Foi a última excursão realizada pelo “Etc e Tal” a Santiago de Compostela, onde costumávamos nos deslocar de dois em dois anos, como que numa “peregrinação”, pelo facto de, precisamente com esse destino, se terem iniciado os passeios por este jornal organizados, e que, até agosto de 2020, foram 38. Mas, a pandemia tem impedido a realização de mais iniciativas do género, não sabendo, a organização, ao certo, quando é que o programa de passeios será retomado.
Portanto, e como não podemos, de momento, sair em excursão, recordamos, então, esse passeio a Santiago de Compostela, realizado, a 10 de junho de 2018, aquando do quarto aniversário deste departamento de viagens do “Etc e Tal”.
Lurdes Pereira
(texto e fotos)
É um dos epicentros religiosos mais concorridos pelas comunidades, não só movidas pela fé como também por toda a arte da pedra talhada que envolve o ex-libris da cidade com o mesmo nome do padroeiro, Santiago de Compostela. O seu interior guarda o túmulo de Santiago Maior que foi um dos apóstolos de Jesus Cristo, e que esteve presente nos momentos mais importantes da sua vida. É a chegada a este túmulo que marca o fim da peregrinação dos Caminhos de Santiago, ou Via Láctea, percursos que se ramificaram de toda a europa.
Segundo uma tradição medieval, o lugar do sepulcro, identificado pelo bispo como sendo de Santiago, deu origem à atual catedral. Foi esta descoberta que contribuiu para o nascimento deste lugar como um dos mais importantes de peregrinação com sete rotas históricas sinalizadas por setas amarelas: o Caminho Francês, o Caminho do Norte, a Vía de la Plata, a Rota Marítimo fluvial, o Caminho Inglês, o Caminho Primitivo e o Caminho Português. Todos eles entroncam em solo espanhol com ponto final nesta Catedral.
Ergue-se ao fundo de um grande terreiro, depois de um rendilhado trabalho de ferro e um escadório, a imponente construção datada do início do séc. XI, a catedral de Santiago de Compostela. Predomina o românico, ladeada por duas torres do período Barroco. Nesta profusão de estilos ostentam belíssimos detalhes na fachada a contrastar com a robustez pesada do edifício, onde as arcadas, como em toda a cidade, são uma constante.
Não é por acaso que a fachada principal é denominada por Obradoiro. De facto, ela apresenta um trabalho de ourives majestoso, equilibrado, centrado e pormenorizado do séc. XVIII. O pórtico da Glória do séc. XI suporta três colunas figuradas por ilustrações bíblicas.
Na mesma Praça do Obradoiro, o Parador de Santiago é hoje um luxuoso Hostal dos Réis Católicos.
O Centro histórico conserva a identidade de uma cidade que emergiu em tempos em que a riqueza do pormenor se esculpia em cada pedaço de pedra. Constrói-se num espaço de vielas estreitas a culminar em terraços onde centralizam fontes e estátuas de figuras ilustres como Miguel de Cervantes Saavedra. A cidade leva-nos a viajar até ao período medieval. O simbolismo da concha afirma-se em cada pormenor. Arcadas, coroas, esculturas, igrejas e capelas, nichos, gárgulas e brasões, e tantos outros pormenores se podem comtemplar na cidade ilustre, sublime, acolhedora e pitoresca.
O Parque da Alameda é uma mancha verde coroada de elegância. Enriquecido por capelas e um coreto rendilhado em Arte Nova a combinar com os majestosos bancos duplos. “As duas Marias”, conhecidas pela sua excentricidade, fazem parte da decoração deste maravilhoso espaço, pulmão de Santiago. Percorrendo os jardins, estátuas e lagos, as aves de requinte também souberam escolher este espaço para palácio de habitação. Mais à frente, numa grande clareira redonda balizada por típicos bancos de jardim, muitos disfrutam a natureza, na hora da sesta, trocando conversas simpáticas entre os demais.
No entanto, nenhuma narrativa poderá descrever tanta beleza e explorar tantos pormenores. Seria necessário olhar em cada canto a riqueza que nas pedras o homem imprimiu. Valemo-nos das imagens, nossas fiéis amigas que nos arquivam memórias intemporais.
Com os minutos a contar, rumo a Tui. A Catedral do séc. XII, românico, destacada na iconografia dos capitéis, está recheada também de elementos góticos. Na fachada entalha-se com um tímpano gótico representando a Adoração aos Reis Magos.
A cidade medieval regista a história sob arcadas quebradas oferecidas pela arte gótica. Também nesta cidade muitos pormenores estão ligados à monarquia. Uma cidade bela que não escapou à contemplação dos olhares da serra. Já na despedida, um olhar de soslaio sobre o rio Minho que, na sua passagem serena por Tui, já nos oferece, na hora do regresso, um cheirinho a Portugal.
01jul18
01mar21