José Lopes
Resistir presencialmente à covid-19 em meio escolar, num estranho braço de ferro para adiar fechar escolas, quando se vive o pior cenário da pandemia do novo coronavírus. Mais do que os custos no futuro, que podem resultar das perdas nas aprendizagens, agravando-se no caso dos alunos com Necessidades Educativas Especiais (NEE), e consequentemente da inviabilização dos mínimos de igualdade de oportunidades que a escola pública deve garantir como determinante suporte socioeconómico, ou, deixar arrastar uma decisão cada vez mais inevitável (quando se escreve este texto), como é fechar as escolas para um confinamento mais coerente. Só pode ser por razões meramente economicistas.
Tanto pelos custos, no caso dos alunos até aos 12 anos para ficarem em casa acompanhados, como pelo atraso no cumprimento integral dos investimentos no âmbito da escola digital, nomeadamente na distribuição de computadores e sistemas de acesso à internet, que voltam a fazerem-se sentir, quando o recurso à escola à distância está de novo aí, não só para os alunos do ensino secundário a quem se destinou a fase inicial de distribuição de material informático.
Em todo o mundo a pandemia do novo coronavírus surpreendeu as comunidades escolares e educativas, quando decorria o segundo período do ano letivo 2019-2020, afetando os sistemas educativos com o fecho das escolas, como resposta ao avanço da covid-19 através de confinamento e estados de emergência, que exigiram aulas à distância com recurso a diferentes estratégias e modalidades digitais, cujos verdadeiros impactos nas aprendizagens e competências dos alunos estão ainda por avaliar em toda a sua dimensão, quando, quase um ano depois, fechar ou não fechar as escolas, volta a estar em discussão, num momento em que Portugal se defronta com a pandemia num preocupante crescimento, ao atingir no decorrer do mês de janeiro, alguns dos piores registos de novos casos diários, com 219 mortos e 14.647 novos infetados (20/01/21), refletindo-se estes números em cenários dramáticos com a rutura na capacidade de resposta dos hospitais do SNS e a hesitação na requisição civil dos privados.
Com a 3.ª vaga da covid-19 a acossar a Europa, em que se sucedem medidas sanitárias em detrimento da economia. Por cá, depois do regresso ao ensino presencial para o início de um novo ano letivo com a normalidade possível, ainda que, com medidas incipientes e contraditórias para lidar com a pandemia, incluindo meios humanos ou o ambiente em sala de aula com dois alunos por carteira sem o devido distanciamento. Mas também a ausência de testes a docentes e não docentes, que deixam as comunidades escolares e educativas entregues à sua sorte na gestão de casos covid-19, entre negativos e positivos que se vão sabendo pelos corredores ou pelas salas de aula com turmas que acabam por ficar reduzidas devido aos alunos em quarentena e positivos.
A pandemia volta a surpreender, mais pelo braço de ferro que opôs o Governo aos especialistas no que toca ao fecho das escolas. Pressão que fez o primeiro-ministro António Costa reconhecer que podem vir a ficar em casa os alunos mais velhos (3.º ciclo e secundário), admitindo mais tarde, poderem vir a fechar escolas se a estirpe inglesa for dominante nas novas infeções. Até lá as escolas tentam antecipar cenários, adaptando-se à conjuntura e à imprevisibilidade das próximas semanas, tirando lições da anterior experiencia do ensino à distância e dos recursos usados, bem como dos poucos disponíveis, nos casos do 2.º e 3.º ciclo e secundário.
Estes são reais custos para fechar as escolas, que poem a nu a desigualdade no acesso a recursos digitais das famílias. Realidade que sustenta a posição e vontade do Governo para que a atividade escolar possa decorrer dentro da normalidade. A normalidade da falta de investimentos desde logo o prometido programa de Transição Digital, deixando as escolas dependentes do desatualizado e “velhinho” Plano Tecnológico da Educação (PTE), do governo de José Sócrates implantando um computador e um projetor por sala de aula, e ainda o abandonado projeto “Magalhães” no 1.º ciclo.
Enquanto se mantem o braço de ferro cada vez mais desacreditado e fragilizado no que toca à intenção do Governo de manter as escolas abertas, quando só vai mantendo disponibilidade para serem os alunos do 3.º ciclo e ensino secundário, os primeiros a ficarem em casa, com o argumento destes serem mais autónomos, naturalmente, também no capitulo dos custos com idades superiores aos 12 anos, mesmo admitindo que estes alunos mais velhos são capazes de lidar melhor com as consequências da pandemia e com as aprendizagens à distância. T
odas as preocupações estão centradas nos números de novos casos covid-19, que todos os dias aumentam de forma galopante, tal como em vários outros países, e que podem determinar, mesmo contra a vontade do Governo, o inevitável fecho das escolas dos diferentes ciclos de ensino básico, como solução mais adequada para um efetivo confinamento, ainda que em prejuízo da economia, porque as vidas não se recuperam.
Este cenário, que já pode ser real quando este texto for publicado, o que lamentavelmente poderá significar, que o quadro das consequências de novos casos covid-19 se agravaram mesmo num país que apesar de tudo, das contraditórias e inconsequentes medidas de combate à pandemia, nomeadamente no reforço atempado dos meios ao nível da Saúde, incluindo a fragilidade laboral de que continuaram vítimas os trabalhadores, não assentaram numa lógica negacionista, o que certamente deixaria o país num estado bem mais dramático, apesar de tudo.
01fev21