Bruno Ivo Ribeiro (*)
Nas vertentes do silêncio reina a noite, e nas esteiras da vida ponho a secar o meu corpo.
Esfrego o sangue preso à carne, e como se me flagelasse contra as pedras do rio que corre, lavo na água corrente a humanidade em mim.
Sai o rubro e entra o céu.
A água transparente, fresca e fria, compele-me em estertores vagarosos que me anunciam.
A alma minha já em mim não entra. Sou resto de céu a desvanecer-se em mortalhas de cinza.
No estendal estou.
Ao sol fiquei.
De corpo seco e alma limpa, visto-me de mim mesmo e toco a vida.
Acendo uma candeia ao pensar em escrevê-la, e com ela dou luz ao sonho e acalento a jornada.
Faço-me à estrada sem mochila às costas, e pé ante pé sou cada vez mais eu.
Todo.
Eu Todo.
O espírito que me habita beija as flores, e o âmbar que me percorre doura as artérias.
Tenho ossos frescos e a carne quente, tenho o peito ardente e a mente em paz. E com a cabeça fresca e o coração quente, estugo o passo e principio uma corrida surda, mas alegre, sobre as ondas sussurrantes que me vêm perscrutar o passo ao ritmo do compasso das areias do tempo.
Uma praia que não sou, um mar que me não habita, eis o sonho de tudo e eis a existência de nada.
As flores que vejo ao longe acenam-me por entre os liames das treliças, e a brisa, essa tão pura, varre-me os cabelos com o mesmo amor com que creio na sua existência.
São horas de uma nova aurora, são dias de uma nova jornada.
Visto-me.
Dispo-me.
Cubro-me.
Retiro-me.
Dou Luz aos astros, e os astros são Luz em mim.
Encontro-me.
Descubro-me.
E vestido de mim e despido de ego, dou horas aos passos de haver dia, e caminho ante Fósforo, com o olhar marejado e o sorriso posto.
O passo é firme, a determinação é forte, tão certo estou sobre isto como certa é a morte.
(*) texto e foto
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01mar21