Bruno Ivo Ribeiro (*)
Do lado de cá do arco de proscénio há uma realidade que nos tolhe, e do lado de lá da plateia do sonho, habito num meio-termo de existência.
Um acordeão, serenamente, sussurra os seus segredos ao sol do luar, e tem por cada estrela um fã.
Ergo o cálice de vinho e entorno-o sobre a mesa.
Ergo um suspiro, e os castiçais tangem-me a pele.
São só cristais nesta noite de brilho, são só brilhos nesta noite de cristal.
A rondada, compassada, tão triste quanto frugal, vai de leste a correr contemplar o pôr-do-sol. Só a música salva a turba, só o vinho nos sucumbe.
A alegria versada por essa valsa em minuete, é a reciprocidade de um reflexo que se quer tornar realidade.
Neste plano do suspiro circunvolvo-me, e deste riso amargurado teço minhas vestes.
De mim sou pândego, em mim sou solitário.
O vinho derramado precipita-se da mesa para o chão.
Pinga.
Pinga
Pinga.
Pin
ga
P…
Já não escorre mais.
O acordeão ainda se faz ouvir.
Com ele o sonho faz floreados.
O acordeão inebria-nos…
O vinho fomenta a homeostasia decrépita e decadente.
E se no final destes suspiros, o plano em que habito continuar a existir…
Então…
Bienvenu à ma chambre
Oú la musique n´existe pas.
(*)Texto e foto
01abr21