senhor e para além de outros casos que não são para aqui chamados, destaco aquele que me atormentou nos meus 50 anos de idade, um carcinoma epitelial no pavimento da boca, que me levou a ser intervencionado cirurgicamente no IPO Porto e depois a um tratamento com radioterapia. Foi aí que entendi melhor quem era o Comandante e Homem que eu tinha e tenho a honra de conservar como amigo e camarada militar.
    É um ser humano de excelência!
    Grato meu estimado e senhor Coronel e para a frente é que é o caminho.
    Aquele abraço
    Manuel Gonçalves
    SMor. Inf. Paraq. Ref.

  4. Alberto Silva

    Extraordinária entrevista/depoimento que coloca claramente os pontos nos is, relativamente ao 25 Novembro.
    Sem ocultar nomes, patentes e posições políticas revela uma coragem enorme.
    Este texto e o que o antecedeu merecem ser preservados pois não só fazem história como também fizeram parte da história.
    Bem haja pelo que esclareceu.
    Um abraço desconhecido.

  5. Marques Pinto

    Abraço e felicito o Coronel Castro Carneiro pela sua memória e abundancia de pormenores de uma época tão intensa de acontecimentos que ambos vivemos ou acompanhámos embora normalmente separados de 300 kilometros .
    Um Abraço para o Coronel Paraquedista Pinela com que me foi apresentado por um Homem – Capitão Paraquedista Carneiro – que tanto viveu a conspiração na Guiné e faleceu num acidente em salto de paraquedas dias antes do 25 de Abril de 74.

  6. José Gonçalves

    INFORMO QUE ESTE SERVIÇO DE RESPOSTA E PUBLICAÇÃO NÃO É AUTOMÁTICA E TEM AS SUAS REGRAS.
    UMA DAS QUAIS NÃO ACEITAMOS COMENTÁRIOS DE QUEM NÃO SE IDENTIFICA. ESTÁ NO NOSSO, COMO EM TODOS OS ESTATUTOS EDITORIAIS DE TODAS AS PUBLICAÇÕES DO MUNDO

  7. José Gonçalves

    Sr. ANÓNIMO, repito ANÓNIMO, que se refere.
    Se continuar ANÓNIMO tudo o que escrever fica no anonimato do nosso LIXO.

  8. Coronel Almor Alves Serra

    Vivi grande parte dos acontecimentos descritos que confirmo,pois fui eu que esbeleci ligação com o Coronel Esmeriz,meu Comandante de Regimento de Infantaria do Porto para aceder ao Movimento,tendo assumido o Comando da Região pelas 17 horas do dia 25 por mim acompanhado,embora se tivesse comprometido a ir para o QG logo que este fosse tomado.O Cor. Carneiro lembrar-se-á dessa difícil situação.Fiquei a trabalhar no QG,como adjunto do Comandante.Reintero a confirmação dos factos descritos pelo Cor.Carneiro.Há alguns pormenores que retenho na memória,mas que em nada põem em causa o que foi escrito.Mais uma vez agradeço ao Cor. Carneiro este brilhante trabalho histórico que fez.

  9. Albano Pinela

    Meu caro camarada e amigo Carneiro
    O teu testemunho é de uma importância vital para desmistificar o que vem descrito no “Relatório do 25 de Novembro”, que mais não é do que um conjunto de argumentos dos vencedores para justificar o “Golpe” que há muito estava a ser preparado.
    Além de todos os factos que exemplarmente apresentas, podemos recordar as declarações do general Tomé Pinto, publicadas na revista do jornal Expresso , em que afirmava que, desde o 11 de Março, que tinham começado a planear o 25 de Novembro.
    Recordemos ainda as afirmações de Mário Soares quando ocorreu o falecimento de Lord Carrington, ministro dos Negócios Estrangeiros Inglês, na altura dos acontecimentos – a sua acção foi muito importante, ao garantir o municiamento dos aviões em Cortegaça.
    Posso ainda referir um facto que presenciei : no início de Outubro, os elementos do “Grupo dos Nove ” reuniram-se em Monsanto com o General Melo Egídio. Este comandava , na altura , o AMI , que agrupava as forças de intervenção ( páraquedistas, comandos e fuzileiros), que haviam sido retiradas do comando do COPCON. Este afirmou num dos intervalos da reunião, em tom jocoso : Esperemos que o Dinis de Almeida saia de Chaimite para tomar café e caímos-lhes em cima .
    Estando criado o clima de insegurança no país, com os ataques bombistas que tão bem enunciaste, era preciso um pretexto para desencadear a operação, cujo planeamento estava a ser preparado. Falhadas as tentativas do 28 de Setembro e 11 de Março teria que ser desencadeada uma “ Operação de Falsa Bandeira”, como tão bem caracterizou o nosso camarada Matos Gomes, para dar credibilidade e legitimidade ao “Golpe”.
    Essa oportunidade foi-lhes oferecida pelas Tropas Páraquedistas.
    Estas haviam sido utilizadas no 28 de Setembro e no 11 de Março, dada a lealdade do comandante da Unidade ao General Spínola. Dado o clima de instabilidade que se vivia os sargentos paraquedistas, temendo que estas tropas pudessem ser utilizadas novamente em actos que pusessem em causa o 25 de Abril, solicitaram , em reunião com o Chefe do Estado Maior da Força Aérea, que estas tropas não fossem utilizadas em operações de carácter controverso, com motivações políticas, obtendo a garantia que isso não iria acontecer.
    Passados alguns dias uma companhia de Páraquedistas e uma unidade de explosivos da PSP destruíram com explosivos a Rádio Renascença, a qual difundia informação considerada revolucionária.
    Mais uma vez , contrariamente ao que o CEMA havia prometido, eram utilizadas numa operação com contornos políticos.
    No dia 10 de Novembro, dado o clima de agitação criado na classe de sargentos , o CEMA decidiu deslocar-se à Unidade (Base Escola de Tropas Paraquedistas ) , para explicar as razões daquela decisão.
    Os sargentos decidiram não comparecer àquela reunião.
    Face àquela posição, os oficiais Páraquedistas reuniram-se e concluiram que, face à situação que consideravam um acto de grande indisciplina, não tinham condições para comandar as tropas e decidiram , com abaixo assinado, abandonar a Unidade e apresentar-se no dia seguinte no Estado Maior da Força Aérea.
    Para trás ficava uma unidade com todo o seu armamento e equipamento, com mais de mil homens, sem comando e sem oficiais . A situação era, no mínimo incompreensível – se havia indisciplina, os oficiais em vez de assumirem as suas responsabilidade viravam as costas e abandonavam a Unidade, deixando-a à sua sorte?
    Nesta reunião no EMFA, foi afirmado que face à situação de indisciplina dos sargentos iria ser conduzida uma luta pelos oficiais, no sentido de passar todos os soldados à disponibilidade e seleccionar os sargentos um por um, expurgando-os de todos aqueles que consideravam responsáveis pela situação criada. Afirmou- se ainda que já haviam sido recrutados antigos soldados páraquedistas, entretanto já na vida civil.
    Estes oficiais iriam depois para a Base de Cortegaça.
    Tudo leva a crer que a saída dos oficiais, estava integrada no plano que estava a ser desenvolvido para o 25 de Novembro.
    A Unidade continuou a funcionar com relativa normalidade e todas as funções, inclusive a das companhias de instrução, passaram a ser desempenhadas pelo militar mais antigo presente. A disciplina militar continuava presente em todas as actividades. Onde é que havia a indisciplina?
    O major Pessoa, entretanto chegado à Unidade foi nomeado comandante, o capitão Marçalo e o tenente Matos Serra, que também se apresentaram, passaram a comandar as duas companhias operacionais.
    Os sargentos entretanto mantinham reuniões com o COPCON e a Presidência da República e foi-lhes prometido que as Tropas Páraquedistas iriam sair da alçada da Força Aérea, cujo comandante contestavam, e iriam ser integrados no Exército.
    Começava então, paulatinamente a iniciativa de desmantelamento da Unidade pelo Comando da Força Aérea , com a transferência dos militares dos serviços auxiliares e o corte das verbas necessárias ao seu funcionamento. A situação foi-se agudizando até se sentir que alguma coisa tinha que ser feita…
    Os Páraquedistas, cujo lema é “QUE NUNCA POR VENCIDOS SE CONHEÇAM”, tinham que demonstrar que continuavam operacionais e disciplinados , ocupando sem qualquer violência, as Bases de Tancos e de Monte Real, com a exigência da demissão do CEMA e da passagem para a alçada do Exército.

    Estava criado o pretexto para as forças que estavam organizadas para o “Golpe” o desencadearem, com o pretexto de que estavam a salvar o País das forças totalitárias.
    Eu , embora manifestando o meu desacordo, acompanhei os outros oficiais no abandono da Unidade no dia 10 de Novembro ( não tive a coragem de ficar lá sozinho ). No entanto no dia seguinte , após tomar conhecimento do que estava a gizar, decidi não acompanhar os restantes oficiais nos propósitos atrás enunciados. Fiquei em casa até ao dia 24 de novembro, dia em que decidi apresentrar-me na Unidade onde tomei conhecimento dos factos que acabei de relatar.
    Na sequência destes acontecimentos fui aprisionado na prisão de Custóias , com outros oficiais e sargentos, durante dois meses e meio, e suspenso do serviço durante cerca de sete anos ; como tinha sido planeado todos os soldados passaram à disponibilidade e cerca de trezentos sargentos foram transferidos para o Exército.
    Saliento o facto de que foram sempre observadas todas as regras da disciplina. Após o regresso das duas companhias, todo o material de guerra foi entregue nas respectivas arrecadações, não se tendo verificado a falta de nenhuma arma.
    Quero ainda realçar a atitude de grande profissionalismo dos sargentos pertencentes à companhia que ocupou a Base de Monsanto, que evitaram o derramamento de sangue perante o ataque dos ” comandos “ (que poderiam ter aniquilado), deixando-se aprisionar e , assim evitar um guerra civil.

    Por poderem existir vários 25 de Novembro, aqui te envio , resumidamente, o meu…

    Com um grande abraço

    Albano Manuel Raposo Pinela, na altura capitão páraquedista

  10. José António Neves

    Um depoimento de grande valor para a história do 25 de abril.
    A sucessão de factos que só depois de conhecidos permitem o esclarecimento de diversos episódios, mal compreendidos por quem não participou nesses acontecimentos. Mais uma vez, aliás na continuação da primeira parte, o depoente exibe um carácter sem mácula e assume integralmente as suas fortes convicções. É gratificante conhecer pessoas assim!
    Um forte abraço,
    JAN

  11. António Araújo

    Deliciado por, finalmente, eu ter mais alguma informação sobre as peripécias pós-revolução ditas e analisadas por quem as viveu, concebeu ou acidentalmente testemunhou. E mais cativante se torna por essa informação ser protagonizada por um homem por quem nutro um profundo respeito profissional e uma marcante estima pela grandeza do seu carácter.
    Castro Carneiro, capitão, major, tenente-coronel ou coronel, sempre se impôs pelo respeito e admiração que lhe tiveram os seus subordinados e comandados. Mestre na arte de seduzir, como na arte de comandar pelo exemplo e pela exigência, mostra-nos na entrevista, que o tempo tudo resolve ou há-de resolver, mas mais vale que as verdades, as mentiras e mesmo as omissões, não fiquem enterradas para sempre com quem as testemunhou e, ou praticou.
    Um obrigado “meu coronel”.
    Um abraço meu caro, amigo e mestre, Castro Carneiro. Bem-haja.

  12. José Adelino Carneiro

    Penso que novamente serei o primeiro a comentar a minha própria entrevista. Desta vez não para dela falar, mas para vos transcrever um mail do meu irmão, que me comoveu.
    Como Declaração de Interesse tenho que dizer que se o grego Demetrio de Falero (350 AC-280 AC) tem alguma razão e se ‘um irmão pode não ser um amigo’, o meu irmão está infinitamente longe de o não ser.
    Diz ele e passo a citar:
    «Olá.
    Grande entrevista, que deve ser cuidadosamente preservada, no mínimo, para memória histórica.
    Imagino que tenhas acrescentado mais alguns anticorpos (já que estamos em pandemia).
    Só te faltou dizer, para eu também entrar na história, que no dia 24 ao fim da tarde, foste a minha casa a 5 de Outubro e me pediste que se te acontecesse alguma coisa, cuidar da tua mulher e dos teus filhos.»
    Fim de citação e acrescento: acredito que a generalidade dos capitães de Abril o tenha feito, ou no mínimo o tenha pensado, já que nem todos terão um irmão como o meu.
    Julgo que nenhum de nós pensou como diz o Cor Filipe Lopes, capitão de Abril do meu curso, que “o jogo era a feijões”…

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