Weihua Tang
Que felicidade! Voltamos novamente a ter aulas presenciais, após três meses de ensino à distância. Contudo, os acontecimentos da aprendizagem, durante o recente “confinamento”, são-me dificeis de esquecer…
Como não podia ir à biblioteca da FLUP, pedi à minha amiga portuguesa que me emprestasse os seus livros para aproveitar o meu tempo livre em casa. Aliás, consegui acabar de ler os primeiros seis livros com rapidez e facilidade. Porém, quando comecei o sétimo livro – “O Som e a Fúria”, surgiu um grande problema na minha leitura…
William Faulkner, o autor ilustre deste romance, recebeu o Prémio Nobel de Literatura, em 1949. A sua grande obra “O Som e a Fúria”, foi publicado pela primeira vez em 1929. De facto, encontrei algumas confusões, logo no início, por causa de tais personagens neste livro. E no caminho da minha leitura, repentinamente, apareciam várias páginas cheia de letras minúsculas, ou seja, nas quais, não havia uma única pontuação. Além de ficar estranha e perturbada, ficava completamente perdida e duvidosa do meu nível de português. Dadas as circunstâncias, ocorreu-me a ideia de deixar de ler o livro. Metaforicamente, “O sabor é como se estivesse a mastigar uma vela”, dizendo a expressão idiomática chinesa. Até que, um certo dia, recebi uma mensagem de um aluno que me impressionou profundamente.
– “Olá professora,
Não tenho internet nesta semana…Mas tenho chamadas de telefone gratuitas, se der para ouvir a aula por chamada em alta voz.”
– “Está bem. Podes ligar-me às 19h30.” – respondi de imediato, mesmo que me parecesse uma “incógnita” óbvia.
Embora o meu aluno não tivesse a mínima condição de participar na aula online, ele não queria desistir, pelo contrário! Este aluno juntou-se à nossa aula, apenas pela chamada telefónica, durante cento e vinte minutos. Imaginem! Para não o deixar sentir-se “esquecido”, por vezes, pedia-lhe que participasse connosco na realização dos exercícios. Ainda por cima, uma língua estrangeira tão complicada e tão difícil como a língua chinesa. Todavia, a sua persistência transpõe qualquer obstáculo. É admirável e inacreditável, não acham?! Sem dúvida, esta novidade foi realmente uma experiência de ensino comovente e inesquecível, na minha vida em Portugal.
Citando um provérbio português: “Não é a força do gotejar da água que fura a pedra, mas sim a persistência incansável desta ação”.
Comparado com a atitude positiva e o espírito da aprendizagem do meu aluno, senti-me um bocadinho envergonhada quanto à minha irracionalidade de enfrentar a dificuldade na leitura. No entanto, falei com a amiga portuguesa para me explicar as causas das páginas sem pontuação no livro. De facto, é o estilo da escrita antiga da língua portuguesa. Por isso mesmo, custou-me imenso entender o conteúdo do romance.
Fosse de que maneira fosse, acalmei-me e esforcei-me para continuar a apreciar o romance. De vez em quando, aquela imagem única de “ouvir a aula” aparecia no meu pensamento, enquanto folheava o livro…
Charles Chaplin dizia: “A persistência é o menor caminho para o êxito”.
É verdade! Não desista nunca, a persistência e a vontade de vencer leva qualquer um à vitória!
Foto: pesquisa Web
01mai21
Mais um texto maravilhoso
Obrigada querida professora. ??????